A crise das elites em tempos de mudança

Coluna Econômica

Há um fenômeno curioso ocorrendo com o país nesses tempos de Internet e de inclusão geral: o envelhecimento generalizado das figuras referenciais, em todos os níveis de Poder.

De um lado, nunca se discutiu tanto o país, nas redes sociais, nos fóruns de Internet, em sites especializados. De outro, poucas vezes se viu um período com tal falta de referencias e com tal dificuldade para o novo assumir seu papel.

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Comecemos pelo Sistema de Justiça. Há muito a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) deixou de ser referência de qualquer coisa, com exceção dos interesses de classe.

Na Magistratura, igualmente, inexistem Estadistas.

As últimas manifestações do STF (Supremo Tribunal Federal) demonstram uma pobreza intelectual acachapante, em qualquer outro campo fora do campo do direito. Diriam: a função do Juiz é conhecer as leis. Na cúpula, tem que ser muito mais. Tem que ter visão refinada de um cientista social, formação humanística ampla para interpretar adequadamente as leis à luz das mudanças ocorridas na sociedade.

No meio jurídico há uma brilhante geração de jovens juristas, professores capacitados, juízes e procuradores com nível intelectual diferenciado. Mas esses ventos novos ainda não encontraram o campo adequado para conquistar visibilidade e ser fator de mudanças.

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No Congresso, nem se diga. Quando os Ministros do Supremo se envolveram em arroubos irresponsáveis contra a instituição, a única voz que se levantou foi do então presidente da Câmara Marcos Maia, corajoso, sim, mas sem a dimensão que se exige dos Estadistas.

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Salta-se dali para os partidos políticos.

Hoje em dia, o PT é um partido pobre em quadros. Alguns anos atrás podia exibir intelectuais de peso, juristas de nomeada, pensadores criativos. Hoje em dia, quem pensa o PT? Os dez anos de conquista do poder poderiam ter ensejado uma profícua discussão sobre os rumos do partido para os próximos dez anos. Nada aconteceu.

As mudanças do PT ocorrem exclusivamente por conta da influência e da visão política de Lula.

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Sem contar com alguém como Lula, o PSDB murcha a cada dia. A única atividade de seu guru, Fernando Henrique Cardoso, consiste em, a cada três meses, relançar a candidatura de Aécio Neves à presidência. O carro não pega. Três meses depois, FHC relança Aécio. E vai para casa descansar, que ninguém é de ferro.

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No campo da mídia ocorre fenômeno semelhante. Até algumas décadas atrás, chefes de redação de grandes jornais, mesmo diretores de sucursais, eram personagens intrínsecos da estrutura de poder do país. Hoje em dia, a militância partidária limita-se a uma campanha recorrente contra tudo o que Lula pode simbolizar, sem um pingo de sofisticação estratégica.

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Na economia real, há tempos não surgem novas lideranças empresariais, nem as centrais sindicais conseguem desenvolver um discurso novo, à altura dos desafios contemporâneos do país.

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São tempos de mudança. E há uma enorme vitalidade represada, um conhecimento acumulado que não consegue espaço nos três canais de expressão tradicionais: partidos políticos, Universidade e mídia.

O novo já nasceu, mas ainda não foi apresentado à Nação.

Luis Nassif

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