A caixa preta do IPT

Coluna Econômica – 04/04/2007

Institutos de pesquisa sempre foram fundamentais para o desenvolvimento brasileiro, e serão cada vez mais, à medida que amplia a competição entre países. Não fosse o Coppe, a Petrobrás jamais teria se convertido em uma das grandes petrolíferas do mundo. Não fosse o CTA (Centro Tecnológico da Aeronáutica), não haveria Embraer. E não fosse o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicos) dificilmente haveria um parque industrial como o paulista.

Nas últimas gestões, no entanto, o IPT foi jogado às moscas. No seu governo, Mário Covas adotou a decisão de reduzir os repasses para os institutos que pudessem gerar receita própria. Mas não cuidou de definir um papel para ele. Em vez de pesquisas, o IPT tornou-se prestador de serviços. Pior: passou por sucessivos administradores que não tinham nenhum interesse em abrir a caixa preta, de maneira a disponibilizar as pesquisas para os interessados.

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De um lado, tinham-se pesquisadores denodados, ganhando pouco, suando a camisa. Do outro, uma zona cinzenta em que informações sobre pesquisas relevantes transitavam livremente – menos pelos canais oficiais.

No meio campo, uma Secretaria de Ciências e Tecnologia, especialmente na gestão João Carlos Meirelles, sem um pingo de visão sobre processo de inovação e tecnologia.

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Agora, pretende-se abrir a caixa preta e adotar novo modelo de cobrança de serviços de pesquisa, em um momento em que o IPT está praticamente sucateado. “Estamos colocando todos os nossos esqueletos à mostra”, assegurou o diretor-presidente do IPT Vahan Agopyan à reportagem da Agência Dinheiro Vivo.

Foi formado um Comitê de Auditoria e contratou prestador de serviços para escrutinar suas contas. A idéia é jogar luz sobre as falhas de gestão administrativa e financeira que levaram o instituto a se arrastar nos últimos anos. Além do Conselho de Orientação, o IPT conta agora com um Conselho de Administração, que é integrado por oito componentes (sete independentes mais o próprio Vahan) e tem como missão fiscalizar a atuação da diretoria.

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“Tínhamos problemas homéricos de gestão. Passivos enormes nas áreas trabalhistas e fiscais”, diz o diretor-presidente, embora, de forma contraditória, exima seus antecessores de qualquer responsabilidade pelos problemas.

Nos últimos 10 anos, as verbas do governo custeavam 40% do gasto IPT. Este ano não houve redução nas verbas. A dotação orçamentária, porém, não bancará nem 50% das despesas. Ou seja, vai ser preciso buscar dinheiro em outras fontes.

Vahan defende o modelo voltado à prestação de serviços a iniciativa privada. Ele lembra que o Brasil responde por 2% dos artigos científicos publicados em todo o mundo. O problema é que muito pouco dessa enorme produção se traduz em processos e produtos inovadores, capazes de gerar riqueza. As patentes registradas não chegam nem perto dos 0,5% produzidos no mundo.

Para Vahan, o papel do IPT seria justamente servir de interface entre a ciência básica e o setor produtivo. Ele defende o modelo atual do instituto, em que os pesquisadores são contratados por concurso público e alocados em diversos projetos de pesquisa, a maioria para o setor produtivo.

(com Antonio Perez)

Para incluir na lista Coluna Econômica

Luis Nassif

15 Comentários

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  1. Uma pergunta bem idiota,
    Uma pergunta bem idiota, formulada por um cidadão idem: por que o governo do Estado não contrata o IPT para executar pesquisas de interesse público e paga bem pelo serviço ?

  2. Por que o estado so paga de
    Por que o estado so paga de preferencia super faturado.
    Agora se existe o serviço e quande ele é bem feito ai não se contrata por que geralmente nestes casos não da pra roubar

  3. Trabalhei no IPT durante 10
    Trabalhei no IPT durante 10 anos até 1986. Desde então sempre que mantive contato com a instituição tive vontade de chorar. ..

    O fato concreto é que o IPT (e os demais institutos de pesquisa do Estado (há vários relacionados à área da saúde, da agriicultura, alimentos, etc)) vem “descendo a ladeira”: o pessoal é sistematicamente desrespeitado e desvalorizado (gambiarras com as aFundações, planos de carreiras inadequados, etc), equipamentos sendo sucateados e por aí vai.

    Nestes anos às vezes houve um surto pontual de melhora aqui e ali mas duraram pouco.

    Falta política pública, decisão, consistência (sabe a piada de pq a grama na Inglaterra é bonita? Água no verão, adubo no inverno, poda na hora certa…. fazer isto durante 300 anos…).

