A ascensão de O Globo e a crise irreversível da mídia, por Luis Nassif

Os últimos dados de circulação dos jornais brasileiros, segundo estudos do site Poder360 com base nos dados do IVC (Instituto Verificador de Circulação), trazem informações relevantes.

  • Pela primeira vez, desde os anos 80, a Folha perdeu a liderança total  (impresso + digital) para O Globo e a liderança de impresso tanto para O Globo quanto para o Estadão.
  • O impresso caminha para a extinção.
  • Com exceção de O Globo, as assinaturas digitais não compensaram a queda dos impressos.
  • A queda da tiragem é o menor dos problemas dos jornais.

É interessante entender o que está por trás desses números e seus efeitos recentes sobre o jornalismo brasileiro.

Na primeira metade dos anos 2.000, Roberto Civita importou o discurso de ódio da ultradireita americana, veio descoberto pela Fox News, de Rupert Murdok. A imprensa brasileira foi atrás e inaugurou a pior fase de sua história moderna, praticando um jornalismo de guerra que atropelou todas as normas do bom jornalismo.

Houve uma pasteurização dos jornais em torno do mesmo discurso, acabou-se com a diversidade relativa de opiniões e até com a diversidade de pautas. Lendo um jornal, liam-se todos. Criou-se um mercado para cronistas do ódio, ao qual se candidataram desde colunistas culturais a políticos e celebridades menores.

Os jornais se tornaram indiferenciados. O resultado foi a perda de vitalidade, a queda nas vendas, e a perda de credibilidade junto ao público formador de opinião. Todos se acomodaram com sua posição em um mercado que se reduzia a cada dia.

Dia a dia passaram a alimentar o novo público da ultradireita, que emergia das profundezas, com discurso de ódio e mensagens conspiratórias sobre o perigo vermelho. Até que a malta ganhou vida e migrou definitivamente para as redes sociais. Só aí, a mídia se deu conta de seu erro estratégico.

O impeachment de Dilma fechou o ciclo do jornalismo de guerra. A extrema impopularidade de Michel Temer começou a abrir as comportas da diversificação. E a disputa mercadológica voltou a imperar com os jornais não apenas retomando a disputa, entre si, mas principalmente contra o caos informativo que eles próprios ajudaram a disseminar.

As mudanças de O Globo

Coube O Globo partir na frente.

Aqui no GGN entendemos de pronto o modelo perseguido pela nova direção. Em lugar do jornalismo de ódio, uma nova fórmula, uma espécie de modelo Piauí (da revista), de liberal inglês, liberal nos costumes, conservador na economia e elegante no texto.

Com as mudanças no comando, saíram colunistas raivosos e editores comprometidos com os porões, e foram contratados novos atores, retomando o figurino da diversidade que marcou os anos 90. Esse arejamento pegou não apenas O Globo, mas também a Época e a CBN.

Foi curiosa a reação da frente do ódio. Na Jovem Pan, Augusto Nunes ameaçou os novos editores de O Globo, devido à demissão de um de seus iguais.

Mas, ali foi um momento de corte. Mostrou que chegava ao final, pelo menos na chamada grande imprensa, a era do jornalismo de esgoto, que ficou restrita a rádios. Em vários veículos,  os raivosos mais talentosos se reciclaram rapidamente e se tornaram legalistas desde criancinhas .

O resultado foi o rompimento da cartelização, com O Globo assumindo a liderança entre os jornais, quebrando uma liderança histórica da Folha.

É essa derrota que explica a ousadia da Folha no ano passado, de bancar corajosamente as reportagens de Patrícia Campos Mello denunciando os fake news na campanha de Jair Bolsonaro.

Nos últimos dias, houve uma mini-guerra de informações em torno dos números. A Folha publicou uma reportagem dizendo que foi a líder do crescimento digital nos últimos meses – certamente impulsionada pela volta de antigos leitores, depois do ato de coragem demonstrado. O Estadão proclamou que se tornou o líder em edições impressas – que caminham para a extinção.

O ponto relevante é que não existe um futuro radioso para nenhum deles. A crise da imprensa tradicional veio para ficar.

O futuro da mídia

Nos últimos anos acelerou-se a migração do leitor impresso para o digital. Internacionalmente, jornais que mantiveram acesos os princípios jornalísticos têm conseguido avançar substancialmente na venda de assinaturas digitais.

