Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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Ainda sobre o feijão dos pobres e a soja dos ricos, por Rui Daher

soja

por Rui Daher

A comentarista Babi, em resposta ao meu texto de domingo neste GGN, “De feijão, quermesses e prepotência”, defende o artigo do Brasil 247, de autoria de Alan Tygel. Concorda com o autor que “campesina” o assunto valendo-se de temas como “soberania alimentar”, elevando-a a condicionante das soberanias econômica, política e cultural dos povos. Pesado, hein?  

Muito provável, Babi não percebeu a constância com que defendo soberania alimentar, agricultura familiar, biodiversidade, povos indígenas e quilombolas inseridos na agropecuária comercial. No sistema econômico capitalista, pois sabemos que no socialismo real certo não deu.

Os mercados interno e externo são movidos a oferta e procura, especulação, intermediações, preços administrados com subsídios, barreiras alfandegárias, ganchos dados por situações climáticas adversas, mudanças alimentares dependentes da renda da população, distâncias regionais, fretes, modais de transporte, muito mais.

Neste ponto, ao pontificarem (desculpem, sem brincar não dá): “A vila campesina (sic) define soberania alimentar como o direito dos povos a alimentos nutritivos e culturalmente adequados, acessíveis, produzidos de forma sustentável e ecológica e o direito de produzir seu próprio sistema alimentar e produtivo”, Alan e Babi pensam estar propondo o mais radical dos esquerdismos. Talvez, um tanto infantil, como estudou Lênin.

Caros, nada mais fascista. Se o gosto alimentar voltar-se para hambúrguer de soja regado a shoyu com tofu no lugar das batatas será um horror gastronômico, mas será porque os povos terão alcançado autodeterminação. Mesmo que curiosidade, mau gosto, ou mesmo tesão do novo no mundo nutricional.

Como disse Lula: “Pudesse eu, no lugar de um barco de R$ 4 mil, ter dado um iate para a Marisa”. O Brasil não produziu feijão porque o clima foi uma merda em várias regiões. Simples assim, mas complexo também como veremos abaixo.

A agropecuária brasileira se desenvolve muito bem com um pé em cada barco. Produz alimentos para a segurança alimentar e obter divisas que, estas sim, garantirão expressões econômica e política.

Disso tudo, o ruim é me fazerem trabalhar de graça, quando poderia estar levando meus caraminguás em trabalhos remunerados. Mas, vamos lá, que não tenho o coração peludo, como me elogia a filha Júlia (beijo!).

O que preferem? Um período de 40 ou 20 anos? No primeiro, derrubamos em 35% a área plantada com feijão. No segundo, piorou: 42%. A produção ficou, praticamente, estável, em 3,0 milhões de toneladas da leguminosa. Por quê? Simples, a aplicação de tecnologia fez a produtividade crescer 37% e compensar a queda de área.

Assim tem sido a agropecuária (não esqueçamos os animaizinhos) brasileira nas últimas décadas, a ponto de nos tornarmos líderes mundiais em vários produtos, influência tanto do agronegócio como da agricultura familiar.

Importante: em 20 anos a população brasileira cresceu 21%. A expectativa de vida passou de 68 para 75 anos. Entre 2000 e 2015, a taxa de mortalidade infantil caiu pela metade, 30% para 15%. Ah, mas deixamos o feijão para plantar soja, pecado.

Senhores, primeiramente, fora Temer, mas a esquerda antes de bebericar chavões precisa estudar.

Sabem quem tem segurado a barra do feijão? Em boa parte, produtores de soja que sabem trabalhar a terra manejando rodízios de culturas.

Assustem-se:

1)     Nas regiões Sul e Sudeste, houve 50% de queda de área, a produção ficou estável, porque a produtividade dobrou;

2)     No Norte-Nordeste, a área caiu 50% e a produção também, pois a produtividade se manteve estável, em 450 kg/ha. Aqui, sim, valem todas as suas propostas de esquerda para a agricultura familiar, que nem ministério tem mais;

3)     Surpresa! No Centro-Oeste “sojeiro”, a área plantada com feijão aumentou 37%, a produção quintuplicou, e a produtividade está em 1.900 kg/ha. Aumentou 80%.

