A dura aposta em cenários econômicos, por Luis Nassif

Depois do terremoto inicial do coronavirus, há um enorme curto circuito de informações e sinais contraditórios na economia. E, como consequência, cenários dos mais variados.

Depois do terremoto inicial do coronavirus, há um enorme curto circuito de informações e sinais contraditórios na economia. E, como consequência, cenários dos mais variados.

China

Por exemplo, em abril houve aumento das exportações da China da ordem de 3,5%, em parte devido ao aumento das exportações de instrumentos e dispositivos médicos. Nos primeiros quatro meses do ano o aumento das exportações dsses produtos foi de 11% em relação ao ano anterior. Além disso, havia exportações represadas dos meses anteriores.  Já as importações tiveram queda de 14,2% na comparação anual.

Mas há dúvidas sobre a seletividade dos números. Os analistas da Bloomberg, por exemplo, preveem queda de 11% nas exportações do ano e de 10% nas importações.

As fábricas estão gradativamente voltando ao normal. Mas os temores de desemprego estão influenciando a confiança dos consumidores. Algumas previsões estimam a perda de 20 milhões de empregos em abril, o equivalente aos ganhos de uma década.

O ponto mais nebuloso são as relações comerciais com os Estados Unidos. Ainda pairam dúvidas sobre as implementações do  acordo anterior, entre EUA e China. Os EUA não estão cumprindo as cotas de exportação.

Em abril houve um superávit comercial de US$ 22,8 bilhões, uma alta de 8,8% em relação a um ano atrás.

Nos quatro primeiros meses do ano, houve uma queda de 11,2% no comércio EUA-China, e uma queda de 26,8% nas exportações americanas para a China.

Tem tudo para ampliar as resistências ao acordo, alimentadas pela campanha anti-China de Donald Trump.

Reino Unido

Outras regiões estão sob riscos de recessão inédito.

É o caso do Reino Unido. No primeiro trimestre de 2020, a economia encolheu 3%. Mas as estimativas são de uma queda de 25% no segundo trimestre. Se houver relaxamento do isolamento até junho, ainda assim a queda estimada será de 14% este ano, segundo cálculos do Banco da Inglaterra, o maior declínio anual desde 1706, de acordo com as séries históricas.

Para 2021 as estimativas do Banco da Inglaterra são de crescimento de 15%, mas despertando fundadas dúvidas em grande parte dos analistas sobre o excesso de otimismo. Mesmo assim, as medidas do governo, subsidiando salários, empréstimos e doações ajudarão a amenizar a recessão.

Na última reunião do Comitê de Política Monetária (MPC), dois dos nove membros votaram para aumentar a flexibilização quantitativa em 100 bilhões de libras, em um total de 300 bilhões de libras. Tudo isso imaginando que as medidas de distanciamento social serão gradativamente eliminadas entre junho e setembro.

União Europeia

Já a Comissão Europeia prevê uma queda de 7,4% no PIB este ano. No final de 2009 a crise financeira resultou em uma queda de 4,5%, Antes do coronavirus, havia uma expectativa de crescimento de 1,2%.

Com uma população de 440 milhões, a UE é o principal parceiro comercial dos Estados Unidos e o segundo maior da China. A crise está ampliando as diferenças entre o norte mais rico e o sul mais pobres. Essa divergência traz riscos à unidade europeia.

De qualquer modo, está havendo um recomeço de produção na Itália e Alemanha. E as próximas aberturas serão da França e Inglaterra.

Estados Unidos

As previsões do Federal Reserve (o Banco central americano) são de uma retomada lenta e desigual da economia no segundo semestre.

As taxas de desemprego são recordes. Estima-se que em abril tenha chegado a 16% da população economicamente ativa. Somando as que desistiram de buscar emprego, a conta pode chegar a algo entre 25% e 34,6%.

E a contaminação não para de aumentar. São 1,1 milhão de infectados e a previsão de 130 mil mortes até o início de agosto.