    Claro que há indivíduos que devem ser responsabilizados por má-gestão, corrupção e outros ões. Bem como devem ser saudados muitos dos heróis e vocações que por ali (ainda) andam (Nassif, sugiro que entreviste o Dr. Alberto Pereira de Castro, um eterno militante do desenvolvimento tecnológico e desde 1968 no IPT e tenho outros nomes para sugerir que sejam ouvidos – aliás lá funciona uma interessante experiência de Conselho de Representantes dos Empregados).

    … para um comentário já passei da medida…

    Abraço e continue com o bom trabalho.

  4. Sou cliente do IPT. Considero
    Sou cliente do IPT. Considero o SERVIÇO prestado por eles a mim, de excelente qualidade. Por outro lado, atuando como prestadores de serviços privados, falta-lhes uma série de atitudes que só a competição traria. São muito morosos c/ os processos, por exemplo.
    Não posso dizer sobre a falta de pesquisa e o sucateamento do Instituto. No entanto, creio que deveria ser muito importante continuar o investimento em pesquisa e a geração de conhecimento. Foi isso que me levou a eles.

  5. Na boa, nunca vi muita coisa
    Na boa, nunca vi muita coisa saindo do IPT desde qdo eu comecei a estudar na USP, nos anos 80… Sempre tive a impressao q tinha muita gente encostada por laa (como na maioria dos institutos da USP…).

  6. Nassif, que saudades daquele
    Nassif, que saudades daquele IPT da praça Cel Fernando Prestes , lá no Bom Betiro. De pessoas como o Dr. Maffei, Dr. Bersgston Lourenço, dos Drs. Arthur, Ciro e tantos outros que ilustravam com sua capacidade a importancia do IPT nas pesquisas deste país. Somente como lembrança: O primeiro sal atomico deste país, foi produzido nesse Instituto. Que pena que se encontre hoje nessas condições. Se o falecido Governador Mario Covas foi o causador disso, cometeu uma grande injustiça, pois ele conheceu de perto a importancia do IPT quando aluno na Escola Politecnica, que estava anexada ao Instituto. – Não é verdade Governador Paulo Maluf?

  7. Algumas perguntas:
    1) quantas
    Algumas perguntas:
    1) quantas publicacoes os pesquisadores do IPT fazem por ano?
    2) quantas patentes o IPT registra?
    3) qual a proporcao de doutores e mestres por funcionario?
    5) quantos premios os pesquisadores do IPT ganham por ano?
    6) qual a proporcao de hora de pesquisa para hora de servico dos pesquisadores?
    7) quantas parcerias empresas-IPT estao firmadas hoje?
    8) quantas bolsas de pesquisa ou recursos de projetos o IPT tem junto a CNPq, FINEP e FAPESP?
    9) quais os convenios com universidades e institutos estrangeiros para pesquisas e formacao de pesquisadores?

    Se pegar esses numeros, verá que o IPT tem desempenho inferior ao da USP e da Escola Politecnica.

    Ao mesmo tempo, o IPT nao consegue prestar servicos de forma competitiva no mercado. Muitas firmas novas de tecnologia estao tirando esse mercado do IPT, que era só seu há 15 anos…

    O IPT nao nasceu para trabalho em série e repetitivo. Mas tem muita gente que nao enxerga isso.

    OBS:

    Nassif,
    O IPT tambem foi importante para a criacao do CTA e da Embraer. Tem muita gente que saiu do IPT, pois este instituto fez as primeiras pesquisas aeronauticas de forma sistematica e contruiu prototipos inovadores…

  8. Nassif, o professor Vahan é
    Nassif, o professor Vahan é hoje um Kerenski lá dentro. A diretoria através de um truculento movimento vai trucidando setores inteiros,o próprio diretor técnico diz que gestão da qualidade é perfumaria inútil. Quiseram até acabar com a ouvidoria, passando por cima da lei!

  9. O IPT está tão bem com essa
    O IPT está tão bem com essa nova diretoria que mantém um assessor que se preocupa com a disposição de móveis e decoração de interiores de acordo com os preceitos do feng sui, um despropósito completo à ciência que se aprende em qualquer escola fuleira de engenharia. . E pensar que o doutor Vahan é professor da Poli.Sai de lá faz tempo, pode ser que agora se ensine isso na USP .Tal assessor é a mais bela contribuição do secretário Goldman. E tem mais: num clima de caça às bruxas, acabamos dando razão a arqui-inimigos do tucanato, como o Paulo Henrique Amorim. Como é possível querer isenção do IPT no caso LInha Amarela do Metrô?

