A injeção de recursos do Fed

Do O Globo

Fed amplia injeção de recursos a US$ 85 bi

Bruno Villas Bôas  

BC americano avisa que juros básicos ficarão perto de zero até que desemprego recue para menos de 6,5%

WASHINGTON e RIO O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) anunciou ontem que vai realizar compras mensais no valor de US$ 45 bilhões de títulos do Tesouro americano a partir de janeiro, além da aquisição de US$ 40 bilhões em ativos respaldados por hipotecas anunciada em setembro. No total, serão US$ 85 bilhões mensais. O Fed informou ainda que a taxa básica de juros dos Estados Unidos continuará em níveis reduzidos, próxima de zero, até que haja uma recuperação dos índices de emprego. Em novembro, o desemprego ficou em 7,7%.

Em nota, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), do Fed, afirmou a que a taxa de juros vai permanecer baixa – atualmente, está na faixa entre zero e 0,25% ao ano – “pelo menos enquanto” o nível de desemprego continuar acima de 6,5% e as projeções de inflação estiverem abaixo de 2,5%. Para o Fomc, essas limitações são “consistentes com os dados do país”. A médio prazo, o Fed atualmente projeta inflação abaixo de 2%.

Segundo Alvaro Bandeira, diretor da Órama Investimentos, o programa de compra de US$ 45 bilhões de títulos por mês pode trazer mais dólares e liquidez ao Brasil.

– O Fed já compra US$ 45 bilhões ao mês em títulos de longo prazo pela Operação Twist. A diferença é que ele vende esse mesmo montante em títulos de curto prazo. Agora, o Fed aparentemente vai atuar apenas na compra – explica Bandeira. – Para nós, isso deve trazer um pouco mais de dólares, de liquidez, neste fim de ano. Mas nada de muito diferente.

Bernanke: abismo fiscal já afeta EUA

O comitê disse ainda temer que “o crescimento econômico possa não ser forte o suficiente para gerar uma melhora sustentável nas condições do mercado de trabalho”. E citou também a turbulência nos mercados financeiros globais como fator adicional de risco.

O presidente do Fed, Ben Bernanke, afirmou que a economia americana já está sendo afetada pelo chamado abismo fiscal – aumentos de impostos e cortes de gastos do governo de até US$ 600 bilhões, que entrarão em vigor em 1º de janeiro se não houver acordo no Congresso. Ele afirmou que, nesse caso, a política monetária não será suficiente para contrabalançar os estragos do abismo fiscal. O presidente do Fed ressaltou, porém, que acredita que a crise será resolvida sem grandes danos a longo prazo.

– Claramente, o abismo fiscal está tendo efeitos na economia – afirmou Bernanke. – Espero que o Congresso faça a coisa certa com o abismo fiscal.

Ele disse que, mesmo que o aumento de impostos seja gradativo, haverá estragos. E lembrou que, no momento, não é possível estimar o efeito total do abismo fiscal na economia americana.

O Fed também divulgou uma revisão das projeções para a economia americana. O crescimento deste ano foi revisado de algo entre 1,7% e 2% para entre 1,7% e 1,8%. Para 2013, as estimativas são de expansão entre 2,3% e 3%, contra 2,5% e 3% em setembro. Pelo lado positivo, as projeções para a taxa de desemprego recuaram. Em 2012, passaram de entre 8% e 8,2% para entre 7,8% e 7,9%. Para o ano que vem, ficou entre 7,4% e 7,7%, contra 7,6% e 7,9% anteriormente. Já a inflação, segundo o Fed, ficaria abaixo de 2% até 2015.

Os mercados financeiros chegaram a esboçar uma valorização após o Fed anunciar que pretende comprar mais títulos do Tesouro americano. Mas esse anúncio acabou ofuscado pelas declarações de Bernanke com relação ao abismo fiscal.

Bolsa de SP recua 0,25%

Após uma sessão instável, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) terminou o dia em baixa de 0,25%, aos 59.474 pontos pelo Ibovespa, seu principal índice. E interrompeu, assim, uma sequência de três pregões seguidos de ganhos. O volume financeiro foi de R$ 15,6 bilhões, inflado pelo vencimento de opções sobre o Ibovespa e contratos futuros do índice. No câmbio, o dólar comercial fechou em leve baixa de 0,14%, a R$ 2,075.

Em Wall Street, o Dow Jones, principal índice da Bolsa de Nova York, fechou o dia praticamente estável, em queda de 0,02%. Já a bolsa eletrônica Nasdaq, termômetro do setor de tecnologia, recuou 0,28%.

Na Europa, os mercados fecharam em alta, antes da decisão do Fed. A Bolsa de Frankfurt fechou em alta 0,33%, para o maior nível em quase cinco anos, apesar da queda de 1,4% na produção industrial da zona do euro em outubro. Também avançaram Londres (0,35%), Paris (0,01%) e Madri (0,83%).

No Ibovespa, as ações dos frigoríficos brasileiros estiveram entre as maiores perdas, devido aos riscos de embargo da importação da carne brasileira pelo Irã. Fecharam em queda os papéis ON (ordinários, com direito a voto) de JBS (2,29%, a R$ 5,54) e Minerva (2,19%, a R$ 9,80). Já Marfrig ON registrou alta de 3,42%, a R$ 8,45.

– É bom lembrar que as ações da Marfrig já estavam em queda por causa da precificação da oferta pública de ações da empresa. Então é natural que ela passe por uma correção técnica – disse Pedro Galdi, da SLW Corretora.

Luis Nassif

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