A dificuldade dos cenários
A dúvida maior não é apenas em relação aos dados do PIB, mas sobre que setores ou empresas desaparecerão e quais sobreviverão. Há uma desorganização na cadeia produtiva de muitos setores, novas estratégias nacionais de romper com as cadeias globais, fundos de investimento, familiares e de pensão sequiosos por comprar empresas em dificuldades na bacia das almas.

Por tudo isso, não basta tentar estimar os dados globais, mas debruçar-se sobre cada setor da economia e suas relações com fornecedores e mercados externos.

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Luis Nassif

6 Comentários

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  1. UAI, faltou as previsões sobre o BRASIL ?
    Ahh, já sei ..tá difícil ..parece que tem muitos apostando que não sobreviveremos a isso, digo, a BOZO e seus filhos..

    1. Doram divulgadas em:
      Estudos da UFRJ estimam uma queda de até 11% no PIB, por Luis Nassif—A variável emprego é uma das mais afetadas.
      Nos três cenários – otimista, referência e pessimista – as projeções são respectivamente de redução de 4,7 milhões, 8,3 milhões e 14,7 milhões de empregos.
      PorLuis Nassif -06/05/2020
      https://jornalggn.com.br/coluna-economica/estudos-da-ufrj-estimam-uma-queda-de-ate-11-no-pib-por-luis-nassif/

  2. IPCA foi de -0,31% em abril(https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/27615-ipca-foi-de-0-31-em-abril)
    IBGE–Editoria: Estatísticas Econômicas—08/05/2020 09h00 | Última Atualização: 08/05/2020 09h00

    O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de abril foi de -0,31%, enquanto a taxa registrada em março foi de 0,07%. Esta é a menor variação mensal para o IPCA desde agosto de 1998 (-0,51%). No ano, o IPCA acumula alta de 0,22% e, nos últimos doze meses, de 2,40%, abaixo dos 3,30% observados nos 12 meses imediatamente anteriores. Em abril de 2019, a taxa havia ficado em 0,57%.

    Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados, seis tiveram deflação em abril e o maior impacto negativo do mês, -0,54 ponto percentual (p.p.), veio do grupo Transportes (-2,66%). A segunda contribuição negativa mais intensa (-0,05 p.p.) veio dos Artigos de residência (-1,37%), cuja queda foi mais intensa que a registrada em março (-1,08%). No lado das altas, destaca-se o grupo Alimentação e bebidas (1,79%), que acelerou em relação a março, com impacto de 0,35 p.p. no IPCA de abril. Os demais grupos ficaram entre a queda de 0,22% em Saúde e cuidados pessoais e a alta de 0,10% em Vestuário.—
    —O IPCA é calculado pelo IBGE desde 1980, se refere às famílias com rendimento monetário de um a 40 salários mínimos, qualquer que seja a fonte, e abrange dez regiões metropolitanas do país, além dos municípios de Goiânia, Campo Grande, Rio Branco, São Luís, Aracaju e de Brasília.

    Para o cálculo do índice do mês, foram comparados os preços coletados no período de 31 de março a 29 de abril de 2020 (referência) com os preços vigentes no período de 3 a 30 de março de 2020 (base). Cabe ressaltar que, em virtude do quadro de emergência de saúde pública causado pela Covid-19, o IBGE suspendeu, no dia 18 de março, a coleta presencial de preços nos locais de compra. A partir dessa data, os preços passaram a ser coletados por outros meios, como pesquisas realizadas em sites de internet, por telefone ou por e-mail.

    INPC varia -0,23% em abril
    O Índice Nacional de Preços ao Consumidor – INPC do mês de abril apresentou variação de -0,23%, enquanto em março havia registrado 0,18%. Este é o menor resultado para um mês de abril desde o início do Plano Real. A variação acumulada no ano foi de 0,31% e, nos últimos doze meses, o índice apresentou alta de 2,46%, abaixo dos 3,31% registrados nos 12 meses imediatamente anteriores. Em abril de 2019, a taxa foi de 0,60%.

