A corrida ao ouro

Coluna de 10/08/2006

Nas últimas três licitações para compra futura de biodiesel pela BR Distribuidora, apareceram dezenas de candidatos. Eram pequenas empresas, donos de postos de gasolina, até grandes empresários rurais. Foram adquiridos, para compra futura, 850 milhões de litros ao ano, pelo prazo de dois anos, 50 milhões a mais do que os 2% previstos para a mistura com diesel pelo governo federal.

Atenção: isso é apenas um prenúncio, O que vem por aí supera qualquer outro movimento da história econômica do país, desde a expansão da lavoura cafeeira para São Paulo no século 19, mais do que a expansão canavieira dos anos 70 ou o desbravamento do cerrado. É um movimento com implicações excepcionais na geração e distribuição de riqueza, na consolidação do agronegócios, na sustentabilidade da agricultura familiar e no crescimento do setor de máquinas e equipamentos, da pesquisa agrícola e tecnológica.

Com o biodiesel em uma ponta e o etanol na outra, o Brasil se preparará, pela primeira vez na história, para tentar conquistar e manter a liderança de um setor-chave para a economia mundial, me conta a Ministra-Chefe da Casa Civil Dilma Rousseff.

Desde que a Agência Internacional de Energia colocou definitivamente o etanol na matriz energética, as vantagens do Brasil se tornaram evidentes. Presidente da Única (a associação que congrega a cadeia produtiva do setor sucro-alcooleiro) explica que este ano os Estados Unidos produzirão 1,5 bilhão de galões (de 3,7 litros cada), passando o Brasil como maior produtor, mas com toda a produção destinada ao mercado interno. Só que seu álcool de milho consome uma unidade de energia fóssil para cada 1,3 de álcool. Nessa conta entra toda a energia consumida do poço à roda, na fabricação do aço dos tratores aos fertilizantes.

No Brasil, a relação do álcool de cana é de 8,3 unidades para cada unidade de energia fóssil consumida, porque aqui até o bagaço vira energia. Quando subir a pressão das caldeiras, a relação subirá para 10 ou 12. Quando se começar a aproveitar a palha da cana, se aumentará mais um terço.

Todo esse potencial explode no justo momento em que o mundo entra em novo ciclo histórico

1. O petróleo já é visto como um produto finito.

2. As áreas periféricas à OPEP diminuirão sua produção, fazendo com que aumente proporcionalmente a participação da OPEP no fornecimento global de petróleo.

3. O aquecimento global tornará gradativamente impossível continuar queimando energia fóssil, tanto o petróleo e carvão como o gás natural (que, ao contrário do que supõe o senso comum, é altamente poluente).

4. Há um brutal potencial de desenvolvimento que as fontes alternativas poderão dar aos países que forem capazes de se mobilizar. Nunca vai ser substituto total da gasolina, mas 10, 20% do consumo mundial.

Nas próximas semanas será anunciado um plano integrado para o biodiesel e o etanol. E, mais algum tempo, uma estrutura que poderá se lançar sobre a África, o sub-Sahara e a América Central, juntando os capitais de bancos de investimento, a tecnologia da Embrapa, a tecnologia de universidade buscando outros produtos, a indústria de base e grandes grupos empreendedores.

Luis Nassif

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