A indústria brasileira e a exposição externa

Do Valor

Exposição externa define planos da indústria

Chico Santos | De São Paulo
08/11/2010

O maior ou menor grau de exposição ao mercado externo está determinando os planos de diferentes setores da indústria para os últimos meses do ano. Enquanto setores de bens duráveis e semi-duráveis que usam insumos importados e ancoram vendas no mercado interno ampliam a produção para atender à demanda do Natal, o ritmo da retomada em setores intermediários, acossados pela nova concorrência e com perdas na exportação, é incerto.

As importações, turbinadas pelo dólar barato, seguem pressionando setores vitais, especialmente a produção doméstica de aço que caiu 7% em setembro, em relação a agosto, e não deve crescer em outubro. A indústria de papelão também não espera resultado positivo no mês passado. Esses dois setores também têm dificuldades na exportação. No terceiro trimestre, os embarques do segmento de metalurgia básica foram 2% menores, em volume, que os registrados no segundo trimestre, enquanto no setor de papel e celulose, a queda foi de 4,5% na mesma comparação, segundo dados da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex).

EmsetEm setembro, dos 23 nos quais a Funcex divide a exportação e que são relacionados à indústria, 17 embarcaram, em volume, uma quantidade inferior a de agosto. Na comparação com setembro de 2009, quando a economia mundial ainda estava em um ritmo mais recessivo que o atual, a queda foi observada em oito setores.

As expectativas quanto à retomada da produção industrial brasileira transferiram-se de setembro, quando houve surpreendente queda de 0,2% em relação a agosto, para outubro. “Outubro é a chave para entendermos se há uma queda permanente da produção, provocada pelas importações, ou se houve apenas um ajuste passageiro de estoques e depois virá uma retomada”, diz Silvio Sales, analista da Fundação Getúlio Vargas (FGV) que durante muitos anos coordenou a Pesquisa Industrial Mensal (PIM) do IBGE.

Se depender do setor siderúrgico, a expectativa de Sales será frustrada. Segundo Carlos Loureiro, presidente do Instituto Nacional das Distribuidoras de Aço (Inda), os estoques das distribuidoras não devem ter caído em outubro (o dado oficial sai esta semana) em comparação aos 3,9 meses de setembro. Havia uma expectativa de que eles baixassem um pouco, para 3,6 meses. “A entrada forte de importados não permitiu”, disse Loureiro, que já advoga medidas para conter a avalanche de aço importado (a expectativa para este ano é de 5,7 milhões de toneladas). “Talvez seja necessário mexer alguma coisa no comercial, impor alguma barreira, além de tentar conter [a valorização] do câmbio”.

Outubro, lembra Sales, é tradicionalmente um mês forte para a indústria, mas o setor de papelão, outro clássico indicador antecedente das estatísticas da atividade industrial como um todo, também não tem razão para comemorar. De acordo com a empresária carioca Ângela Costa, presidente do Sindicato das Indústrias de Artefato de Papel, Papelão e Cortiça do Estado do Rio de Janeiro, o crescimento do setor, que alcançou 15,32% de janeiro a setembro, estancou em outubro e deve entrar em ritmo de redução em novembro, fechando o ano com crescimento de 12%.

Mesmo levando em conta que dezembro é historicamente fraco para a indústria de papelão ondulado, a empresária considera que o último trimestre deste ano está trazendo decepção. Sua empresa, a Papillon, está produzindo a um ritmo de 800 toneladas de papelão por mês, mas já se prepara para pisar no freio. Ângela não arrisca mencionar uma causa para o fenômeno. Para o economista Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do Banco Central, não há dúvida: enquanto a política monetária americana seguir expansionista o real tende a seguir valorizando-se e as importações, crescendo.

Freitas não vê alternativas a não ser a imposição de mais medidas de controle da entrada de capitais, além da incidência de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), somadas a medidas de aperto monetário via aumento dos recolhimentos compulsórios de depósitos bancários ao Banco Central (BC), ainda que tais medidas possam provocar alguma contenção no ritmo da atividade econômica.

O economista, hoje comandando a Divisão Econômica da Confederação Nacional do Comércio (CNC), adverte que será necessária uma sintonia fina para que essa contenção não se transforme em retração até que uma “política fiscal saudável” torne possível a redução da taxa de juros.

Apesar das importações crescentes, há sinais que podem temperar as indicações negativas de setores como aço e papelão. A produção de veículos, após queda em setembro (304, 9 mil contra 339 mil em agosto), deve aparecer positiva nos dados a serem divulgados esta semana pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), segundo expectativa do setor.

A Braskem, amplamente majoritária na produção de resinas termoplásticas e soberana no Brasil na produção de eteno (principal petroquímico básico), com capacidade para quase 4 milhões de toneladas por ano, informou que “outubro foi muito forte”. Segundo Manoel Carnaúba, vice-presidente de Petroquímica da empresa controlada pelo grupo Odebrecht, todas as centrais petroquímicas atuaram a plena capacidade, devendo ter ocorrido o mesmo na segunda geração.

Carnaúba disse que desde agosto que os clientes da Braskem vêm fazendo estoques para compensar a parada para manutenção programada em uma das unidades da empresa na Bahia, a maior de todas, com capacidade para 600 mil toneladas anuais. A parada, que vai durar 40 dias, começou na quinta-feira passada, devendo afetar fortemente o mercado este mês. O executivo também informa que em resinas o setor já começa a sentir a pressão dos importados.

Fora dos segmentos mais visíveis, há empresas nadando de braçada. Em Teresópolis, no Rio de Janeiro, a Alterdata, fabricante de softwares, com 21 anos de idade, vai crescer este ano 35%, bem acima da já fantástica média de 25% dos últimos 15 anos, devendo faturar este ano R$ 58 milhões. Segundo Ladmir Carvalho, fundador e presidente da empresa, as grandes empresas estão investindo fortemente em tecnologia da informação (TI), sinalizando confiança na continuidade do crescimento. 

Luis Nassif

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