Isso tudo em 20 anos, tempo suficiente para que vocês tivessem invadido as áreas plantadas com soja e mudado o perfil de nossa agricultura.

Drogas

Certo Mestre Carpina, que João Cabral o perdoe, comentou eu estar escrevendo sob efeito de drogas. Verdade. Assim como hoje: Galvus-Met para diabetes; Rosuvastatina Cálcica e Somalgim-Cárdio para o coração; Benicar para hipertensão; e antidepressivo para suportar comentários como os seus. Se parar posso morrer e ter o desprazer de encontra-lo no inferno tendo lições de civismo com o Cão.

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

30 Comentários

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  1. De fato, escrevi errado, mas

    De fato, escrevi errado, mas acredito que quem se interessa pelo assunto (e portanto leu o texto e comentários) entendeu que me referi a Via Campesina.

    No mais, é difícil debater com alguém que obviamente não tem essa intenção, tamanha agressividade.  Imagino ser efeito colateral desse monte de remédios, que certamente você não precisaria se tivesse se alimentado melhor…

    Mas vamos lá. Quais são os clichês?

    É um fato a expansão de monoculturas no Brasil, boa parte para produção de ração animal e biocombustível. É fato também que isso reduz a área de produção de alimentos agrícolas e desloca a pecuária para a região da Amazônia. É fato que a concentração fundiária e a agricultura voltada para monoculturas de exportação reduz postos de trabalho e gera desemprego no campo. É fato que a produção e distribuição de alimentos está cada vez mais concentrada no domínio de umas poucas corporações transnacionais. Além disso ainda tem o uso inadequado de recursos como água e solo. E é absolutamente óbvio que tudo isso envolve questões sérias (não pesadas) de soberania alimentar.

    No mais, reduzir o comportamento alimentar de um povo, ignorando aspectos culturais e sociais, a uma questão de gosto ou ideologia é muito raso. E respeitar a cultura alimentar não é, nem nunca será fascismo, isso sim foi pesado, Rui!

    http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cd10_01.pdf

    1. A repetição exaustiva de fatos

      vira clichê. Claro que tudo o que você enumera em seu comentário acontece de fato, comandado por um fator que você se acha capaz de impedir: o mercado. Diferente de você, Babi, em mais de 20 anos escrevendo sobre o assunto, nunca deixei de criticar e até combater, pois assino e me identifico em tudo o que publico, não a expansão das monoculturas, irreversível desde o início do plantio no Cerrado, com todas suas consequências, mas a segmentação da produção de alimentos através da agricultura familiar. Em vários artigos condeno o uso abusivo de agroquímicos sendo por isso criticado por todas as empresas e associações que o defendem. Hoje mesmo foi publicado no site de CartaCapital artigo meu condenando e analisando a retirada de direitos no trabalho rural.

      Mas, pra você, não serve. Fixou-se em monoculturas, um non sense. A diversificação de plantios no Brasil é a maior do planeta. Só que, obviamente, proporcionais ao tamanho do consumo. De pitanga a chicória, Babi, que não devem ser comparadas às soja, cana-de-açucar, milho, etc.

      Quanto à minha agressividade, tornar-me-ei (a mesóclise é interina, espero) vegano para controlá-la. E se não gostasse do debate, ao contrário de outros articulistas, que nem leem os comentários, não responderia a todos como ouso fazer.

      Abraços 

      1. Tá certo, Rui, Leio todos os

        Tá certo, Rui, Leio todos os seus textos aqui no GGN e respeito muito seu trabalho. E mesmo muitas vezes discordando das suas posições, sempre achei seus artigos ricos, gostosos de ler, divertidos e leves. Por isso estranhei esses últimos… de qqr. forma valeu.

        Abraços pra vc também.

         

         

  2. E a lógica. ..
    do desabastecimento.
    Os caras queimam sacas e mais sacas de café ou deixam a cebola apodrecer no pé, só pra não deixar o preço cair.
    Igualzinho que nem, o locaute do capital contra o povo da Venezuela, ter-se feijão barato na mesa é só questão de boa vontade neste país continental. ..
    PS: segundo meus mestres Cabral e Suassuna, nós já nos encontramos, pois o inferno é aqui!!

