A estagnação da indústria

Do IEDI

O aumento de 0,2% da produção industrial em janeiro com relação a dezembro de 2010 – taxa de variação calculada a partir da série com ajuste sazonal do IBGE – não nos permite dizer que o momento desfavorável pelo qual a indústria nacional vem passando foi revertido. Em primeiro lugar, tal aumento é muito modesto diante da série de resultados negativos da produção industrial observados desde abril do ano passado. Em janeiro, o nível de produção da indústria é 2,6% inferior ao de março de 2010, o que deixa claro que a indústria acumula queda significativa nos últimos dez meses terminados em janeiro deste ano.

Em segundo lugar, a elevação de 0,2% refletiu, em boa medida, o crescimento episódico de 6,0% de bens de consumo duráveis. Episódico porque decorreu da retomada, em janeiro deste ano, da produção do segmento de material eletrônico e equipamentos de comunicações (basicamente, celulares), após a paralisação das suas atividades em dezembro de 2010 devido a férias coletivas. Na passagem do último mês do ano passado para janeiro, a produção de material eletrônico e equipamentos de comunicações aumentou 35,5%. Se não fosse o resultado desse segmento, o crescimento de bens duráveis (6,0%) seria, certamente, bem inferior – possivelmente negativo –, já que a produção de veículos automotores recuou, em janeiro, 3,2% e a de eletrodomésticos vem registrando forte desaceleração nos últimos meses (desde o quarto trimestre de 2010).

Os dados divulgados hoje pelo IBGE reforçam a análise de que a indústria não está se beneficiando do bom desempenho da economia brasileira; pelo contrário, ela está perdendo grandes oportunidades. Essa retração presente nos seus registros de produção não significa, entretanto, que a indústria entrou num processo mais profundo de recessão e de desarticulação de suas atividades. As destacadas características da indústria nacional (estrutura complexa, diversificada e dinâmica) lhe garantem condições de reação, mas, o que tudo indica, é que ela não está apresentando forças para tal no momento – os “porquês” já foram muitas vezes destacados por esta Análise.

O aumento de 1,8% da produção de bens de capital em janeiro frente a dezembro é um sinal de que a decisões de investir das empresas vêm se mantendo firme. Esse indicador é importantíssimo não somente para o desempenho da indústria, mas também para a economia brasileira em geral, já que, se as decisões de investir na indústria forem afetadas, também serão afetadas as decisões de investimentos nos outros setores da economia. E se o bom sinal nos dados do IBGE vem de bens de capital, a queda de 0,4% na produção de bens intermediários é preocupante, pois confirma uma sequência de resultados negativos ou fracos do setor há muitos meses. Como se sabe, esse setor é o de maior peso na estrutura da indústria e pode ser considerado o seu “termômetro”. Aqui, a temperatura está baixa (retração de 0,8% de abril de 2010 a janeiro deste ano), e o motivo é, sem dúvida, a substituição do bem produzido domesticamente pelo bem importado. 

Luis Nassif

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