    Os produtos alimentícios tiveram alta de 1,91% em abril enquanto em março haviam registrado 1,12%. Já o agrupamento dos não alimentícios apresentou variação de -0,84%, enquanto havia registrado -0,09% no mês anterior.

    Em relação aos índices regionais, a região metropolitana do Rio de Janeiro (0,25%) apresentou o maior índice, principalmente em função da alta da energia elétrica (1,30%). O menor resultado, por sua vez, ficou com a região metropolitana de Curitiba (-1,21%), influenciado pela queda nos preços da gasolina (-13,92%).—-

    —Para o cálculo do índice do mês, foram comparados os preços coletados no período de 31 de março a 29 de abril de 2020 (referência) com os preços vigentes no período de 3 a 30 de março de 2020 (base).

    O INPC é calculado pelo IBGE desde 1979, se refere às famílias com rendimento monetário de um a cinco salários mínimos, sendo o chefe assalariado, e abrange dez regiões metropolitanas do país, além dos municípios de Goiânia, Campo Grande, Rio Branco, São Luís, Aracaju e de Brasília.

    https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/27615-ipca-foi-de-0-31-em-abril

  3. Acredito que as previsões para o Brasil estão na tal reunião ministerial que mais parece com uma reunião de mágicos de quinta categoria do que com qualquer outra coisa…
    eles acreditam ter a capacidade de prever o futuro usando apenas o que desejam que aconteça

    Não sou da área mas sei que prever o futuro sem considerar os erros, os descontroles e os riscos que se apresentam no presente não é prever nem planejar, é simplemente desejar, é chutar, é apostar, como bem colocou o Nassif

  4. para confirmar os dados de emprego dos EUA
    Employment Situation Summary(https://www.bls.gov/news.release/empsit.nr0.htm)
    U.S. Bureau of Labor Statistics —-Transmission of material in this news release is embargoed until USDL-20-0815 8:30 a.m. (EDT) Friday, May 8, 2020
    Technical information:
    Household data: [email protected] * http://www.bls.gov/cps
    Establishment data: [email protected] * http://www.bls.gov/ces
    Media contact: (202) 691-5902 * [email protected]

    THE EMPLOYMENT SITUATION — APRIL 2020

    Total nonfarm payroll employment fell by 20.5 million in April, and the unemployment rate rose to 14.7 percent,the U.S. Bureau of Labor Statistics reported today. The changes in these measures reflect the effects of thecoronavirus (COVID-19) pandemic and efforts to contain it. Employment fell sharply in all major industry sectors,with particularly heavy job losses in leisure and hospitality.

    This news release presents statistics from two monthly surveys. The household survey measures labor force status,including unemployment, by demographic characteristics. The establishment survey measures nonfarm employment, hours, and earnings by industry. For more information about the concepts and statistical methodology used in thesetwo surveys, see the Technical Note.

    Household Survey Data
    In April, the unemployment rate increased by 10.3 percentage points to 14.7 percent. This is the highest rate and the largest over-the-month increase in the history of the series (seasonally adjusted data are available back to January 1948).
    The number of unemployed persons rose by 15.9 million to 23.1 million in April. The sharp increases in these measures reflect the effects of the coronavirus pandemic and efforts to contain it. (See table A-1. For moreinformation about how the household survey and its measures were affected by the coronavirus pandemic, see the box at the end of the news release.)

    https://www.bls.gov/news.release/empsit.nr0.htm

    Employment Situation Summary Table A. Household data, seasonally adjusted(https://www.bls.gov/news.release/empsit.a.htm)

    Employment Situation Summary Table B. Establishment data, seasonally adjusted(https://www.bls.gov/news.release/empsit.b.htm)