  3. Prezado senhor Rui Daher. No

    Prezado senhor Rui Daher. No domingo alertei-o que as esquerdas querem mandar em tudo. Na ocasião tentei ser educado e não empregar a palavra fascista. Mas vejo agora que a palavra ideal é esta mesma. Estes fascistões, julgam-se trotisquistas. No amago é tudo a mesma coisa. Negam a realidade, o fracasso documentado da agropecuaria dos países comunistas. Para não mencionar o enorme atraso quea negacao de Mendel provocou na entao URSS.

  4. E por falar em arrogância…

    Quer dizer que no socialismo real não deu certo ?  A China e a Rússia que o digam. Ah não, vai contar aquela de que tantos zilhões morreram de fome por culpa de Stalin e Mao. É, a esquerda precisa estudar, mas não na mesma fonte que a direita estuda. Comparações de realidades completamente diferentes é uma das maiores estratégias da direita. Naturalmente numa linguagem bem empolada, de preferência com aquele humor sarcástico, estilo Paulo Francis. Mas colocar um “merda” no texto, positivamente foi deselegante. 

      1. Antiácido

        Rui,

        Fiquei numa dúvida: Deve-se mandar a semântica ou a elegância às fezes num caso desses?

        Poderi me passar a receita do seu antiácido ?

  5. Quanto a via campesina, que

    Quanto a via campesina, que melhor exemplo de fascismo/trotisqismo pode haver ?  Acham-se no direito de destruir viveiros, estacoes de pesquisa, só porque nao se “encaixam” na doutrina sagrada. Então senhor Rui, estes caras sao fanaticos que devem ser devidamente contidos pelos meios legais.Nao conseguem sequer associar a enorme geracao de empregos que , por exemplo, a cadeia da soja oferece. Este Carpina entao é um típico exemplar goeriano. E quer por que quer descer o cacete em quem sabota a revolucao bolivariana. Como sempre, a culpa é sempre dos outros. Os fascistoes trotisquista nunca sao culpados de nada.

    1. O pior, meu caro

      Armandolo é que assim acabam por invalidar certos argumentos que são realmente válidos e necessários para melhorar a vida de quem trabalha no campo. Passam a ser instrumentos da direita. Abraço

  6. Parabéns … Texto ótimo e

    Parabéns … Texto ótimo e direto … Sou de esquerda , mas, mais chato que um direitista só um

    fmatajvo de extrema esquerda com

    seua chavões e suas certezas incontestáveis … Parabéns por

    respondelos com inteligência e humor… Tenho uma

    teoria todo extremista de esquerda

    na juventude vira fascista frustrado na velhice … lobão, vila , RA entre tantos 

  7. Um pouco dentro e um pouco fora do debate

    A alimentação de todos os países tem como base 4 grãos. São eles: arroz, milho, soja e trigo. Alguns poucos países consomem o feijão também. Qualquer problema que aconteça em um dos 4 grãos certamente teremos uma catástrofe. A carne consumida por nós, humanos, também é dependente desses 4 grãos. Ultimamente temos visto parte da produção de milho ser desviada para a produção de combustível. É uma concorrência que, persistindo, tende a elevar os preços dessa commodity. Todos sabem que o produtor aumenta ou diminui a área plantada, de qualquer das espécies, em decorrência dos preços praticados pelo mercado e este é regulado pela lei da oferta e procura. Essa prática se aplica também ao feijão que só é plantado caso o preço esteja convidativo, caso contrário, plantar-se-á outro grão de maior lucratividade. O Brasil não possuí qualquer interferência nos preços desses 4 grãos, ficando essa tarefa a cargo das Bolsas de Commodities existentes ao redor do mundo. Será muito difícil para o governo conter o desmatamento da região amazônica tendo em vista existir mercado para os grãos produzidos.  A mecânica de comercialização dessas 4 commodities permite ao produtor, no ato do plantio, vender toda a produção a ser colhida no futuro. Pelo menos, no arroz e feijão, base da alimentação dos brasileiros, o governo deveria manter um estoque regulador para evitar as bruscas oscilações de mercado como estamos vendo agora no feijão.

    1. Guimarães,

      gostaria de comentar alguma coisa, mas não tenho como, tão exato o quadro por você exposto. Deve ser do ramo. Obrigado pela leitura e um abraço.

