A manipulação dos mercados

Coluna Econômica

Nos últimos anos, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) – o xerife do mercado de capitais – avançou bastante na regulação do mercado. Identificou inúmeros casos de “insider information” (uso de informações privilegiadas), puniu gestores de grandes empresas.

Há duas áreas relevantes para ampliar sua atuação: uma, as notícias veiculadas nos jornais; outra, os sinais contraditórios emitidos por autoridades monetárias.

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SeguSegundo informações trazidas por um comentarista do meu blog, muitos anos atrás, o ex-presidente da CVM Francisco da Costa e Silva tentou implantar no país regras similares às que a SEC (Securities and Exchange Commission)  aplicava aos jornalistas norte-americanos.  

Em meados dos anos 90 promoveu um debate e trouxe o principal executivo da SEC. Ele relatou episódios escabrosos de uso de informações privilegiadas por empresários de comunicação norte-americanos, jornalistas e até gráficos. 

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A consulta pública da CVM pretendia colher subsídios para disciplinar o papel dos jornalistas que passam dicas de investimento, equiparando-os aos analistas do mercado financeiro, seguindo normas que estão sendo implementadas na Comunidade Econômica Europeia.

No Brasil, o debate acabou emperrando na enorme resistência dos organismos ligados ao setor.

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Agora, é momento de se voltar ao tema em função de dois episódios polêmicos, ocorridos recentemente.

O primeiro, a série de notícias envolvendo a Petrobras, às vésperas de um mega-lançamento de ações.

Em cima de alguns fatos objetivos – aumento do risco de prospecção em águas profundas, após os problemas do Golfo do México, queda momentânea dos valores de empresas petrolíferas – montou-se uma campanha cerrada contra a empresa, claramente visando depreciar o valor de suas ações.

Sabia-se, por exemplo, que a tecnologia utilizada pela Petrobras era diversa daquela que provocou o acidente da British Petroleum. Mas insistia-se em colocar ambas no mesmo baú. Insistia-se em interrupção da prospecção em alto mar apresentando como exemplo decisões que teriam sido tomadas nos Estados Unidos. Chegou-se ao cúmulo de se defender a tese de que o pré-sal não deveria ser explorado.

Criado o alarido, muitos inocentes entram no jogo. Mas, no mercado, há  investidores comprando ações na baixa, visando lucros futuros.

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Em economias maduras, esse tipo de atuação do noticiário – ajudando a alavancar movimentos de alta ou de queda – são acompanhadas com lupa pelos órgãos de fiscalização do mercado. Por aqui, passa-se por cima.

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Um segundo episódio polêmico foram as idas e vindas do Banco Central com as taxas de juros. Quando  o Copom tomou a decisão de aumentar os juros, havia um conjunto amplo de fatores no ar, indicando arrefecimento do ritmo de crescimento da economia. Foram ignorados.

De repente, da noite para o dia o BC reavalia o cenário. Seria motivo para elogios, não fosse o caso de que ocorreram movimentações prévias no mercado futuro de taxas de juros, indicando que investidores ganharam com a mudança dos ventos.

Luis Nassif

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