Argentina ainda tenta reativar economia e retomar controle da inflação

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Medidas já tomadas por Macri não tiveram impacto esperado pelos analistas

Jornal GGN – Passados quase seis meses da posse do presidente argentino Mauricio Macri, o novo governo conseguiu corrigir os desarranjos acumulados na administração anterior, mesmo com a minoria no Congresso: removeu os controles sobre o câmbio, reajustou tarifas, estabeleceu metas de inflação, retomou o acesso ao mercado de capitais internacional, e eliminou impostos sobre as exportações, entre outras medidas.

“No entanto, tais medidas tiveram impacto negativo não desprezível sobre a já frágil atividade econômica e realimentaram a inflação, também já elevada”, diz o economista Felipe Wajskop França, do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do banco Bradesco, em artigo. “Dessa forma, o principal desafio hoje de Macri é reativar a economia e controlar a inflação, sem reverter os avanços conquistados no último semestre”.

No próximo dia 10 de junho, Mauricio Macri completará seis meses de mandato. Nesse período, atingiu com sucesso a primeira etapa de ajustes na economia argentina. Retirou os controles e unificou os mercados de câmbio, eliminou ou reduziu os impostos sobre as exportações, em especial dos produtos agrícolas, reajustou as tarifas de energia, elevou a taxa de juros, reduziu a emissão de moeda e chegou a um acordo com os credores internacionais, permitindo acesso do país ao mercado de capitais internacional após 15 anos em default. Como resultado, a moeda argentina depreciou 43% desde então; as exportações, que caíram 17% em 2015, estão estáveis no acumulado de janeiro a abril; o governo prevê aumento da arrecadação equivalente a 0,4% do PIB com o realismo tarifário; e o país realizou uma colocação de US$ 16,5 bilhões no mercado internacional.

Contudo, o articulista diz que o repasse da desvalorização do peso e o aumento de 300% do preço da energia no atacado impulsionaram a inflação, que saltou de 26,9% para 40,5% entre dezembro e abril. Antecipando a ocorrência desses choques, o Banco Central argentino (BCRA) elevou os juros em 8,5 pontos percentuais, reduziu a emissão de moeda (a base monetária passou de um crescimento anual de 35% para 24% entre dezembro e maio) e o governo definiu uma trajetória de inflação a ser perseguida até 2019. Ao mesmo tempo, como forma de atenuar os efeitos da alta dos preços sobre a renda disponível das famílias, especialmente as mais pobres, o governo argentino anunciou no mês passado um pacote de medidas sociais, que deve atender 10 milhões de argentinos e custará aos cofres públicos 20 bilhões de pesos argentinos (o equivalente a 0,3% do PIB).

Ainda assim, a confiança das famílias vem se deteriorando persistentemente – o índice de confiança do consumidor calculado pela Universidade Torcuato di Tella recuou de 60,35 para 43,19 pontos entre novembro de 2015 e o mês passado. Ao mesmo tempo, a atividade econômica permanece enfraquecida. O PIB mensal, construído pela consultoria OJF, recuou 0,1% na margem nos primeiros três meses do ano, enquanto a produção industrial acumula retração de 2,4% no ano, até abril. Portanto, mesmo prevendo alguma acomodação da atividade no segundo semestre, o desempenho negativo exibido no final do ano passado e a expectativa de nova deterioração neste trimestre sustentam uma retração de 0,8% do PIB neste ano.

“O governo avalia que as medidas adotadas desde dezembro devem começar a refletir em maior crescimento e menor inflação a partir da segunda metade do ano”, explica França. De acordo com suas previsões, a inflação deverá desacelerar para uma média mensal mais próxima a 1%, ante média de 4,5% nos primeiros quatro meses do ano. “A descompressão dos aumentos de preços, em conjunto com uma redução dos juros, por sua vez, estimularia o consumo”, pontua o economista.

Nessa direção, o BCRA já iniciou o processo de distensão das condições monetárias, com a redução de 2,75 pontos percentuais da taxa de juros das LEBAC de 35 dias desde março (hoje em 35,25%). A decisão foi justificada com o recuo recente da inflação no atacado e aparente desaceleração dos núcleos de inflação no interior do país, em função da dissipação dos reajustes de energia.

Para França, o desafio do governo em reativar a economia, porém, esbarra em limitações fiscais e em um cenário externo bastante adverso. “A projeção do governo de reduzir o déficit primário de 5,4% do PIB em 2015 para 4,8% neste ano parece bastante factível. Mesmo porque nos primeiros quatro meses do ano, o governo foi capaz de reduzir o déficit primário em 1,76 bilhão de pesos (17,67 bilhões de pesos em termos reais), resultado de um aumento de 24% das despesas e de 29% das receitas, na comparação com o mesmo período de 2015. No entanto, a meta para o ano que vem parece bastante mais desafiadora”. 

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

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