Não tem medida atual mais enganadora dos juros do que o velho conceito da taxa real de juros – a taxa nominal da qual se subtrai a inflação.
Nos tempos da super-inflação ainda tinha alguma utilidade. Como quase toda economia rodava a determinada taxa de indexação, descontava-se a inflação da taxa nominal de juros no pressuposto de que parte do custo dos juros os tomadores conseguiriam compor com reajuste de preços.
Isso acabou. Hoje em dia, a inflação é basicamente formada por preços administrados. Preços administrados são custo para a maioria absoluta dos tomadores de crédito. E esse custo deveria ser somado à taxa nominal para se chegar à real, e não descontado.
Explico, em números.
A empresa A fatura 1.000. Toma um financiamento a uma taxa de 40% ao ano.
No decorrer do financiamento, a inflação é de, digamos, 5% no ano. Se a inflação interna da empresa for similar, seus custos aumentaram em 5%.
Ao mesmo tempo, por conta da inflação, as altas taxas de juros provocam um desaquecimento na economia e uma apreciação do real. Na ponta do preço, a empresa não consegue repassar o aumento de custos. Muitas vezes é obrigada a reduzir os custos em função da pressão do mercado. Suponhamos que tenha sido obrigada a reduzir seus preços em 5% por conta da competição chinesa.
A taxa real dessa operação é a seguinte:
Taxa nominal + Inflação + redução dos preços da empresa
40 + 5 + 5 = 54% (a conta é 1,40 x 1,05 x 1,05)
Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.
Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.