A encruzilhada econômica chamada Paulo Guedes, por Luis Nassif

Guedes é boquirroto, blefador e se vale dos mesmos estratagemas de Jair Bolsonaro, de falsificar a realidade.

A economia está na encruzilhada do chamado problema Paulo Guedes.
Guedes é boquirroto, blefador e se vale dos mesmos estratagemas de Jair Bolsonaro, de falsificar a realidade.

No final do ano passado, analisamos os indicadores que, supostamente, indicariam a recuperação da economia – segundo Guedes – e nenhum deles dava a menor indicação da reversão da crise. Mesmo assim, continua insistindo que a economia se recuperaria em V, não fosse a pandemia.

Agora, anuncia uma nova recuperação em V, contra todos os sinais.

Os nós que têm pela frente seriam desafios até para gente grande. Teria que administrar simultaneamente os seguintes problemas:

  1. A bomba do desemprego.

Com o fim do auxílio emergencial, haverá uma explosão maior no próximo ano, com a possibilidade da taxa de desemprego bater nos 20%.

  1. A recuperação econômica.

A volta da economia depende fundamentalmente do emprego – que não irá se recuperar. Guedes é incapaz de montar uma política ativa de crescimento. Seu repertório teórico ainda não conseguiu superar a miragem do choque fiscal anticíclico. É uma loucura de cabeças de planilha, que não resiste à menor análise.

  • Investimentos são diretamente proporcionais à demanda.
  • Se a economia está em qeuda e há um choque fiscal, amplia a queda da demanda, a capacidade ociosa.
  • Mas, segundo a lógica guediana, se o investidor sentir firmeza nos cortes fiscais, será estimulado a investir.

A questão central é: investir para quê, se o retorno do investimento depende da demanda?

  1. Equilíbrio fiscal.

Tem-se, de um lado, o torniquete da Lei do Teto. Todas as estimativas revelam impossibilidade de montar um orçamento minimamente viável, que se enquadre nas restrições da Lei. Ao mesmo tempo, o rigor fiscal, em um quadro de economia em queda, acentua o movimento de queda e, com ele, a não recuperação das receitas fiscais.

  1. O aumento da inflação.

A incapacidade de Guedes de administrar estoques reguladores e criar amortecedores para a alta das commodities – influenciada pelo câmbio, pelas exportações e pelas cotações internacionais – promoveu uma pressão disseminada de preços.

A pressão dos preços

Vamos a um detalhamento do IPCA-15 de novembro.

Em novembro, a maior alta foi, novamente, de Alimentos e Bebidas, com 4,5%. O acumulado, desde fevereiro, é de 10,12%. A segunda alta foi de Artigos de Residência, com 2,83% em novembro e 3,88% desde fevereiro. A terceira alta foi em Transportes, com 2,35% desde fevereiro.

No gráfico abaixo, analisa-se o peso de cada item no índice final. Desde fevereiro, o IPCA-15 acumulado foi de 2,41%. Desse total, 2,05% se devem ao grupo Alimento e Bebidas.

Uma análise dos subgrupos de Alimentação, identifica  facilmente a razão das altas: exportações excessivas e desvalorização cambial.

Desde fevereiro, as maiores altas foram em Cereais, Leguminosas e Oleaginosas (48,95%), Óleos e Gordura (46,79%).

Quando se analisa o peso de cada produto no índice final, derivados de oleaginosas, carne e laticínios puxam a fila.

Essas altas tem um componente de bomba relógio.

No Índice de Preços ao Produtor do IBGE aparecem nitidamente as pressões no atacado. Os últimos levantamentos do IBGE referem-se ao mês de setembro. Dps 23 setores acompanhados, 22 registraram altas.

A maior alta foi em Resinas e Elastômeros, largamente utilizados para material elétrico, garrafas, brinquedos e material de segurança.

Desde fevereiro, derivados de carne experimentaram alta de 41%, assim como laticínios, produtos siderúrgicos e químicos.

A alta nas matérias primas bateu direto no preço das manufaturas.

A quadratura do círculo

O nó está dado.

Dependendo exclusivamente da equipe da Economia, o cenário é previsível e dramático.

  1. Elevação da Selic, encarecendo o crédito e a dívida pública e atrasando ainda mais a recuperação.
  2. Cortes maiores de despesas e investimentos públicos, abortando qualquer possibilidade de recuperação econômica.
  3. Aumento do déficit fiscal, por conta do moto contínuo dos cortes: mais cortes -> menos atividade -> menos receita fiscal -> mais corte.
  4. Bomba relógio da explosão do desemprego e das tensões sociais.

O único ponto menos pessimista será a atuação do Congresso, impedindo a manutenção dessa caminhada para o desastre, desenhada por Guedes.

