A saída de Wall Street do negócio de commodities

Sugerido por Assis Ribeiro

Do The Wall Street Journal

Wall Street abandona em massa negócio de commodities

Por Christian Berthelsen e Tatyana Shumsky 

As entregas de alumínio aos armazéns gerenciados por grandes bancos e negociadoras de commodities despencaram nos últimos meses, destacando a saída de Wall Street do outrora lucrativo negócio de matérias-primas, que agora anda às voltas com mercados estagnados, regras novas e a vigilância dos reguladores.

A queda marca a reversão de uma prática que por muitos anos impulsionou os lucros de operadores de armazéns como Goldman Sachs Group Inc. e Glencore Xstrata PLC. As operações dos bancos com armazéns são agora alvo de investigações de várias autoridades dos Estados Unidos, inclusive um comitê do Senado.

A reversão é reveladora também sobre o esforço de Wall Street em extrair lucros de usinas de energia, oleodutos e armazéns de metais. Depois de gastar bilhões de dólares durante dez anos para se expandir em todas as áreas do negócio de commodities físicas, Goldman Sachs, J.P. Morgan Chase & Co. e Morgan Stanley estão agora tentando vender seus ativos no setor.

“O jogo que conhecíamos parece ter acabado”, disse James Malick, sócio da consultoria na área de mercados de capitais Boston Consulting Group. “É difícil ver algo novo [no setor de commodities] que seja maior, melhor ou mais audacioso.”

No auge desse negócio, as firmas ofereciam dinheiro, descontos de aluguéis e outros incentivos aos produtores de alumínio para que eles armazenassem o metal em vez de vendê-los a consumidores como cervejarias e fabricantes de refrigerantes, segundo analistas e operadores. Enquanto isso, o tempo prolongado no estoque gerava gordas receitas com aluguel que mais do que compensavam os incentivos pagos.

Os usuários industriais de alumínio, como a Coca-Cola e a fabricante de lâminas do metal Novelis Inc., se queixaram à Bolsa de Metal de Londres (LME, na sigla em inglês) de que os armazéns haviam artificialmente desacelerado a liberação do alumínio, limitando a oferta e elevando os preços do metal. Um executivo da cervejaria MillerCoors LLC disse, em depoimento ao comitê bancário do Senado americano em julho, que as práticas estavam inflando os preços ao consumidor em bilhões de dólares.

Glencore, Goldman Sachs e J.P. Morgan não quiseram comentar.

A média de entregas diárias para os armazéns da LME caiu 79% nos primeiros 19 dias de agosto em relação a dois meses atrás, segundo dados fornecidos pela CPM Group Inc. A média diária de entregas em agosto foi a menor desde novembro de 2011, informou a consultoria americana.

Ao mesmo tempo, os incentivos em dinheiro oferecidos aos produtores por bancos e tradings que possuem armazéns caíram recentemente para US$ 50 a tonelada, comparado com mais de US$ 200 meses atrás, dizem operadores.

À medida que mais metais chegam ao mercado, as tarifas cobradas por entregas imediatas caíram 7,2% ante seu recorde de julho, segundo a Platts, provedora de dados sobre commodities. Ontem, o alumínio para entrega em três meses era negociado na LME a US$ 1.914,50 a tonelada, uma queda de 7,6% neste ano.

O recuo dos bancos está sendo estimulado por uma queda nos lucros com matérias-primas diante de mercados menos aquecidos, o que gera menos oportunidades de negócios, e exigências mais severas de capital, que aumentaram o custo de operar no setor. As receitas com commodities nos dez maiores bancos globais de investimento despencaram 57% em 2012 em relação a 2008, para US$ 6 bilhões, segundo a consultoria de pesquisa Coalition. No primeiro semestre de 2013, a receita diminuiu 25% ante o mesmo período de 2012.

As negociações com matérias-primas geraram em 2008 até 33% da receita dos grandes bancos no setor chamado “market-making”; hoje elas respondem por menos de 7%.

“O cenário atual parece muito, muito desolador”, diz Paul Johny, diretor de pesquisa da Coalition.

O número de pessoas trabalhando nas divisões de commodities dos dez maiores bancos globais de investimento caiu de um pico de 2.775 no fim de 2012 para 2.183 no fim do primeiro trimestre, segundo a Coalition.

O J.P. Morgan planeja vender seus ativos de commodities físicas como armazéns e usinas de energia. O banco americano afirmou a potenciais compradores desses ativos que espera começar seu esforço de venda no início de setembro, disseram pessoas a par do processo.

O Goldman Sachs estuda a venda de sua unidade de armazenamento, a Metro International Trade Services, que manteve nas suas instalações de Detroit um estoque de mais de 1,5 milhão de toneladas de alumínio, ou cerca de 27% do estoque mundial da LME. A Metro opera 29 dos 37 armazéns licenciados pela LME na cidade americana.

O UBS AG fechou no ano passado todas as suas unidades de negociações de commodities não ligadas a metais preciosos como ouro e prata.

No Morgan Stanley, um pioneiro do negócio de commodities que não tem armazéns, o dano foi grave. O banco americano não divulga resultados específicos da sua unidade de commodities, mas pessoas a par do seu desempenho disseram que a receita caiu para menos de US$ 1 bilhão no ano passado, comparado com quase US$ 3 bilhões cinco anos atrás.

O banco tentou vender sua unidade de commodities em 2012, mas as negociações fracassaram depois que o fundo soberano do Catar afirmou que queria apenas certas partes da divisão, principalmente a de petróleo, segundo pessoas a par das conversas.

A CFTC, Comissão de Negociações de Futuros de Commodities dos EUA, intimou na semana passada vários operadores de armazenagem, e o Departamento de Justiça americano abriu uma investigação sobre o assunto no mês passado, disseram pessoas a par do tema. Separadamente, o Federal Reserve, o banco central dos EUA, está examinando se os bancos devem ser autorizados a possuir ativos de commodities físicas, tais como dutos, armazéns e usinas de energia. Os parlamentares também têm questionado o papel dos bancos no negócio de matérias-primas físicas.

Luis Nassif

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