      1. Saí de férias

        Sr. Rui Daher, queira desculpar-me o atraso, mas só agora, voltando de férias, é que fui ler as respostas de todos os meus comentários. Trabalhei por 10 anos em empresa de comércio exterior e justamente na área de commodities. Aprendi alguma coisa e gostaria de ter aprendido mais. É um setor dinâmico e muito importante em termos de abastecimento, preços, estoques, previsão de área plantada, escoamento para portos e etc. Seu elogio foi, certamente, uma gentileza. Obrigado e um grande abraço.

  8. A escravidão através do

    A escravidão através do capital já é uma realidade nas grandes capitais… Nos interiores e outras partes do Globo ainda é possível encontrar pessoas que consumem e vendem os alimentos que produzem em propriedades próprias ou comunitárias. Vi que na Rússia está sendo incentivado este tipo de prática, principalmente em propriedas comunitárias para consumo próprio. Mas com as privatizações de terras para a iniciativa privada de grande poder, as pessoas estão sendo obrigadas a se escravizarem cada vez mais em troca de comida e trocados para aluguel. A situação realmente ruma para o comunismo e o socialismo mais concreto. Chegará uma hora que a situação se tornará insustentável para a maioria da população. A repressão aumentará e aumentará também a miséria, forçando a mudança no sistema de governo e nas políticas sociais. Cuba se tornará um paraíso diante da desigualdade que verificaremos ou melhor, já verificamos nas grandes cidade brasileiras ou indianas por exemplo… Além do clássico exemplo africano… Quando houver uma política comunitária real, ninguém passará fome! Aliada a recuperação do sistema elétrico e do sistema de abastecimento de água das mãos privadas, com baixo valor ou até com a gratuidade… Não haverá mais fome ou miséria, muito menos escravidão. O povo produzirá seu alimento direto da terra, receberá energia dos ventos e das hidrelétricas até um sistema mais prático e a água será perfeitamente distribuida pela abastecedora além de captada pela chuva… O que falta realmente é vontade política e uma visão comunitária da vida… Nada mais que isso… O capitalismo está tentando engolir tudo e forçar que o povo esteja sempre no batente e não desenvolva a capacidade de raciocínio. É realmente um sistema cruel. E aqueles que mais sentem não são retratados na mídia. O que é retratado na mídia é o ideal inatingível que o povo se desgasta em uma busca inancansável e desumana. 

    1. Fernando,

      embora esse horizonte pareça muito longínquo, no ritmo em que os modelos econômicos só fazem concentrar a riqueza, ainda que a tendência não rume para os modelos passados de socialismo, as repercussões no planeta serão as piores possíveis com crescimento de ações terroristas, guerras locais, e mesmo conflitos de maior proporção. O filósofo Paulo Arantes diz: “O capitalismo poderá morrer de overdose”. Abraços.

  9. Prezado Rui,
    Minha dúvida
    Prezado Rui,

    Minha dúvida está no aumento da produtividade com base na utilização de muitos agrotoxicos.

    Dúvida que nasce de um texto que li de você mesmo a respeito da massiva utilização de produtos químicos.

    Isto porque se a produção aumenta deteriorando o solo então esta alternativa também não é plenamente satisfatória.

    Valeu!

    Ps: tem escrito textos densos.

    Parabéns pela competência.

    1. Chico,

      você está corretíssimo. Isto sim precisa ser criticado e combatido, até porque desnecessário na intensidade em que são aplicados para aumentar a produtividade ou de proteger as lavouras de pragas e doenças. Há inúmeras alternativas tecnológicas de extração orgânica, natural ou mineral que podem fazer diminuirem as doses de fertilizantes químicos e agrotóxicos sem perda de produtividade e, melhor, de custo muito menor. Só não são mais usadas pela divulgação massiva que fazem as multinacionais do setor e o conservadorismo e comodismo do agricultor brasileiro. Abraço e obrigado pelas referências. 

