13 milhões vivem abaixo da linha da pobreza na Inglaterra

Sugerido por Antonio Carlos Silva

Da Carta Maior

Reino Unido tem 13 milhões na pobreza; cresce procura por bancos de alimentos

Em 2011-2012, 128.697 pessoas recorreram a estes bancos. Em 2012-2013, a cifra quase triplicou: 346.992. Já há mais de 400 bancos de alimentos no país. 

Marcelo Justo 

Londres – É a sexta economia mundial, origem da revolução industrial, ex-império que dominou o mundo tem cerca de 13 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza. Com um duro plano de austeridade que está socavando lentamente o Estado de Bem estar, salários estagnados, explosão do emprego temporário e de meio-turno, muitos têm que recorrer aos bancos de alimentos das ONGs no Reino Unido.

Fundação Trussell Trust tem mais de 400 bancos de alimentos em todo o país. O impacto do programa de austeridade aplicado pela coalizão de conservadores e liberais democratas desde 2010 é claro. Em 2011-2012, 128.697 pessoas recorreram a estes bancos. Em 2012-2013, a cifra quase triplicou: 346.992. “Há muita gente que come uma vez ao dia ou tem que escolher entre comer e acionar a calefação em pleno inverno”, disse à Carta Maior o diretor da Trussel Trust Chris Mould.
Os especialistas medem a pobreza em termos absolutos (virtual incapacidade de sobrevivência) e relativos (em relação à renda média e às expectativas de uma época). Hoje em dia não ter uma geladeira é um indicador de pobreza; em 1913, data de invenção da geladeira doméstica, era um luxo. Segundo o Trussel Trust, um de cada cinco britânicos se encontram hoje em situação de pobreza relativa ou absoluta. “É fácil esquecer que se pode cair muito rápido nesta situação. Uma demissão, uma conta muito alta de eletricidade, uma redução dos benefícios sociais, um drama familiar e essas pessoas ficam sem nada”, explica Mould.

Esta pobreza se estende para além do desemprego. A atual taxa de desocupação de 7,7% (2,5 milhões de pessoas) encobre um panorama social complexo. Quase um milhão e meio de pessoas tem trabalhos de meio turno e com salários baixíssimos que geraram o movimento pelo chamado “living wage” (salário digno).
 
O percentual de subempregados (que desejariam trabalhar mais se pudessem) aumentou de 6,2% em 2008 para 9,9% hoje. “A maioria da ajuda estatal não vai para os desempregados, mas sim para pessoas que estão subempregadas ou têm salários muito baixos. Muitas vezes pela própria instabilidade destes trabalhos as pessoas entram e saem de situações de extrema necessidade”, diz Mould.

A esta pobreza de receita se somam outras formas no Reino Unido, como a chamada “pobreza energética” dificilmente visualizada na América Latina seja pela diferença climática ou porque ainda não foi conceitualizada. Este nível de pobreza afeta cerca de 3,4 milhões de pessoas (cerca de 6% da população) que tem que gastar mais de 10% de suas receitas para “manter um nível adequado de calefação” durante os cinco meses ou mais de duração do inverno britânico. Muitos não têm escolha e deixam a calefação desligada porque não podem pagar as contas.

Um caso particular

Uma britânica que não pode ligar a calefação no inverno é Geraldine Pool, de Salisbury, sudoeste da Inglaterra, diagnosticada com depressão, divorciada, com um filho e sem trabalho. A Carta Maior conversou com Pool, um caso típico do impacto devastador que a austeridade está tendo em muitas vidas. “Em 2011 perdi meu trabalho em uma biblioteca pública pelos cortes do governo. Desde então, busquei trabalho em administração, supermercados, seja o que for, mas é muito difícil para alguém com mais de 50 anos porque sempre preferem os mais jovens”, disse Pool.

O Estado paga a ela 61 libras semanais (99 dólares) a título de seguro desemprego e fornece assistência habitacional. “Não é suficiente. Se uso a calefação, as contas sobem para quase 300 libras semanais”. Neste momento não tenho água quente. Tenho que esquentar a água para me lavar”, explica Pool.