Mas o problema principal é outro. Historicamente, a maior fonte de receita dos jornais eram os classificados (ou anúncios locais, para a imprensa regional) e os anúncios nacionais. Na Internet, o modelo é outro. É a publicidade programática e um resto de publicidade dirigida, com um potencia de faturamento muito menor. E, ai, a crise da mídia brasileira se atrela à crise da mídia mundial.

Nos Estados Unidos, a era de ouro dos jornais terminou no final dos anos 80. O apogeu dos jornais brasileiros foi em meados dos anos 90. Grupos como Gannett e Knight Ridder trabalhavam com margens de 30 a 40%. No Brasil não deveria ser muito diferente, embora os números não fossem públicos pelo caráter de empresas de capital fechado.

A maior parte da receita vinha dos classificados, da publicidade local (no caso da mídia regional) e da publicidade nacional, no caso dos jornalões.

Era uma margem tão elevada que, nos EUA, havia piada de que os jornais tinham licença para imprimir dinheiro. Com tal margem, a partir dos anos 80, nos EUA – da segunda metade dos anos 90, no Brasil – os bancos de investimento empreenderam uma ofensiva, oferecendo financiamento à larga para os grupos midiáticos. E eles se endividaram à vontade, em um momento em que a Internet iniciava sua caminhada avassaladora.

No período de bonança, tanto nos EUA quanto no Brasil, as redações não investiram em inovação. Todo investimento tecnológico visava apenas poupar mão de obra.

Em pouco tempo, a Internet acabou com os classificados. Como competir com um veículo com sistemas de busca, fotos dos produtos vendidos? O passo seguinte foi avançar sobre os anúncios nacionais.

Nos EUA, assim como no Brasil, muitos jornais entraram na chamada espiral da morte. Passaram a reduzir as redações, por questão de custo. Com isso caiu a qualidade da informação. Caindo, derrubou mais ainda o interesse do leitor.

No início dos anos 2.000, de 75 a 80% da receita de um jornal típico vinha dos anúncios classificados. As assinaturas respondiam por 10-15% da receita. Investia-se nos assinantes para garantir a rentabilidade dos anúncios. Em dez anos, os jornais americanos perderam 2/3 de suas receitas.

Os gráficos do desempenho comercial dos jornais americanos, publicados por Jeremy Littau – de quem obtivermos as informações acima –  estudioso da mídia local, é pavoroso.

Há uma enorme discussão sobre qual o papel do jornal nos novos cenários tecnológicos.

Mas isso é tema para outro artigo.

 

 

Luis Nassif

26 Comentários

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  1. Caro Nassif, a segunda queda será dos jornais digitais que …..

    Caro Nassif, a segunda queda será dos jornais digitais que economizam na mão de obra qualificada!!!!

    Talvez não tenhas notado, mas jornais digitais, como o GGN terão uma disputa por mercado surda mas real entre órgãos de informação que não se estruturarem para ter os seus próprios profissionais (jornalistas ou estagiarios) que alimentem seus próprios espaços com suas próprias notícias.

    No Brasil o 247 se lança na frente, e sem querer urubuzar acho que o GGN está ficando para trás.

    A farra de utilizar artigos da grande imprensa vai terminar logo, isto é simples, só impor a lei de propriedade intelectual.

    1. A qualidade, a variedade, a

      A qualidade, a variedade, a pluralidade de temas e articulistas que o GGN nos traz todos os dias, ainda o faz ser o melhor de todos os blogas jornalísticos do país.  Não consigo enxergar comoi ele possa estar atrás do Brasil 247, até porque, são estilos diferentes: um é mais “ninja”, explosivo, de “tiros curtos” – o que é muito bom e muito necessário…..  O estilo do GGN é outro, artigos para quem gosta de algo mais profundo e extenso, para pensar, e apreender mais profundamente a realidade à nossa volta……

        1. Luís Messias Nassif vc é
          Luís Messias Nassif vc é antissistema,precisa ser contra tudo q está aí,acaba com os Midíastralhas,vai pra cima Naasifãooooo !!
          Obs:Surtei,liguem não !!
          Obs2:Como oNassif me aguenta?
          Obs3: Preciso dar uma folga ao Nassif para ele não se sentir perseguido,só q ele me provoca com seus artigos importantes aí o dedo coça pra comentar aqui!
          ATENÇÃO: COMENTÁRIO “DESCONSTRUTOR DE MIM MESMO*!