  5. Quando tentamos fazer previsões e montar cenários ficamos frente a uma situação em que, tipicamente, devemos aplicar a regra da Navalha de Ockham, o princípio de economicidade das variáveis. Simplificando, se há um fator que, evidentemente, define todo o cenário apegue-se a ele.
    No caso o fator é: disruptura.
    Disruptura ocorre quando há interrupção em um evento, processo ou sistema que o impede de continuar ou de operar normalmente. Na pandemia da covid 19 falamos nada mais, nada menos que um freada abrupta da economia global. Essa é a causa. As perdas de renda e emprego, falências, prejuízos de toda a ordem e impacto no PIB são as consequências dessa disruptura.
    Para ilustrar imaginemos um autoestrada onde um veículo freia de repente. Essa freada singular produz uma sucessão de freadas dos demais veículos e, de acordo com as características de cada veículo, posição e condição de segurança de cada passageiro no momento em que se deu, causou danos diversos em cada veículo e em cada um dos passageiros. São esses os danos imediatos. Aconteceram. São passado. Mas, valem para definir como se dará o momento seguinte. Se o dano foi leve ou grave; se o socorro chegou a tempo e o dano foi tratado; se os acidentados e seus veículos ficaram ao abandono ou se foram prontamente atendidos; se curados os passageiros e consertados o veículos: são variáveis que determinarão a retomada. Retomada essa dada pela duração do acidente, compreendida entre o momento em que se deu e o momento em que se voltou à normalidade, com a estrada livre e as pessoas sendo conduzidas em seus veículos como antes. Isso é o que dará a correta dimensão do prejuízo causado pela disruptura na autoestrada. Mas, com as freadas se dando em momentos distintos, com distintas consequências, enquanto ainda houver veículos e pessoas envolvidas no acidente é impossível prever quando e como a estrada voltará às condições normais de tráfego. Cada observador, sejam os acidentados, sejam os socorristas, sejam os que de longe observam terão uma visão diferente e, logo, uma percepção própria e única sobre o evento e suas consequências, inclusive, de quanto montará o prejuízo e sobre como e quando o trânsito se regularizará.
    O mesmo, simplificando, ocorre com a economia dos países. Alguns já estão em situação de retomada, outros, como o Brasil, sequer alcançaram o pico de contágio.
    Além do mais, como ocorre em uma freada, trata-se de um evento abrupto, imprevisto e, sendo recente, na maioria dos países isto não permitiu sequer se coletarem dados, organizarem-se informações e produzirem-se análises adequadas. O tempo em que perdurar o contágio e o necessário isolamento social é que dirá quão profunda e extensa será a perda econômica no mundo e no Brasil. Este é um simples exercício de constatação do óbvio, mas que parece não ter sido assimilado pela maioria.
    Portanto, voltando à Navalha de Ockham, sendo o fator a disruptura e o tempo de duração da epidemia sua variável determinante, enquanto não reconhecermos tal circunstância não saberemos como tratar a crise. A disruptura implicou na parada e no desarranjo das estruturas de funcionamento da economia. Não se resume e não pode ser confundida com situações de recessão ou depressão, suas consequências. Também não será superada com as medidas ortodoxas de praxe. Muito menos com a volta simples e voluntariosa das atividades com pregam empresários e outros pouco esclarecidos. Abrir lojinha não tem efeito sobre a crise. Ao menos efeito positivo e isso é factual. Estes são fatos constatados durante a presente crise em países como Itália, Espanha e Reino Unido e fartamente documentados durante a Gripe Espanhola, nos USA, entre 1918 e 1920.
    Enquanto não soubermos quanto tempo levará para controlarmos o fator sanitário, não saberemos quanto tempo levará para as economias retornarem à atividade e enquanto isso não acontecer não saberemos quanto tempo levarão as cadeias de suprimento e as estruturas operacionais para se reorganizarem e alcançarem o ritmo normal, ou melhor, um novo normal que ainda desconhecemos. Portanto, toda e qualquer previsão feita agora é somente isso, previsão. Teremos para todos os gostos e valendo tanto quanto ir consultar Mãe Diná, isto é, se ela ainda for viva, estiver na ativa e se não tiver sido alcançada pelo covid 19.
    Por fim, não deixemos de planejar. Façamos planos. Mesmo baseados em premissas falhas porque um plano ruim é sempre melhor do que nenhum.

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