Pool tinha ouvido falar dos bancos de alimentos, mais foi por causa de sua médica do Sistema Nacional de Saúde que acabou indo a um. “Não queria recorrer a isso. Mas foi fundamental. Com os “vouchers” (vales) me deram latas de carne, peixe, massa, leite, açúcar. Umas seis semanas depois, no último Natal, tive um segundo pacote muito completo de alimentos”, assinalou à Carta Maior.

Os Bancos de Alimentos procuram trabalhar muito perto da comunidade e funcionam com as contribuições voluntárias da população e, em muito menor medida, de supermercados ou fazendeiros. “Cerca de 95% dos alimentos que temos vem das pessoas a quem pedimos que adquiram dois itens adicionais em um supermercado que sirvam para uma nutrição balanceada”, informa Mould.

Os bancos se conectam com figuras chave da comunidade em consultórios médicos, hospitais, serviços sociais, igrejas e, em alguns casos, da polícia que identificam as pessoas que podem necessitar estes vales para ter acesso a um pacote de alimentos. Em um caso raro de sensibilidade social, a polícia de Islington, no norte de Londres, não prendeu um jovem que havia tentado roubar pão e ovos de um mercado, após passar dias sem se alimentar direito. Quando a pessoa em questão, Adam, relatou seu drama o levaram ao banco de alimentos onde, segundo o testemunho dos próprios policiais, começou a chorar.

A Trussell Trust calcula que necessitará uns “200 ou 300 bancos de alimentos mais” para cobrir todo o Reino Unido, mas é consciente que, com toda sua boa vontade, funciona como um paliativo: necessário, muito útil, mas insuficiente. “Nós intervimos nestes momentos de emergência e se for necessário ampliamos nossa assistência. Mas o que é preciso é uma política social para o emprego, a habitação, salários dignos e estímulos ao crescimento. Devido a todos os cortes que ocorreram, estamos inundados de trabalho”, apontou Mould à Carta Maior.

Redação

16 Comentários

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  1. A linha de extrema pobreza no

    A linha de extrema pobreza no Brasil é de R$70,00 por mês. Na Feanca, de 950 euros por mês. Então, cuidado ao comparar dados da Europa com o Brasil.

    1. Relativo

      O aluguel será que lá é mais barato. Ou o quilo de fruta?

      Tudo é relativo. O pobre brasileiro talvez seja mais feliz com 70 reais que o europeu com os 950 euros.

      De qualquer modo, é um mico para uma nação que é considerada super-potência.

       

    2. Morrer de fome ou frio

      Independente do tamanho da linha da pobreza, a questão é que um percentual enorme da população da sexta maior economia mundial é obrigada a escolher entre passar fome ou morrer de frio, pq não consegue bancar a comida e a calefação ao mesmo tempo. E lá o inverno é brabo e dura cinco meses. E a fome é fome em qualquer lugar.

    3. Pobreza é pobreza, e tudo que isso significa, não importa o país

      A própria reportagem responde ao seu alerta, a senhora recebe a título de seguro desemprego 60 libras por semana, o equivalente a 99 dólares, no entanto, se a mesma o usar a calefação a conta de energia vai para 300 libras por semana, será que não estamos falando de um mesmo nível de pobreza, e talvez até pior?!

    4. Complexo de Vira-lata

       

      Qual  é  população da frança,   o Brasil  é uma população de 200  e   de  dimensoes  continentais, alias temos  500 anos de história.  Nâo preciso  de dizer mais nada, o problema é   o complexo de vira-lata ,,   alguns brasileiros precisam se libertar desta coisa  que o colonizador persudiu.     Esses brasileiros   de baixo  estima, sempre  compara  posições  que  não  são  compativeis  e nem  contribui para  melhorar  isso aqui.    

       

    5. Complexo de Vira-lata

       

      Qual  é  população da frança,   o Brasil  é uma população de 200  e   de  dimensoes  continentais, alias temos  500 anos de história.  Nâo preciso  de dizer mais nada, o problema é   o complexo de vira-lata ,,   alguns brasileiros precisam se libertar desta coisa  que o colonizador persudiu.     Esses brasileiros   de baixo  estima, sempre  compara  posições  que  não  são  compativeis  e nem  contribui para  melhorar  isso aqui.    

       

  2. Quase 1/4 da população do país

    Isso equivale a quase 25% da população total da Inglaterra (53 milhões). Não é brincadeira. Para um país-potência é fácil imaginar que, no outro extremo, poucos caras devem ter muito.