      1. Não duvido da qualidade e pluralidade dos articulistas …..

        Não duvido da qualidade e pluralidade dos articulistas GGN, principalmente porque algumas vezes quando não estou em contracorrente da linha editorial do GGN tenho vários de meus artigos publicados.

        Porém há vários problemas neste tipo de apresentação, para começar com a priorização daqueles que fazem eco a orientação editorial do Nassif, tudo que o incomoda simplesmente não entra na divulgação, como por exemplo de 10/04/2018 até 11/08/2018 propus em torno de 40 artigos para o GGN, dentre os quais uns 25 a 30 foram alçados ao jornal. Já durante o período de 13/08/2018 até 16/11/2018 propus quase duas dezenas de artigos, sendo que somente uns pouquíssimos foram aproveitados (dois ou três), primeiro que tinha sido bem desaforado com Luiz Nassif, que devido a isto ele rebaixou o meu ganho que era zero para zero (ou seja, para quem não ganha nada por contribuir, continuar não ganhando não tem efeito nenhum), mas de uma hora para outra quem tinha um índice de aproveitamento de mais de 60% passar a menos do que 5%, ou tive um surto de emburrecimento, ou simplesmente saí da linha editorial que Nassif pretende incentivar no GGN.

        Os rancores que posso ter pelo bloqueio dos meus posts, são algo que ferem mais o ego do que qualquer coisa, diria algo até meio infantil, mas o mais grave não está aí, o mais grave está no comportamento autoritário de um diretor de redação que estabelece uma linha editorial a geometria variável, de acordo com suas esperanças e ilusões pessoais sobre a política em geral, achando que moderando os artigos principais do jornal, poderá influir mais ou menos nos destinos políticos do país.

        Por mais que se façam críticas ao 247, que já passou por períodos negros onde 90% daqueles que comentavam seus artigos eram a fina flor da coxinhagem, aquele site está procurando montar um corpo editorial, que podemos divergir ideologicamente do mesmo, mas eles estão procurando montar algo baseado em profissionais maduros (alguns, ao meu juízo, maduros demais, pois já estão caindo do pé) e experientes.

        Talvez o Nassif tenha esquecido que uma das pessoas que sugeriu o formato do GGN fui exatamente eu, também ele pode ter esquecido que o uso da YouTube que é outra forma de divulgação, faço vários comentários pela subutilização deste meio pelo GGN, agora critico a não utilização de profissionais da área até para triar melhor alguns horrores que são postados via o próprio GGN que sofrem imensas críticas dos comentaristas em geral.

        Talvez o que mais incomode o Nassif, que no lugar de participar de um círculo mais próximo das suas amizades faço críticas públicas e abertas ao seu trabalho procurando com estas críticas (construtivas ou destrutivas) melhorar o seu espaço.

         

        1. Posso realmente compreender o

          Posso realmente compreender o fato de você achar “estranho” ter um aproveitamento de “X” artigos em um período e “30% de X” em outro….. Mas particularmente acho que é aleatório….  Não sou um comentarista muito presente, às vezes dou mesmo uma sumida (por exaustão, tristeza, acredita?) mas acompanho meio que cotidianamente o blog (leio todos os dias, não consigo abrir mão…), e a impressão que eu tenho é que é aleatório. O GGN tem os articulistas fixos, que acredito não precisem de “permissão” ou “aprovação” para postarem seus artigos, e tem uma turma de algumas dezenas de pessoas que o Nassif utiliza um texto ou outro eventualmente.  São muitos e muitos textos, se não houver algum critério, alguma seleção, o número de posts alçados à página principal ficaria numeroso demais e OFUSCARIAM, de certo modo, aquilo que a editoria do blog (nem sei se é apenas o Nassif ou ele e outras pessoas…) julga ser prioridade passar para a sociedade.

          Mas continuo achando o blog bem plural, trazendo visões do Brasil, do mundo, da esquerda, do PT, de tudo, bem diferenciadas – o que não significa necessariamente opostas…..

          Leio seus comentários porque sempre sei que vou achar algo i9nteressante para refletir, como faço com o Alexandre tAMBELLI, O Arkx, e tantos, tantos outros……  Me omito de comentar por essa tal exaustão que falei, e porque o Face já me toma muito tempo.