  10. Desculpé Rui, mas nas regiões

    Desculpé Rui, mas nas regiões onde a soja está avançando (todo o cerrado e mais recentmente na floresta com pará, Acre, Rondônia e Maranhão) estamos com o pé apenas em  um barco: produção de commodities para a exportação. O  outro barco,a produção de alimentos do pequeno e médio agricultor para a população local e regional, que exige assistência técnica, investimento em logística (estradas, transporte, armazenamento, suporte para comercialização) não anda. Teve nos governos Lula e Dilma as ações do MDA (PNAE, PAA), mas são insuficientes. A assistência técnica e o apoio losgístico dependem de ações dos governos estaduais e municipais, e aí nada acontece.

    Se voce olhar as estatísticas em todos os municípios desta região, a produção de alimentos, incluindo aí, galinhas e porcos está caindo vertiginosamente. O pequeno agricultor está migrando para a produção de leite, justamente poruqe o laticínio oferece logística, mercado (e as vezes assistência técnica). E a margem de lucro da produção de leite no cerrado é muito baixa. Trabalha-se muito e ganha-se pouco. Além do mais, o produtor é induzido a adotar tecnologias intensivas em insumos, ou seja, a produção de leite alavanca uma vasta cadeia industrial,dominada por multinacionais, mas não fomenta o desenvolvimento local.  

    Quase 100% dos alimentos consumidos no Mato Grosso, Pará, Tocantins vem dos Ceasas de Goiânia, Brasília, que por sua vez são abastecidos por São Paulo e Paraná. E porque recuou a produção de alimentos? Entre outros fatores, porque a infraestrutura aberta para viabilizar o escoamento da soja facilita o transporte por longas distâncias dos alimentos.

    Por exemplo, temos no Vale do Araguaia matorgrossense a BR 158, cujo asfaltamento avançou em 400 km em tre 2009 e 2014 graças ao PAC II. Pela BR 158 sai a soja em direção aos portos e entram os alimentos vindos de Goiânia e Brasília.

    Conclusão: tudo bem, naveguemos o barco das commodities, mas não afundemos o barco da produção de alimentos para o consumo local. Esse ultimo, no meu entendimento, a chave para o desenvolvimento. Não existe nação desenvolvida sem uma população rural prospera. A pobreza no Brasil brota no campo. Combater a pobreza incia no campo. E combater a pobreza no campo significa viabilizar a produção de alimentos local (existem ainda outras fontes de recursos não agrícolas viáveis para o pequeno e médio agricultor, mas isso em outra oportunidade)

    Em tempo: falando da pobreza rural, veja as estatísticas de pobreza rural no Mato Grosso, principal produtor brasileiro de soja, millho, carne, girassol etc. etc.

    1. Margot,

      Em todos os meus artigos sobre produção de alimentos para o mercado interno, inclusive o publicado hoje em CartaCapital (site), que costumo reproduzir em meu blog neste GGN, reforço os mesmos pontos colocados em sua conclusão.

      Há, no entanto, um terrível engano, reducionista, ao criticar o barco das commodities na esfera da produção. O barco da segurança alimentar é mal analisado no Brasil. Não se pesquisa para conhecer extensões de áreas, produção e produtividade em uma das maiores diversidades agrícolas do planeta. De repente, fala-se: “o estado de São Paulo” virou um grande canavial”. Bobagem. Ando a semana inteira pelo estado e também pelo Brasil e vejo de tudo. Converso com produtores de centenas de produtos agropecuários e, concordo, a maioria esperando por apoio.

      Seu comentário talvez faça eu voltar a esse assunto na Carta, apesar de tantas vezes tocado. Tudo se resume a apoio à agricultura familiar local e regional e a estrutura dos arranjos produtivos locais, com garantia de logística e comercialização garantida. Mais do que isso, gera excedentes de oferta que fazem cair os preços e quebrar muitos agricultores pequenos e médios. Não adianta produzir mais para uma população miserável sem poder de compra.

      Abraços

  11. “…mudanças alimentares dependentes da renda da população…”

    Rui, a frase acima remeteu imediatamente ao meu agrônomo de estimação, o Dr. Homero Rochelle, o melhor entre vários que conheci, que me assessorou/ensinou muito em Campinas. Dr. Homero é piracicabano, apaixonado pela sua terra e pelo “grande rio”, formado pela ESALQ, que, fosse eu Presidente da República, não hesitaria em nomeá-lo para o MDA – Ministro do Desenvolvimento Agrário, pelo seu humanismo e sensibilidade social. Para você estaria reservado o MAPA, formariam uma dupla imbatível (que não nos sequestrem ao menos o direito de sonhar). Pois bem, deixemos os prolegômenos, vamos ao que interessa, disse certa vez (entre 96/97) meu estimado colega e amigo que “…sempre que havia uma melhora na renda da população, caía o consumo de feijão”, para minha total perplexidade. Muitos anos depois, exatamente a partir de 01.01.2003, tudo fez sentido. 