Luis Nassif

6 Comentários

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  1. É um panela de pressão cuja tampa chama-se Teto de Gastos. Se não tirarem a pressão e a tampa, ela sairá através duma explosão. Só que a mídia oficial é Teto Futebol Clube – como, aliás, era Câmbio Fixo futebol Clube até que, após a eleição de 98, ela explodiu, deixando um país totalmente sem nenhuma reserva em dólar – aliás, 13 anos de governo do PT deixou o país com 400 bi de dólares, o que impede que o Brasil já tenha se transformado economicamente numa Argentina hoje.

  2. Nassif, o Guedes sabe que tem um mandato de 4 anos e fim.
    Neste tempo ele está preocupado com algumas questões relacionadas ao bancos e só.
    O resto é resto. Vai aos trancos e barrancos.
    Autonomia do banco central, ajuda e privilégios aos bancos.

  3. O que Guedes quer é justamente chegar na encruzilhada. Incluir o teto de gastos na constituição foi a solução da ekipecononica para eliminar gastos obrigatórios.
    Agora, os gastos e o teto estão na construção. Qual dos dois obedecer?
    E ainda tem o auxilio emergencial para piorar a situação.
    Guedes quer o caos. Essa é a estratégia.

  4. Eles já tem a solução para o problema: congelamento de salários para aposentados que ganham acima do mínimo.
    Apelam sempre para os mais fracos.
    Jamais tocam no assunto taxação de dividendos.
    Acredito que nada fazem para combater a covid porque a esmagadora maioria dos mortos é de aposentados e pretos pobres.
    Já pensaram se aparecesse um vírus que só fosse fatal para ocupantes de cargos públicos incompetentes?

  5. A aprovação da PEC do Teto de Gastos foi um dos crimes perpetrados em conjunto pela camarilha golpista de 2016. Abrindo um parêntese, o verdadeiro golpe não consistiu no impeachment de Dilma sem crime de responsabilidade. Aquilo foi apenas a abertura da porteira para passar SEM VOTO a boiada ultraliberal. O golpe, ainda portanto em andamento, foi contra da democracia, representada pelo eleitorado que, em 2014, não aprovou o congelamento de despesas obrigatórias (teto), a usurpação dos direitos trabalhistas, o adiamento, com restrições de valor, das aposentadorias, a liquidação do patrimônio público EXISTENTE na bacia das almas, a subordinação a potência estrangeira etc. Voltando ao famigerado teto, enquanto ele não for derrubado, estaremos convivendo com um crime continuado, que tenta desviar o Estado das obrigações constitucionais mais importantes, em proveito dos interesses do mercado financeiro.

  6. Oi Nassif: Obrigado por suas colocações e por sua incansável cruzada pelo povo brasileiro. Eu acredito que a sua boa alma não lhe permite enxergar que não é a incapacidade de Guedes que leva a essas politicas desastradas – pelo contrário elas são deçiberadas para destruir o Brasil, fazendo com que as pretendidas privatizações sejam aceitas. Não falos dos Correios ou mesmo da Eletrobrás – a pretensão é de do mercado se apossar de toda a riqueza do povo brasileiro: Petrobras, Caixa Federal, Banco do Brasil. Da big data das empresas de dados federais.

    A politica “econômica” atual busca mais ainda: desencadear uma baita inflação, resolvendo os problemas de grande endividamento dos bancos e empresas (o dinheiro de helicóptero do bacen). Inflação alta> somem as dividas > baixam os salários: minimo sem reajuste, aposentadorias, funcionalismo. Ricos mais ricos e os pobres que se danem.

    Veja que com juros altos (pela inflação), os dolares chegam e o seu valor baixa: isso resolve outro problema dos bancos e das grandes empresas com a cesso ao crédito no exterior: o grande endividamento em dólar, insustentável com a alta da moeda, mas que a pandemia e a paralização dos mercados está escondendo.

    Vou mais longe, não sou economista mas acredito que um dos objetivos seja levar o Brasil ao FMI, e também o objetivo final de lançar mão das reservas acumuladas pelo Brasil nestes anos.

    Isso explica a longevidade do Guedes: que está cumprindo os desígnios do mercado. sua esperança no Congresso é sonho: os deputados estão tranquilos com as vitórias de seus prefeitos e a garantia de reeleição em 2022! Nada farão em beneficio do povo. O grande partido da burguesia (multi legandado) está de volta.

    A esperança pior ainda é a de quaqluer concessão de Biden: as coisas aqui vão piorar – veja quem foi nomeada para o tesouro. Mais austeridade!!

    Espero estar errado, mas quem sobreviver verá!!

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