A alta dos preços e a balança comercial

Do Valor

Sem alta de preços, país teria déficit em 2010 

Sergio Lamucci | De São Paulo
28/01/2011 

Os termos de troca brasileiros melhoraram 16% em 2010, atingindo o nível mais elevado da série iniciada em 1978, graças à forte alta dos preços de exportação, de 20,5%, e ao aumento modesto das cotações de importação, de 3,8%. Sem o ganho em relação a 2009, a balança comercial do ano passado teria mostrado um déficit de US$ 7,2 bilhões, em vez do superávit de US$ 20,3 bilhões efetivamente registrado, segundo cálculos do J. P. Morgan. Os termos de troca refletem a relação entre os preços de exportação e os de importação. Para este ano, os analistas esperam um novo ganho, mas menos intenso do que o do ano passado.

O aumento de 16% de 2010 é muito forte, superando a alta de 13,9% acumulada entre 2004 e 2008, quando a economia global cresceu muito e as cotações de exportação avançaram com força. A questão é que, nesse período, os preços de importação também cresceram a uma velocidade considerável. Um exemplo é o que ocorreu em 2008. As cotações das vendas externas subiram 26,3%, mas os preços das compras aumentaram 22%, o que limitou os ganhos dos termos de troca a 3,5%. 

JaemJá em 2010 a combinação foi extremamente favorável ao Brasil, como destaca o economista Júlio Callegari, do J. P. Morgan. Os preços de produtos que o Brasil mais exporta tiveram altas significativas, principalmente por conta da disparada das commodities, num cenário de forte demanda chinesa e ampla liquidez no mercado internacional. As cotações das vendas externas do setor de extração de minerais metálicos subiram 75% em 2010, segundo números da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex). É nesse segmento que se encontra o minério de ferro, responsável por 14,3% das vendas externas do país no ano passado. Já os preços de importação dos produtos químicos – o grupo com maior peso na pauta das compras externas – tiveram queda de 0,7% em 2010. Houve também uma ajuda dos produtos manufaturados, como máquinas e equipamentos, que viram as cotações de importação recuar 6%.

“O resultado dessa combinação foi um forte ganho dos termos de troca, o que garantiu um bônus para a balança comercial”, diz Callegari. Graças ao desempenho dos preços, o saldo comercial encolheu relativamente pouco, passando de US$ 25,2 bilhões em 2009 para US$ 20,3 bilhões em 2010, ainda que o volume importado tenha crescido 37%, quase quatro vezes mais que rápido o exportado.

Para 2011, Callegari acredita que os termos de troca terão alta de 4%. Ele trabalha com alguma queda dos preços de commodities agrícolas ao longo do ano, ao mesmo tempo em que acredita num comportamento menos benigno dos preços de importação. As cotações dos manufaturados importados não devem ficar tão baixas, enquanto as de produtos como combustíveis, fertilizantes e produtos químicos tendem a subir mais.

O economista Fábio Silveira, sócio da RC Consultores, também acredita em nova alta dos termos de troca. Para ele, os preços da soja devem avançar mais 10% neste ano. Silveira, porém, mostra preocupação com o fato de o saldo comercial depender tanto dos preços de commodities. Segundo ele, a expansão dessas cotações nos últimos meses se deve mais a um movimento especulativo, dada a ampla liquidez no mercado internacional, do que à demanda chinesa ou do nível baixo dos estoques. “É preciso ter consciência da vulnerabilidade a que estamos expostos.”

Em 2011, as commodities que o Brasil mais exporta seguem em alta expressiva. Neste mês, até o dia 26, os preços do açúcar tiveram um aumento médio de quase 5% em relação a dezembro do ano passado, e os da soja, de 5,4%.

O economista Fábio Ramos, da Quest Investimentos, acredita que os preços de commodities seguirão pressionados, ajudando a engordar os termos de troca. O problema, segundo ele, é que a balança se mantém num “equilíbrio instável”, devido à volatilidade das cotações de produtos primários.

Callegari, que também vê riscos numa balança comercial tão sustentada em preços de commodities, projeta superávit de US$ 12 bilhões em 2011. Há alguns meses, antes da nova onda de alta desses produtos, ele esperava algo próximo de zero. Silveira também projeta US$ 12 bilhões, depois de já ter estimado saldo de US$ 5 bilhões. 

Luis Nassif

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