Coluna Econômica
Um dos problemas da discussão econômica pelos jornais é a ocultação das chamadas relações de causalidade. Diz-se que a única maneira de combater inflação é a alta da taxa básica de juros.
Em tese, ela atua sobre a inflação nas seguintes frentes:
Aumenta o custo do dinheiro, reduzindo a demanda por crédito e pela manutenção de estoques.Induz as pessoas e empresas a consumir menos e a poupar mais.Há um terceiro efeito, que até agora tem sido dominante: provoca uma apreciação do real (por atrair mais dólares) reduzindo a pressão de preços dos importados e exportados.
As contraindicações são inúmeras:
A apreciação cambial aumenta a vulnerabilidade externa e reduz a competitividade das empresas brasileiras.Taxas elevadas impactam as contas públicas, desviando recursos de investimento e custeio para atender ao serviço da dívida. Reduz o fluxo de recursos da renda fixa para o investimento, atrasando a ampliação da capacidade produtiva.Aumenta a taxa de retorno esperada dos investimentos na economia real.
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VamoVamos a alguns exercícios simples sobre os efeitos da alta da Selic no crédito.
Um financiamento de R$ 1.000,00 por 60 meses a uma taxa de 3,5% ao mês. O valor da prestação será de R$ 40,09. Uma alta da Selic de 0,75% ao ano corresponderá a 0,062% ao mês. Se aumentar a taxa mensal nesse montante, o valor da prestação subirá para R$ 40,59, uma alta de 1,25%.
Como ficariam as alternativas que não mexessem com juros:
O mesmo financiamento, com o prazo máximo reduzido para 48 meses. O valor da prestação subiria para R$ 43,30, ou 8% a mais.Se se exigisse 20% de entrada, o consumidor necessitaria poupar o equivalente a cinco meses da prestação anterior, para poder adquirir o bem.Um IOF de 0,5% elevaria a prestação do financiamento original para R$ 47,17, ou 17,7% de alta.
Essas contas são mais óbvias. Poder-se-ia calcular o impacto do aumento do compulsório (o depósito que os bancos comerciais são obrigados a recolher ao BC) sobre o custo do crédito.
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As vantagens são óbvias.
Há sinais de que o aquecimento da economia é setorizado. Há setores ainda aquecidos e outros que começam a sentir os efeitos das chamadas “medidas prudenciais” adotadas em dezembro.
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A diferença entre juros altos e medidas setoriais é a mesma que separa o médico especialista daquele que trata todos os males com doses maciças de antibióticos.
Os juros entram por todos os poros da economia, afetam decisões de investimento, influenciam o câmbio, desaquecem setores já desaquecidos, desviam recursos do orçamento, concentram renda.
Mas criou-se uma rede de beneficiários que levará anos para ser rompida.
O movimento é manjado, conhecido, gasto.
Primeiro, cria-se o alarde em torno da alta de preços. Minimizam-se todas as medidas prudenciais.
Nas reuniões com o BC, por exemplo, economistas-chefe descartaram aumento de compulsório, porque desvirtuaria a estrutura de captação da economia.
Ora, para qualquer medida é possível apresentar uma série de indicações e contraindicações. O jogo consiste nisso. Com a garantia de que o BC e a Fazenda se curvarão. Sejam quais forem os argumentos.
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Na minha opinião, pessoas que apoiaram, defenderam e exaltaram a lava jato deveria ter, no mínimo, a dignidade de se declarar impedido de votar no processo de correição da 13a. vara de Curitiba, sobretudo aquele que teve jantar secreto com membros que trabalhavam na lava jato, e que teve seu nome citado nos diálogos da vasa jato.
Na realidade deveria renunciar o cargo de ministro e pedir para sair do STF. Seria uma forma de demonstrar a dignidade que a grande maioria do povo brasileiro espera de ministro.