     

    1. Fernando,

      sabe o motivo da genialidade do Dr. Homero? Conversar com os agricultores, saber como pensam, visitá-los, almoçar com eles na cozinha, tomar antes uma do alambique do mestre Sereno. Cacete, na China, na Índia, tem sido como foi aqui depois de 2003. Nossos sábios não perceberam os resultados e as mudanças no perfil de vendas da indústria alimentícia? Comenta-se, Fernando, baseado no que se lê. E, pior, o que se lê é pouco e ruim. Abração.

  12. Rui valente

    Sinceramente, não sou valente como você — “Galvus-Met para diabetes; Rosuvastatina Cálcica e Somalgim-Cárdio para o coração; Benicar para hipertensão; e antidepressivo”.

    Prefiro uma alimentação mais saudável e minha abordagem é pragmática: fico com o feijão e dispenso a soja.

    A evidência na saúde das pessoas é evidente, como se pode ver na coleção de fotos desse link – http://www.lowcarb-paleo.com.br/2016/02/celebracao.html

    Exemplo:

    1. Hans, meu caro

      Fiquei diabético aos 30 anos. Tô chegando nos 71. Acho que foi lucro. Nota: não como soja de jeito nenhum. Feijão todos os dias. Sobre a foto, há 5 anos fiz a cirurgia bariátrica. Também tenho fotos comparativas, mas sem as mãozinhas na cintura (rs). Abraço.

  13. Concordo com você, mas vejo falhas na sua defesa do agronegócio

     

    Rui Daher,

    Estou acompanhando esta quizilia. Eu havia lido sem muito me alongar o post “A alta do feijão e o golpe ruralista, por Alan Tygel” de quinta-feira, 30/06/2016 às 13:11, aqui no blog de Luis Nassif com o artigo “Opinião: O golpe ruralista e o preço do feijão” de Alan Tygel e publicado no Brasil de Fato, quarta-feira, 29/07/2016 às 19:17. O endereço do post “A alta do feijão e o golpe ruralista, por Alan Tygel” é:

    https://jornalggn.com.br/noticia/a-alta-do-feijao-e-o-golpe-ruralista-por-alan-tygel

    Não gostei da linha de análise de Alan Tygel e nem mesmo resolvi opinar. Você fez um texto no meio do caminho – meio do caminho aqui no sentido de logo após – abordando o problema do preço do feijão e que eu também li aqui no blog de Luis Nassif como o post “Feijão, o “vilão da inflação”, por Rui Daher” de sábado, 02/07/2016 às 14:22, e que fora publicado originalmente na Carta Capital. O endereço do post “Feijão, o “vilão da inflação”, por Rui Daher” é:

    https://jornalggn.com.br/blog/rui-daher/feijao-o-vilao-da-inflacao-por-rui-daher

    Cheio de dados, eu considerei que você pecou um pouco apenas na sua crítica ao pessoal da Globo pela forma que eles deram a notícia. Eu, apesar de ter sido brizolista e saber o tanto que os meios de comunicação foram contra Brizola trato os meios de comunicação como outra empresa capitalista qualquer. Penso que enquanto o Brasil for capitalista as pessoas têm que entender o regime capitalista para entender o comportamento dos seus agentes econômicos. E o entendimento requer três conhecimentos importantes: o sistema é instável, o sistema consegue o máximo de produção comparado com outros sistemas e o sistema tende a concentração de renda.

    Em um país capitalistas os empresários dos meios de comunicação devem agir do mesmo modo de agir do empresário de produção agrícola e assim os empresários dos meios de comunicação devem dar a notícia da forma que ela assegure o maior retorno financeiro. O empresário agrícola vai também plantar de modo a obter o maior retorno. É claro que em um estágio mais avançado todos os dois empresários vão sofrer limites da regulação. Em que ponto é o estágio mais avançado constitui ainda o busílis.