          Penso que devemos confiar na turma que comanda o GGN, cientes de como o mundo da informação e da opinião ficaria enormemente vazio sem esse portal…..  O mais, é seguirmos na luta, que o pesadelo está brabo….

          Abraço!!!!!

  2. Nao, NAO conte com o Facebook

    Nao, NAO conte com o Facebook como qualquer coisa alem de um Orkut no futuro proximo!

    Quando a massa eh responsavel pelo CONTEUDO…  Eles estao somente repetindo os erros monumentais da media brasileira -e em sua maior parte, da media mundial.

    Caso de exemplo:  quantos usuarios ex-Orkut alguem ja viu no Facebook nos ultimos 10 anos???

    Talvez eles “criaram vergonha”…

    Que eh o que vai acontecer com os FB’ers de hoje.  Vao continuar sem historico confiavel ou checavel porem menos histericos…  De pura vergonha.

    Esses filhos da puta ainda vao se tornar igual a ex(!!!)evangelicos no futuro proximo:  tentando apagar o passado pra se adaptar ao futuro que NAO os vai acolher porque eles sao aleijados mentais, sem teoria de mente suficiente pra entender algo alem de sentencas soltas, sem serem capazes de formular uma unica minha de pensamento com comeco, meio, e fun.

    E…  ex-evangelicos sao uma praga infernal dentro do espiritismo, em caso ninguem sabe ainda:  impossiveis de reprogramacao por falta de intellect, experiencia, e teoria de mente.  Nao contem com Ivan Moraes pra lidar com aleijados mentais.

    Nao vai rolar nas minhas costas.

    1. Complementando:
      O Facebook

      Complementando:

      O Facebook nao eh, jamais vai ser MEDIA.

      Eh palanque.

      Assim que eu terminar de pentear o nariz eu vou pentear os macacos deles.

      Antes…  nao.

  3. Como não leio e não vejo

    Como não leio e não vejo mídia tradicional, pra mim não mudou nada. A minha profissão de fé nos blogs progressistas está mais que atualizada.

    1. Idem. Há mais de 15 anos não

      Idem. Há mais de 15 anos não leio (ou olho) jornais e revistas. Não assisto TV e não ouço rádios. Utilizo a internet – junto aos sites progressistas – para me informar do que se passa no Brasil e Mundo e principalmente para fazer pesquisas culturais, científicas, de estudos e leitura. Consulto fontes (agencias) de notícias e jornais on line internacionais (RFI, Ansa, Le Monde, Le Monde Dipliomatique, Corriere della Sera, La Stampa, La Reppublica, EL País, principalmente). Leio, ainda, mesmo não sendo religioso ou acreditando em “Seres Superiores” os jornais on line Osservatore Romano e Vaticano News. Rede social apenas WhatsApp para recados familiares e de amizade e tão só para um círculo não com mais de 12 arquivados. Não tenho facebook ou outros aplicativos desse gênero.

      Fora a essas horas mortas diárias, leio livros de cultura, científicos e de cunho social, bem cmo romances históricos.

      Me sinto em paz e reconfortados. Aposentado, busco uma vida de qualidade e não de quantidade.

  4. Nós leitores devemos apoiar,

    Nós leitores devemos apoiar, sempre que possível, os veículos alternativos como o Jornal GGN, Brasil 247, DCM, Revista Fórum, Carta Capital, Mídia Ninja, The intercept, Jornalistas Livres, Blog da Cidadania, Rede TVT e assim por diante. Essas novas iniciativas tenderão a ocupar um espaço cada vez maior daqui para frente. Para mim apoiar essas iniciativas não é custo, mas sim investimento. É uma forma de militância fundamental nos dias de hoje.

    1. Concordo totalmente com você!

      Concordo totalmente com você! Depois de todos os danos que causaram, todo o ódio que criaram no país e a destruição de nossa democracia, os jornalões poodem “se converter” ao melhor jornalismo do mundo, jamais verão um centavo meu ou qualquer tipo de apoio….. Que se explodam todos eles.  A turma que você citou, que mata dez leões por dia para se manterem e nos darem um jornalismo de primeira, a esses sim, meu apoio de otodas as formas que eu puder…… 

  5. Sem essa de “liberal”
    Sem essa de “liberal” nos costumes…

    Só porque está afinado com a pauta LGBT? “Liberal” que não dá um “ai” contra toturador e matador?

