A volta do Brasil ao Mapa da Fome mostra o fracasso do mercadismo caboclo

Hoje em dia, o discurso está restrito a visões de curtíssimo prazo, um fiscalismo extremamente emburrecedor, que irá quebrar a cara na próxima esquina.

Em 2014 o Brasil saiu do Mapa da Fome, segundo o Indicador de Prevalência da Subalimentação da FAO. Para sair do Mapa, o índice ficou abaixo de 5%.

A FAO analisou dois períodos distintos: de 2002 a 2013 e de 1990 a 2014. Entre 2002 e 2013, a quantidade de brasileiros em situação de subalimentação caiu 82%. Entre 1990 e 2014, a a queda foi de 84,7. Em apenas 12 anos, com uma política azeitada, e sem consumir grandes volumes de recursos, o país logrou superar uma de suas maiores chagas.

A estratégia brasileira foi montada com 4 pernas:

1. Aumento da oferta de alimentos. A disponibilidade de calorias para a população cresceu 10%.

2. Aumento da renda dos mais pobres, com aumento de 71,5% do salário mínimo e geração de 21 milhões de empregos.

3. Programa Bolsa Família, com 14 milhões de famílias.

4. Governança, transparência e participação da sociedade co a recriação do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consead).

O relatório “O estado de segurança alimentar e nutricional no Brasil” detalha essas estratégias. Com base nos dados da FAO, o percentual de subalimentados no Brasil ficou em 1,7% apenas.

O que mudou de lá para cá não foi a pandemia.

Os dados são anteriores ao Covid-19. Foram levantados pela Pesquisa de Orçamentos Familiares 2017-2018. No período, 36,7% dos domicílios, o equivalente a 25,3 milhões de lares, padeciam de algum grau de insegurança alimentar: 16,4 milhões com insegurança leve, 5,6 milhões com insegurança moderada e 3,1 milhões com insegurança grave.

A insegurança alimentar grave – aquela em que as pessoas chegam a passara fome – saltou para 4,6% dos domicílios, o equivalente a 10,3 milhões de pessoas, 7,7 milhões em áreas urbanas e 2,6 milhões em área rural.

O desmonte começou com a crise fiscal de 2015. Poderia ser superado nos anos seguintes. Mas, desde o governo Michel Temer começou o desmonte sistemático de todas as engrenagens de um estratégia que, durante algum tempo, serviu de modelo para o mundo.

Acabaram com o financiamento da agricultura familiar, com a merenda escolar, com a política de cisternas que ajudou o nordeste a enfrentar a seca, expurgaram o cadastro do Bolsa Família e do Beneficio de Prestação Continuada, com uma série de truques visando afastar os mais necessitados e menos informados. Desmontaram a rede de assistência social, esvaziar o Sistema Único de Saúde.

Não se trata apenas de insensibilidade social, próprio de sociedades selvagens, mas de uma ampla miopia em relação ao futuro. O aumento da fome desestrutura famílias, afasta crianças da rede escolar, expõe famílias a doenças e à marginalidade, reduz o mercado de trabalho e o mercado de consumo.

Mas o atraso institucional do país eliminou as vozes que tentavam desenhar o futuro. Hoje em dia, o discurso está restrito a visões de curtíssimo prazo, um fiscalismo extremamente emburrecedor, que irá quebrar a cara na próxima esquina. Ao transferir o discurso público ao mercado, desmontou-se a própria condição do mercado se inserir em um processo de crescimento saudável da economia.

O grande desafio será reconstruir o país depois desse terremoto medieval.

Luis Nassif

5 Comentários

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  1. “Fracasso”?!

    Desculpe, Nassif, mas você está fazendo força para NÃO enxergar: o plano É este, uma minoria com quase tudo, e uma maioria com quase nada.

    A desigualdade é O fato social mais gritante da face do oeste. O mundo inteiro está tendo que lidar com isso. E aí, meu amigo, desse riscado o Brasil DÁ AULA: os ricos e seus puxa sacos não fazem a menor cerimônia em partir pra ignorância; a boçalidade e a mentira são expedientes triviais. É só lembrar: em 64 derrubaram um Presidente Constitucional, fazendeiro, pra “salvar a democracia do ‘comunismo'”; ahataram o salário “pro bem do trabalhador”; suspenderam o habeas corpus para “garantir a liberdade”; torturaram e assassinaram “por bem”…

    Hoje, estão aí, os saudosos dos porões da ditadura, que depois de incorporarem o discurso dos fanáticos religiosos, mais adiante passaram a repetir as boçalidades de mercado.