    Bem só li o seu texto, gostei dos dados e não aprovei o seu tom sarcástico em relação ao jornalismo da Globo, mas não vi razão para me manifestar. Só que logo depois veio o post “De feijão, quermesses e prepotência, por Rui Daher” de domingo, 03/07/2016 às 12:28, em que você dá início a essa pendenga. O endereço do post “De feijão, quermesses e prepotência, por Rui Daher” é:

    https://jornalggn.com.br/blog/rui-daher/de-feijao-quermesses-e-prepotencia-por-rui-daher

    É claro que eu via razão na sua crítica ao texto de Alan Tygel, mas também considerava que havia, como sempre houve, dois pontos falhos na sua análise quando você se refere ao agronegócio. Um é você não considerar como relevante a excepcionalidade das terras de São Paulo. E dois é você não levar em conta as fragilidades do sistema capitalista quando você trata do agronegócio.

    Então eu pensei em fazer um comentário a esse respeito, lá no post “De feijão, quermesses e prepotência, por Rui Daher”. E pensei então em juntar a questão da excepcionalidade das terras paulistas, uma das razões para São Paulo ter-se tornado o centro do desenvolvimento capitalista no Brasil e alguns posts onde eu poderia ter apontado para a necessidade de regulação do agronegócio para corrigir os problemas naturais que o capitalismo acarreta na produção e ao mesmo tempo questionado a viabilidade de se fazer a regulação no atual estágio do nosso capitalismo e do nosso desenvolvimento econômico.

    A minha ideia era trazer posts onde já existia essa discussão. Os posts que eu relacionei foram os seguintes:

    1) O post “O cartel invencível da laranja” de terça-feira, 15/05/2012 às 08:00, aqui no blog de Luis Nassif e de autoria dele e que pode ser visto no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/o-cartel-invenc%C3%ADvel-da-laranja

    2) O post “Uma pequena lição sobre ferrovias no Brasil” de sexta-feira, 26/03/2010, no blog do Alexandre Schwartsman A Mão Visível e de autoria de “O” Anônimo e que pode ser visto no seguinte endereço:

    http://maovisivel.blogspot.com.br/2010/03/uma-pequena-licao-sobre-ferrovias-no.html

    Houve ainda dois ou três outros posts, com os quais eu perdi muito tempo em os procurar, o que acabou não permitindo que eu fizesse o comentário que eu pretendia fazer junto ao post “De feijão, quermesses e prepotência, por Rui Daher”. Além da falta de tempo também pesou o fato de depois quando os encontrei vi que eles não tratavam da questão como eu esperava, e assim perdendo o ímpeto para fazer o comentário.

    De todo modo, desta vez eu envio o comentário e depois se tiver tempo em volto para discorrer mais sobre as tais falhas que eu atribuo à sua defesa do agronegócio e à excepcionalidade das terras paulistas.

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 15/07/2015

    1. Prezado Cléver,

      Embora note que você me acompanha há bom tempo, é impossível que não tenha percebido a forte crítica que faço a alguns aspectos pontuais do agronegócio dentro capitalismo. Quando à esquerda, sempre faço questão de ressaltar que não adianta criticar o que é inerente ao sistema econômico em que ocorrem as relações de mercado. Quando vêm da direita, especialmente de associações patronais, federações e confederações, não deixo de citar sua cegueira em não preservar, não respeitar legislações, a ponto de terem Ronaldo Caiado como articulista do jornal de maior circulação do país.

      Para mim, agronegócio não é um rótulo para ser discutido de forma maniqueísta, bandido e mocinho. É, sim, um episódio de agregação de valor pela economia. Um fundamento, certo? Antes e fora da fazenda, a agricultura familiar é agronegócio, e os assentamentos se bem cuidados também podem ser.

      Por que retrato a Globo de forma jocosa? Porque, tirando exceções às quais tiro o chapéu, já louvadas em minhas colunas, como o programa Globo Rural e, praticamente, toda a grade matinal dos sábados e domingos, o Jornal Nacional é uma piada perigosa, editada contra os interesses das populações mais pobres, de forma falaciosa e destinada ao acesso ao capitalismo de forma tão corrupta como as tantas que estamos vendo hoje. Então, merece meu descaso, o que estenderia a Veja e demais folhas e telas cotidianas.  