    Não.

    E nao venha alguém me dizer que dar um aperto no Boçalfilho Um tem alguma coisa a ver com “liberalismo”. Não. Esse pessoal nao desce mais pela garganta desde a primeira metade ds anos 90.

    Mais: vender alguma coisa a mais de 150 mil exemplares em uma cidade/região de 12 milhoes de habitantes é ridiculo.

    E esse ridículo não é de hoje. O maximo de venda que atingiram foi algo em torno de 300 mil exemplares. E nao adianta mais culpar o cidadão que nao le essas porcarias…até outro dia desses teimavam com esses preconceitos. Podem ir dando uma de “ingles” pras candongas deles; nao votei “no imbecil que esta lá”, mas torço pra ele cumprir a promessa de campanha de zerar a verba de publicidade desses mentirosos cinicos.

  6. O tema é bastante complexo. 

    O tema é bastante complexo.  Existe um fator que não entrou na análise, trata-se do nível educacional da população, que explica parte do crescimento das redes sociais e da queda dos jornais em geral. O leitor que deseja jornalismo verdadeiro, com qualidade e profundadidade, compõe um público cada vez mais reduzido. A manipulação da informação pelo grande capital representa outra fonte de depreciação do que um dia foi conhecido como jornalismo.

    1. Faltou citar que o recuo do
      Faltou citar que o recuo do jornalismo de esgoto não se dá por consciencia, jogada comercial..
      Depende do alvo. Se Haddad tivesse vencido, estariam tão engajados quanto em 2013

  7. regras do jogo postas em jogo…

    vitória certa da Globo, sempre

     

    esse lance de igual para igual já era; ficou pra traz; é coisa de mercado paralelo de notícias

     

    hoje a Globo educa para ser entendida e não apenas seguida

    ( muito bom isso; a Globo que eu sempre quis de volta )

  8. Existem algumas questões

    Existem algumas questões complicadas pelo fato de estarmos no meio do furacão da migração do analógico para o digital:

     

    1) O dinheiro do anúncio, que sustentava o jornal, não volta e não voltará aos meios de imprensa; além disso, quem agora recolhe este dinheiro – Google e Facebook – não querem fazer jornalismo porque isto invalidaria o discurso de ambos de que são “plataformas neutras”. Pior: as soluções até agora encontradas para retirar este dinheiro da mão dos dois gigantes do Vale do Silício – no caso, os artigos 11 e 13 da Diretiva Europeia de Copyright – já foram testados em escalas menores e não funcionam (procurem por Google News e Alemanha).

    2) Encher as páginas de propaganda não resolve mais. A ascensão de redes de anúncios de qualidade duvidosa (Taboola e Outbrain) e suas propagandas invasivas de sites hard fake news tornou absolutamente essencial um adblocker no navegador de quem tem um mínimo de preocupação ao navegar na internet.

    3) O Globo conta com uma enorme vantagem sobre a concorrência, que é o fato de poder ser sustentado pelas margens de lucro da Rede Globo e da Globosat. Talvez, agora que o PagSeguro começa a se assumir como um banco, a Folha passe a ter essa possibilidade de ser financiada pelo trem-pagador do conglomerado – e, aí, poder disputar mais fortemente.

    (Neste ponto, por exemplo, o Estadão está em desvantagem, a não ser que seja comprado por algum bilionário disposto a brincar de dono de jornal…)

    4) Veículos menores certamente vão ter que ser sustentados pelos leitores. Redações menores, mas mais focadas e respondendo não ao anunciante, mas ao assinante, e por isso dispostas a fazer as reportagens necessárias mas que não serão feitas pela grande imprensa.

    5) Produzir fake news é infinitamente mais fácil e esmagadoramente mais barato – e, portanto, traz um retorno mais rápido e percentualmente maior – que produzir jornalismo de verdade. A matemática joga a favor dos sites de fake news. Tanto que eles resistiram bem aos adblockers nos navegadores dos internautas mais “ligados”; enquanto um browser com um adblocker nativo não se tornar líder do mercado, eles conseguirão faturar.

    1. Taboola e Outbrain não são sites de anúncios!

      Muitas vezes as pessoas deixam passar a sua frente elefantes e só enchegam formiguinhas.