  10. É realmente muito triste ver
    É realmente muito triste ver o que uma série de administrações incompetentes fizeram ao IPT nos últimos 20 anos. E mais triste ainda é perceberre que a atual Diretoria em NADA se diferencia das anteriores. A recente alteração do Estatuto do IPT, feita na calada da noite, em nada contribuiu para a melhoria da gestão do Instituto. A despeito das vantagens que um Conselho de Administração (CA)poderia trazer para a gestão do IPT, foi possível perceber, logo, que a intenção, com a sua criação, não era boa. Os primeiros membros que constituíram o CA eram, em sua grande maioria, empresários. Por mais contribuições que estes tenham a dar, o fato de estarem em maioria já demonstrava uma mudança série de visão sobre a missão do IPT. Não acredito que seja papel do IPT, por ser uma instituição PÚBLICA (e defendo que assim continue sendo) passar a atender prioritariamente às empresas e ao mercado. Até há pouco tempo tínhamos claro qual era a missão do IPTe uma das principais era o atendimento às políticas públicas! Hoje, a atual Diretoria diz não ter claro qual é a missão do IPT e declara que está aguardando orientações da nova Secretaria de Desenvolvimento, à qual o IPT está subordinado, MAS, mesmo assim, de forma bastante incoerente, tem implementado uma série de ações que têm causado, no mímino, muita controvérsia. Como pode uma administração de um órgão tão importante como o IPT redirecionar suas atividades, reestruturar suas áreas técnicas, excluir áreas de atuação etc. sem saber qual é a missão do IPT? Se a Diretoria não sabe e, pelo jeito não sabe MESMO, deveria continuar aguardando as orientações do Governo. A forma truculenta e NADA democrática como estão sendo tomadas as decisões e o clima de terrorismo implantado por essa nova Diretoria não são compatíveis com uma Instituição de Pesquisa. A divulgação desses problemas e a abertura de espaço para um debate sério com a sociedade paulista, sobre as missões e o papel do IPT, podem e devem ser propiciados pela imprensa. Muito ainda tem a ser dito e discutido (antes que seja tarde demais). Sugiro que se dê ampla divulgação aos fatos por meio de entrevistas com pesquisadores e com os órgãos de representação dos empregados do IPT (Conselho e Representantes, Associação dos Funcionários e o Sindicato).
    Se conseguirmos fazer isso estaremos prestando um grande serviço à sociedade! Nassif, conto com seu empenho e competência para liderar esse debate.

  11. Conhecimento e tecnologia não
    Conhecimento e tecnologia não se “produzem” como bens de consumo na indústria. Os princípios gerenciais das empresas não se aplicam diretamente ao modo de trabalho em institutos de pesquisa. É uma generalizalção tão grotesca quanto muitas daquelas que Nassif se refere quando menciona os tais “cabeças-de-planilha” na economia. Investiguem os casos de sucesso mundo afora. Instituições de pesquisa de sucesso tem modos muito peculiares de gestão, privilegiando o trabalho criativo ao trabalho executivo. Em geral, não é lugar para executivos “cabeças-de-planilha”. Infelizmente, não tenho conhecido gestores que conheçam estas peculiaridades e saibam otimizar a capacidade de um corpo de pesquisadores para produzir conhecimento e tecnologia. Por exemplo, tenho dúvidas sobre a eficácia de indicadores de desempenho e produção. Quem sabe um dia atingiremos um grau de evolução cultural que nos permita valorizar mais os criativos em relação aos executivos. Por enquanto, tendo em vista o perfil de nossos homens de decisão em todos os níveis e com raras exceções, estamos longe disso.

  12. Gostei dos posts do Heron e
    Gostei dos posts do Heron e da minha amiga Rose.
    Se o conhecimento é percebido como algo cada vez mais importante não é preciso ser um gênio para perceber que deixar os Institutos se afundarem é dar tiros no próprio pé.
    No popular: gastos de C&T são como despesas de manutenção no condomínio. É fácil cortar e na hora ninguém sente (só a peãozada que é mandada embora). Só que consertar depois (quando dá) é MUITO mais caro.
    A sociedade não sabe das contribuições do IPT (e demais institutos de pesquisa ).
    Para ficar só no que está na última moda: o IPT teve contribuições importantes para o desenvolvimento dos motor a alcool, dos motores bicombustíveis, para a mistura do alcool na gasolina, para o biodiesel e por aí vai. Sei pq participei dos 1.os estudos s/ isto na década de ’70.
    E isto é só uma gota no mar de benefícios.

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