      Hoje mesmo escrevi sobre a agricultura do estado de São Paulo divergindo de quem o acha um extenso canavial. Não é. Apenas citar o fator qualidade da terra seria chover no molhado, embora mesmo com essa qualidade de terra, por efeito das multinacionais do agronegócio, hoje receba a mesma carga de agroquímicos do que, por exemplo, os cerrados.

      Se continuar o seu trabalho de pesquisa verá que grande parte do que escrevo, tenha sido no Terra, na CartaCapital e aqui é de crítica aos “Berrantes Caiados”. Vaio mesmo e aplaudo seus comentários.

      Abraços

  14. ainda sobre feijão…

    Caro sr. Rui, esta Julia é a sãopaulina? Se for meu abraço (se não for, também). Nossa agropecuária é igual ao Tricolor. Combatidos por todos lados, principalmente pelos próprios brasileiros, mas é o maior do mundo e uma das realizações mais extraordinárias que este país já produziu. Quanto aos produtos da nossa terra, quem critica são os” famosos ambientalistas de shopping center”, cheios de informações transmitidas por Willian e Renata: ontem o tomate, hoje o feijão, que o povo pagava R$ 5/Kg e por dois meses pagará R$ 15/Kg. É o fim do Mundo!!! Estamos condenados à inanição!!! Bem, a família média brasileira então pagará R$ 30 a mais no mês, por um alimento fantástico e quase gratuito. Vejamos, duas recargas semanais que o mesmo pobre faz no seu celular pré-pago, para poder mandar foto de “beicinho” aos colegas. Afinal, como é possível viver sem mandar uns “torpedos legais”, não é mesmo?! Nos próximos dias, a culpa será do feijão. Mas como combater tamanho senso do que é o Brasil e sua agropecuária.? O cidadão ainda repete: latifúndio, monocultura, agronegócio. De um lado informado pelo professorado sindicalizado e arraigado na esquerda tupiniquim fossilizada. De outro pela mídia, baseada na ” Vênus Platinada”, que criticará o “capiau” da roça, seja de feijão, tomate ou soja, que não anuncia em comerciais midiáticos milionários como as empresas de celular, por exemplo. Sobre quem restará toda a culpa da assoladora inflação deste país, da sua pobreza e da sua devastação? Se ao menos o cidadão (cerca de uns 70% dos que leêm estes blogs ) conhecessem o estado onde moram (SP) ou o vizinho PR, e constatssem as besteiras que falam?! Então, uma vez na vida pelo menos, tão defensores das florestas conheceriam uma,  maior que certos países  que começa no bairro de Parelheiros na divisa da cidade de São Paulo, na Serra do Cafezal, S. Lourenço. Juquitiba, Caucaia, Cotia, Vg. Grande. Ibiuna, Piedade, Pilar do Sul, São Miguel Arcanjo, Juréia, Iguape, Ilha Comprida, Cananeia, Capão Bonito, Itararé, querem mais? Indo no PR até Paranagua chegando na periferia de Curitiba e S. J. dos Pinhais. 500Km de exrtensão por mais de 200 Km de largura em certos trechos. Não conhecem nem o lugar onde moram, querem falar de agropecuáiria, meio ambiente e feijão?! Deve ser brincadeira. Abs. 

    1. Antes de tudo, Zé Sérgio

      você está em plena forma. Seu texto e argumentação são irretocáveis. Não sabe o quanto me irrito quando passo por essas extensões que você menciona e lembro do que leio por aqui. E ainda, sempre lá incrustrados, uns pedacinhos de terra plantada, às vezes até para comércio local. Mas, carinha está indo pro litoral e pensando no que o agronegócio faz de errado. Claro que faz. É brasileiro, não?

      Ah, a Júlia é a sãopaulina, sim.

      Abraço

      1. antes de tudo…

        Quanto à inteligência superior explicitada pelo clube do coração da sua filha, a informação foi sua mesmo. Quanto ao restante direita ou esquerda, preto ou branco pouco me importa.  A minha curiosidade é a informação correta e a discussão. E quem sabe ver um dia o país/paraíso que possuímos mas ainda não temos. Nem que seja para a sua ou para minha filha. Abs.

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