    Quem sabe eles precisariam, também, de médicos cubanos.

    Aliás, Nassif, tenho ouvido relatos impactantes de gente amando a atuação dos médicos cubanos no Brasil.

  3. Capitalismo para inglês ver.

    Prezados e prezadas,

    Bem, falar que o capitalismo do Haiti ou da República Centra Africana não deu certo é tolice. Todos sabemos (embora alguns finjam que não) os motivos: elites locais associadas aos centros capitalistas mundiais para drenar riquezas nacionais destes locais, como em todo resto do mundo. E estas alianças ou são “voluntárias” ou impostas pela força das armas e da instigação de conflitos regionais e internos.

    Mas como dizer que o capitalismo na Inglaterra não deu certo?

    É algo que a gente nem sabe muito bem como fazer, resistindo sempre a ironia ou aos juízos simples.

    Na verdade, enganam-se os que imaginam que há algo errado. Muito pelo contrário, seus ciclos de crises conjunturais (como 1998), associados as rupturas estruturais (como 1929 e 2008) redesenham as formas de acumulação, inaugurando novas fronteiras de desigualdade, seja na periferia, seja nos centros do mundo.

    O problema é que estes “ajustes” no centro acabam quase sempre em conflitos sangrentos.

    Já nas periferias, amortecidas pela pobreza perene, as formas de violência não ameaçam o equilíbrio internacional, e quase sempre se voltam para dentro das fronteiras.

    Porém, não se assustem: está tudo correndo como planejado.

    Dentro em pouco, novo ciclo de expansão e desenvolvimento virá, e eles nos convencerão de que gerar riqueza é a mesma coisa que gerar prosperidade.

    Saudações a todos.

    1. Obelix, o governo é o comitê

      Obelix, o governo é o comitê executivo da classe dominante.

      Muito ideologicamente marxistas seus comentários.

       

      1. 187% ideologicamente marxista.

        Prezado Senhor,

        Acho que ainda tenho o direito de fazer minhas escolhas ideológicas, ou não?

        O Senhor imagina que seus comentários estejam a salvo das suas escolhas ideológicas, ou o Senhor é daqueles que tentam nos convencer que participa do debate sem fazê-las?

        Peço-lhe um favor: não confunda sua instabilidade teórica com ausência de ideologia, não caia nesta armadilha de acreditar e viver o personagem que o Senhor criou para debater. Isto torna as coisas cansativas e improdutivas.

        E sobre o que escrevi, onde o Senhor apontaria erro ou incorreção?

        Sempre à disposição,

        Cordialmente.

  4. Há uns três anos, estive por

    Há uns três anos, estive por lá de férias. Fiquei chocada com a tristeza estampada no rosto de muitas pessoas e com a generalizada falta de dentes em suas bocas. Acho que o custo de um tratamento dentário deve ser proibitivo.  Em Londres, me deparei com várias pessoas mentalmente doentes, que gritavam do nada e começavam a chorar em plenos lugares públicos, vi briga de rua (pancadaria mesmo, com dois grupos se enfrentando no braço) e apenas em duas ocasiões eu avistei a polícia: numa delas, o carro passou a toda por mim e noutra, um casal de policiais caminhava ali pela rua dos teatros, por volta das 20h. A sensação que tive foi de um grande desalento entre as pessoas. A maioria olhava sempre para o chão, e custava a dar um sorriso (talvez pela vergonha de mostrar uma boca quase sem dentes, sei lá), Em geral, os serviços eram prestados por poucas pessoas, que achei superexploradas e exauridas (em lojas, bares, restaurantes, hotéis). Voltei tremendamente decepcionada, mas senti um grande alívio porque finalmente havia visitado o túmulo de Karl Marx no cemitério de Highgate, prestando-lhe uma singela homenagem. A sua atualidade é muito impressionante!

  5. DESIGUALDADE SOCIAL NO MUNDO MODELO

    E ainda tem pessoas capazes de dizer que tudo está errado em nosso país, com as proporções continentais que possuímos, com o número muito maior de habitantes e o mais importante ao meu ver, apenas 500 anos de história entruncada com tantas culturas diferentes.

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