    Eis o núcleo ideológico do fascismo aa brasileira: matadores e torturadores de cristo pelo mercado.

    1. Lucinei.

      Como sempre, seu comentário é preciso e objetivo, indo direto ao âmago da questão.

      “O Luís faz uma força danada para não enxergar o plano”. O 1% com quase tudo e os 99% com quase nada.

      Na maioria, estão incluídos os 30% que Jessé Souza chama, provocativamente, de “ralé brasileira”, pessoas no limite da sobrevivência física diária, que foram resgatadas desta situação pelas ações de governo do lulismo.

      Após o “golpeachment” de 2016, estão retornando àquela condição, pela ação institucional das forças do mercado, livres da moderação que o lulismo representava.

      Neste jogo criminoso do “livre jogo das forças de mercado”, sem peias, que resulta na miserabilização crescente da grande maioria, cumpre lembrar o papel essencial da mídia conservadora e seus jornalistas orgânicos (Antonio Gramsci) na naturalização deste processo social.

      Além destes, existe também outra categoria de intelectuais (jornalistas, acadêmicos,…), aqueles pretensamente críticos, que sob uma aura de críticos de nossa triste realidade, apenas reforçam as ideias que naturalizam a triste realidade que vivemos.

      Nos livros de Jessé Souza, sempre ele, vemos nomes consagrados como Sérgio Buarque de Holanda, Raimundo Faoro, FHC, Roberto da Matta, …. e, buscando nas notas, Fernando Haddad e Lilia Schwarcz.

      E, finalmente, chegamos ao jornalismo pretensamente crítico, que gasta muitas e belas palavras, fotos e imagens impecáveis, para criticar os “paradoxos do liberalismo brasileiro”, liberalismo este que é apenas uma bela fachada de ideias para distrair a patuleia ingênua da ação, repito, criminosa, do livre jogo das forças de mercado.

      Alguns, inclusive, fazem uma força danada para não enxergar o plano.

  2. O mais revoltante nessa historia é que estamos falando do Brasil, pais em que “se plantando (quase)tudo,da”……não falamos de um pais com grandes desertos ou regiões geladas improprias pra a agricultura…..mas de um pais que pode ter 3 safras por anos, coisa inimaginável em regiões mais frias….pais que é um dos maiores exportadores de produtos agrícolas do planeta e de dimensão continental e relativamente pouco povoado em relação a sua extensão territorial…..As respostas a esta situação são 2:
    1-Uma incrível incompetência que os fatos negam, pois somos um dos maiores exportadores de produtos agrícolas do planeta.
    2-Uma das elites mais perversas e canalhas do planeta que não tem nenhum compromisso com seu povo e pais, zero de empatia e humanidade, carrascos de sua gente na mais absoluta e abastada indiferença.
    Tenho certeza que a resposta 2 é a correta……..

    1. Eu acho que quando o povo começar a fazer bobagens por não pensar essa escumalha muda de opinião….a maior dor que existe é a da fome………a cabeça não pensa e o corpo padece….

  3. VITIMIZAÇÃO E FATALISMO. 90 anos da Indústria da Miséria. Mapa da Fome no Brasil? Este Projeto Fascisto-Esquerdopata da Indústria da Pobreza, da Indústria da Fome, da Indústria da Seca mostrava a Região Nordeste como um grande deserto. Quando na verdade o Semi Árido é uma ínfima parte desta região. Quando finalmente o AgroNegócio, a AgroIndústria a AgroPecuária conseguiu avançar sobre esta região a tornou uma das principais produtoras de Alimentos, maior produtora de frutas do país, maior produtora de feijão. Fora ter expandido sua produção pecuária com ovinos, caprinos, suínos, gado leiteiro e produção de carne. O Ceará, Maranhão e Piauí tornaram-se três principais região da AgroPecuária Brasileira. Expurgando o Coronelismo, Charlatanismo, Indústria da Seca e Miséria imposta desde o Golpe Civil Militar que implantou uma Ditadura Fascista em 1930. Este tempo de farsa ruiu. Pobre país rico. Mapa da Fome? Esquerdopatas pregando no deserto para sua própria doutrinação. Mas de muito fácil explicação.,

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