      Tanto o Taboola e o Outbrain não são sites de anúncios, são sites de prospecção de personalidade e de orientação política e intelectual daqueles que os seguem.

      Olhem na Internet o que se declaram estes sites. Lá está claro que, por exemplo, Taboola é uma plataforma para a geração de tráfego e servir empresas que queiram conhecer os ninchos de mercado para poderem atacar os consumidores em potencial.

      Ou seja, com as aparentes e ingênuas perguntas que parecem completamente aleatórias tanto um como outro dizem claramente para que existem, por exemplo no Outbrain está escrito:

      Outbrain é uma empresa de publicidade que tem como objetivo ajudar aos internautas descobrirem conteúdo interessante e relevante por meio da seção “Escolhido para você”. 

      Ou seja, no lugar da Cambridge Analitica entram as inocentes perguntas, que servem para com a sua participação mostrar seus gostos, seus medos, suas tendências ideológicas e até sua sexualidade.

      TOLINHOS.

  9. Gosto tanto de revistas e

    Gosto tanto de revistas e jornais que acho que deveria ter sido jornalista! No meu modo de ver, a banca foi um local civilizatório do século XX, assim como os banhos públicos de Roma, o burgo medieval e os cafés europeus da Belle Époque. 

    Além do fator internet, no caso específico do Brasil, penso que deva ser considerado o abismo cultural (vamos desconsiderar a desigualdade, por enquanto). Neste aspecto é interessante notar o que Jessé Souza escreve sobre a classe média, afirmando que não bastaria só a renda, é preciso estar inserido num contexto sociocultural para realmente se enquadrar nos valores da classe média. A assinatura de jornais e revistas seria um desses fatores. Acho essa observação muito instigante, e sobre ela tenho refletido que no interior a classe média assume um perfil bem diferente da classe média tradicional de capital. Exemplifico. Morei em centro grande por 23 anos e há 5 moro numa cidade de 80 mil habitantes. O contraste é enorme, aqui, mesmo as familias ditas de classe média não possuem o hábito de ler. Simplesmente não há brecha para o assunto literário ou cultural, salvo entre raríssimos iniciados. A única banca vende 5 jornais por dia (descontados os páginas de sangue), 8 a 10 vejas por semana, para ficarmos no “varejão” da notícia. Sobrevive de vender passagens de ônibus, rotativos  e créditos para celular. Ou seja, em um centro grande por mais que falte leitores, é comum no ambiente de classe média alguém mencionar um livro, um adolsecente comentar O Senhor dos Anéis, As Crônicas de Gelo e Fogo e por aí rende o assunto. No interior, não. A barreira ao conhecimento publicado é muito mais cultural que econômica, falta o hábito, falta a presença social da leitura como fator cultural de aproximação, de ponte entre as pessoas. A mediocridade é tamanha, que se alguém citar em um discurso A divina Comédia, será tomada por algum programa de humor que deve ter passado na Globo (a referência é a Globo, até o anúncio de falecimento tem o tema do plantão especial). Falta aquela estética, tão bem colocada por Milan Kundera em “A Insustentável Leveza do Ser”, de associar-se o mundo das letras com o mundo da civilidade, da estabilidade, como retratado na protagonista que sobraça um livro para cima e para baixo, na tentativa simbólica de atingir esse mundo e fugir de sua precariedade. Nós estamos tão atrasados em termos educacionais, que mesmo nossa “classes média”, com execeções às grandes capitais, não possui a mentalidade cultural condizente com sua posição social, sendo àvessa à estética da leitura como fator de status de classe, desenvolvimento humano e civilizatório.    

    Por mais que digam que o formato revista como plataforma de conteúdo esteja condenado, ainda penso que num país de leitores, pode vir a sobreviver como nicho. Não teria influência para “derrubar presidentes”, mas seria referência entre a elite cultural da população. Sempre haverá necessidade de referenciais. Talvez em formato similar aos antigos suplementos literários, escritos na base da colaboração, com artigos, colunas e matérias frias, pois em termos de news, a internet é imbatível em tempo real. A Piauí vai indo nesse seguimento, investindo num jornalismo bem escrito, modulando o perfil New Yorker para a realidade tupiniquim, enfim, sem entrar nos méritos de sua real qualidade ou presunção, tornou-se uma referência.

