A trágica experiência da Suécia e o erro fundamental de Mandetta, por Luis Nassif

No caso do Brasil, o grande erro inicial foi a estratégia do Ministério da Saúde - ainda sob Luiz Henrique Mandetta - de limitar a testagem. Consiste em, a cada indivíduo infectado, proceder-se ao mapeamento das pessoas que estiveram com ele, a testagem e o isolamento daqueles que apresentarem diagnóstico positivo.

A pressa em flexibilizar o isolamento poderá levar a problemas maiores pouco à frente. A Suécia se tornou o caso piloto da flexibilização do isolamento. Desde o início, sua experiência de não impor o isolamento chamou a atenção mundial. Houve mortes, como nos vizinhos, e a economia da Suécia se saiu melhor no começo.

Mas a ilusão durou pouco. A Suécia fez uma aposta na maturidade de sua população que tomaria as precauções necessárias sem a imposição do Estado. Foi permitida a abertura de restaurantes, academias, lojas, playground e na maioria das escolas. A idéia central era equilibrar saúde e economia. Eventuais aumentos de óbitos seriam compensados pela manutenção da economia.

Enquanto isto, Dinamarca e Noruega aderiram à quarentena, proibindo aglomerações e fechando lojas e restaurantes.

Três meses depois, segundo levantamento do New York Times, o Covid matou 5.420 suecos, segundo dados da Organização Mundial do Comércio. Isso em um país de apenas 10 milhões de pessoas. Proporcionalmente, 40% de mais mortes per capita que nos Estados Unidos, 12 vezes mais que a Noruega, 7 vezes mais do que a Finlância e 6 vezes mais do que a Dinamarca.

Pior. A virulência do Covid afetou profundamente o país, mostrando que não houve nenhuma espécie de ganho em sua estratégia. O Banco Central sueco estima uma contração de 4,5% este ano, ante 1,3% de crescimento pré-pandemia. A taxa de desemprego saltou de 7,1% em março para 9% em maio. O medo provocado pelo recrudescimento da doença reduziu os impulsos de compra, produzindo uma queda na  atividade interna, à qual se somou os impactos da queda da economia mundial.

No caso do Brasil, o grande erro inicial foi a estratégia do Ministério da Saúde – ainda sob Luiz Henrique Mandetta – de limitar a testagem. Consiste em, a cada indivíduo infectado, proceder-se ao mapeamento das pessoas que estiveram com ele, a testagem e o isolamento daqueles que apresentarem diagnóstico positivo.

O inimaginável nessa história é que, em todas as pandemias da era moderna, o Brasil foi o país que mais avançou na definição das estratégias, desde as tragédias dos anos 70, com a epidemia de meningite escondida pelo regime militar.

Desde então foi montada uma rede nacional, composta pelo Ministério da Saúde, Secretarias estaduais e municipais, estrutura do SUS (Sistema Único de Saúde) e da estrutura de atenção básica.

A vacina nacional contra a gripe é a maior demonstração da competência técnica brasileira. A cada ano, são analisados os virus da gripe, identificadas as transformações, desenvolvidas novas vacinas, fabricadas por redes de laboratórios públicos, que, no ano seguinte, são aplicadas em massa no país.

Mandetta cometeu o erro fatal de subestimar a Covid e minimizar a importância da testagem e do rastreamento. Sem ela, o crescimento dos casos foi exponencial, quadro agravado pela irresponsabilidade crônica de Bolsonaro.

Agora, será necessário aplicar testagem em massa para um país em que mais de 30 mil pessoas são contaminadas diariamente.

Luis Nassif

4 Comentários

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  1. São casos distintos ainda que os resultados sejam semelhantes.No caso sueco apostou-se na maturidade e desenvolvimento de sua população.No caso brasileiro optou-se por minimizar os efeitos da pandemia e,o ministro que estava à frente na época era um fiel escudeiro do sujeito que ocupa a presidência de república,somente mudando de opinião quando o barco já dava sinais claros de que iria afundar e,como todos do naipe que acompanham o sujeito planaltino,tentou jogar para a torcida aproveitando-se do espaço dado pela mídia porca que finge ser oposição a presidência quando na verdade é oposição ao país.
    De qualquer forma,não há certezas em relação a pandemia. Sabe-se que até o momento não há remédios que garantam o pronto restabelecimento dos pacientes e nem a completa garantia de cura e,muito menos uma vacina.
    Contudo,com uma letalidade de quase duas vezes a da COVID 19,a fome,cuja a cura é conhecida e fartamente disponível,não merece sequer uma linha em busca de uma solução,talvez porque,essa sim,atinja somente os pobres e miseráveis do mundo.
    Somos,todos nós,hipócratas!

    1. Nem todos ignoram a fome. Isso vale apenas para aqueles que se declararam contrários ao fome zero, bolsa familía, e vários outros programas sociais dos últimos anos. Considerando que há necessidade de manutenção dos programas, porque pessoas assalariadas não conseguem ajudar, e os ricos são o que estamos vendo claramente nesse governo, ou seja, egoísmo e preconceito, com o mais alto orgulho.
      O que se percebe é que para esses, contrários aos programas sociais “é necessário” ter um argumento contraditório ou de debate, que persiste em ressaltar “o minimizar” do vírus. Porque para eles, é ainda “melhor” que, mais do que o saldo da fome, se some os maiores números de uma peste..
      Ou seja, vamos fingir que a fome, tema que esses NUNCA deram importância, AGORA é importante, porque dessa forma, cria-se uma certa cortina de fumaça sobre a omissão e incompetência do presidente na gestão da pandemia.
      Sempre me importei com a fome, e mesmo sendo pobre, ajudo quando tenho oportunidade.
      Isso não serve de desculpa para a desvalorização das vítimas da pandemia que por essa gestão porca, se perderam sem saber se podia ser diferente, e nem para o avanço crescente que continua fazendo vítimas e infelizmente talvez venha fazer no futuro, pela manutenção dessa má gestão.
      Eu diria que para esses, não basta a fome.

  2. Esse aí “picou a mula” quando viu que a “cobra ia fumar”……..um cidadão arrogante, pretensioso, engajado com o projeto do ser asqueroso que chamam presidente caiu na realidade tardiamente……não é menos culpado do que toda a escumalha da qual fazia parte….

  3. [10/7 11:59] Marcio Rodrigues: As PESSOAS preparadas que poderiam coordenar alguma coisa foram logo desautorizada, exemplo, o Enfermeiro Wanderson Oliveira que estava no ministério da saúde e dava suporte ao ministro da época, mandeta, foi defenestrado, e hoje está no HFA em Brasília. Tem uma grande formação.
    [10/7 11:59] Marcio Rodrigues: Em qualquer área, precisa-se de gente treinada. Na guerra com poucos soldados, e estes não sabem usar as armas. Que também são poucas.
    [10/7 11:59] Marcio Rodrigues: Tivemos 3 meses para nos preparar para vencer a tempestade, ou pelo menos enfrentar. Quase nada foi feito. Para citar só um exemplo: Treinar equipes de socorro! Por que?
    [10/7 11:59] Marcio Rodrigues: Foi um susto descobrir que a grande quantidade de contaminados entre os profissionais de saúde se dava quando da retirada dos paramentos usados como proteção individual. Faltava orientação e treinamento. Isto desde a China foi documentado.
    [10/7 11:59] Marcio Rodrigues: Tem que saber de saúde pública!

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