As discussões recorrentes sobre juros e dívida pública, por Luis Nassif

Dia desses ouvi Ana Paula Vescovi na CBN. Ela é a atual Secretária Executiva do Ministério da Fazenda. Antes, passou pelo governo do Espírito Santo. Perseguiu o superávit fiscal como objetivo único e ajudou a esfrangalhar com a segurança e a educação do Estado.

No debate, indagada sobre os juros e a dívida pública, ensaia um discurso candente, colocando a dívida pública como contrapartida à mais relevante ação de um cidadão: economizar.

Diz que a dívida pública garante a aposentadoria nos fundos de pensão, da velhinha que preferiu guardar a gastar; que a poupança é a primeira das pré-condições para o desenvolvimento e daí por diante; que os juros da dívida garantem o pequeno poupador.

Um dos grandes problemas dos cabeças-de-planilha é separar o conceito da posologia – do modo de aplicação. Dosagens corretas de antibiótico combatem as infecções. Dosagens elevadas de antibiótica comprometem o organismo. Para pessoas como Ana Paula Vescovi, antibiótico é bom em qualquer circunstância. Ou, se juros são uma recompensa para quem poupa; se a poupança é peça relevante para o investimento; então qualquer nível de juros é virtuoso.

São muitos os engodos nesse tipo de argumentação.

O primeiro, é se valer dos pequenos poupadores – ou pensionistas dos fundos de pensão – como álibi para os grandes ganhadores. Na sua declaração de renda, como candidato a presidente João Amoedo declarou um patrimônio de R$ 423 milhões, metade dos quais aplicado em renda fixa.

Os juros são bancados por todos os contribuintes e consumidores do país de forma regressiva – aqueles que menos ganham comprometem parcela maior de sua renda com juros. Já a pirâmide dos investimentos mostra uma notável concentração nas mãos dos grandes investidores, conforme atestam todas as estatísticas sobre concentração de renda no país.

Em países civilizados, as carteiras de fundos de pensão são compostas por ativos de renda variável, elemento central para financiar os grandes investimentos. Por aqui, juros elevados praticamente impedem o deslanche do mercado de renda variável. A Selic é a taxa básica de juros. Uma Selic com taxa de 10% ao ano, por exemplo, inviabilizará qualquer lançamento que ofereça pouco acima disso. Portanto, a taxa de juros tem papel central na (in)viabilização dos investimentos.

Outro ponto recorrentemente levantado pelos cabeções é que as taxas de juros brasileiras, especialmente os juros reais (acima da inflação), dos mais elevados no mundo, visa compensar a insegurança do poupador com o bloqueio da poupança no governo Collor – 28 anos atrás!

Não se cuida sequer de coerência na defesa dos juros elevados. Ora é por conta da insegurança do tomador, ora por conta das incertezas inflacionárias, ou da própria insegurança em relação à dinâmica da dívida pública – que está diretamente ligada ao nível dos juros praticados.

Em países mais avançados, há do mesmo modo uma guerra ideológica em torno dos juros. Mas ela se dá no ambiente acadêmico, na polêmica em torno do conhecimento técnico acumulado. Por aqui, tudo é reduzido a essas simplificações recorrentes – preciso garantir o lucro do Amoedo para não prejudicar a aposentadoria privada do assessor do Amoedo, ainda que, para tanto, precise sacrificar a aposentadoria pública da diarista da casa do Amoedo.

Luis Nassif

2 Comentários

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  1. Só de perdão em dívidas

    Só de perdão em dívidas bancárias o governo Temer perdoou e deixou de cobrar 30 bilhões em três meses, de bancos

    E se isso fosse revertido como desconto integral pra população endividada?

    Se esse perdão fosse nos EUA o presidente de lá seria preso, mas aqui é mais do mesmo com o aval da imprensa esgoTo, nem na coxinhagem o brasileiro se garante

     

  2. ah Nassif, se tu soubesse o

    ah Nassif, se tu soubesse o que é econometria saberia a maldade dessa expressão “cabeça de planilha” hehe.. como essa disciplina dá trabalho, se o sujeito é mestre em economia ele ralou muito, mas muito mesmo estudando correlações entre todas as variáveis da economia.. aí vem o gozador do Nassif e cria essa expressão.. os malucos mestres em economia devem ter pirado.. hehe

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