    Também, nada se assemelha mais ao livro que a revista, e por mais que a internet seja o futuro, ler no papel proporciona um nível de abstração superior (ao menos para mim). Além disso, grifar, sentir o cheiro, tem seu encanto, como sempre terá um caneta tinteiro, um vinil ou um charuto. É uma questão de estética. Sob a ótica comercial, vejo a internet ainda nos primórdios. Ontém usavamos conexão discada! O padrão de conteúdo pode ser outro daqui há 50 anos. Com essa onda maciça de fake news, da percepção cada vez maior da dubiedade das redes sociais como ferramentas de captura de dados e manipulação, no futuro próximo a mídia clássica possa obter novamente prestígio desde que passe a exercer realmente o papel de informar. Sua nova posição seria consolidada como uma chancela de conteúdo, pois a perda de tal referencial está na base do fenômeno fake news, como bem deixa entrever o post do Nassif.

    Ainda compro a Carta Capital, o Le Monde, a Piauí e vez ou outra a Super ou a Cult. Jornais, parei de comprar com o Golpe de 2016. Tenho saudade daquela Folha quando havia o “MAIS+”, colunas da Marilene Felinto, Rubens Ricupero e desse Senhor Nassif. Na última vez que comprei o jornal impresso me deu tristeza. E, quando colocaram aquele mico Kim Kataguiri como colunista, foi a morte simbólica e moral. 

     

  10. Já não leio mais Globo,

    Já não leio mais Globo, Estadão, Folha ou coisas do gênero. Também dificilmente escuto rádio ou TV controlados ou afiados de Globo, SBT, Record e quetais. Tenho uma opinião única sobre todos: tudo lixo. Só sabem mentir, manipular, distorcer e atacar. Então, pra mim, seria um grande favor se quebrassem todos.

    Hoje eu só acompanho a mídia alternativa. Senão porque é o único lugar que tem vida inteligente na imprensa, elas são mais honestas por outro motivo: não escondem o seu lado sob uma pretensa “neutralidade como fizeram a vida inteira as mídias conservadoras.

  11. Há mais de 15 anos não leio

    Há mais de 15 anos não leio (ou olho) jornais e revistas. Não assisto TV e não ouço rádios. Utilizo a internet – junto aos sites progressistas – para me informar do que se passa no Brasil e Mundo e principalmente para fazer pesquisas culturais, científicas, de estudos e leitura. Consulto fontes (agencias) de notícias e jornais on line internacionais (RFI, Ansa, Le Monde, Le Monde Dipliomatique, Corriere della Sera, La Stampa, La Reppublica, EL País, principalmente). Consulto, ainda, mesmo não sendo religioso ou acreditando em “Seres Superiores” os jornais on line Osservatore Romano e Vaticano News. Rede social apenas WhatsApp para recados familiares e de amizade e tão só para um círculo não com mais de 12 arquivados. Não tenho facebook ou outros aplicativos desse gênero.

    Celular, o tenho – como único aparelho telefônico – e não costumo tê-lo comigo. Falo e atendo telefonemas quando quero. Não o utilizo como instrumento de escravidão. Utilizo-o – à antiga – como um aparelho fixo.

    Fora a essas horas mortas diárias, leio livros de cultura, científicos e de cunho social, bem como romances históricos.

    Me sinto em paz e reconfortado.

    Aposentado, busco uma vida de qualidade e não de quantidade.

  12. “O impeachment de Dilma

    “O impeachment de Dilma fechou o ciclo do jornalismo de guerra. A extrema impopularidade de Michel Temer começou a abrir as comportas da diversificação. E a disputa mercadológica voltou a imperar com os jornais não apenas retomando a disputa, entre si, mas principalmente contra o caos informativo que eles próprios ajudaram a disseminar.”

    Os fatos confirmaram a primeira parte de minha hipótese de agosto de 2017:

    “O prejuízo dos jornais e redes de TV serão inevitáveis, um resultado perverso das bombas semióticas jogadas no campo político pelos próprios jornalísticos. Os juízes também irão colher os espinhos que plantaram, especialmente os que pertencem ao MPF e a Justiça Federal.”

    https://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/rip-brazil-por-fabio-de-oliveira-ribeiro

    Saborear a realização da segunda parte dela, porém, será muito mais delicioso. 

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