Na semana passada, o praticamente ex-Ministro da Fazenda Guido Mantega deu uma sucessão de entrevistas sobre como será a política econômica… em 2015. Ministro da fazenda mais longevo da história, Guido deixará o cargo no final do ano, mas parece fazer questão de beber até a última gota o cálice do poder.
Deixa lições muito importantes sobre o que um Ministro da Fazenda não deve fazer no exercício do cargo:
Lição 1 – um Ministro jamais deve avançar sobre políticas econômicas sob responsabilidade de seu sucessor.
Mudanças de Ministro são relevantes para mudanças de expectativas. Quando o Ministro que sai opina sobre a política que entra, além de deselegante prejudica as tentativas de mudar as expectativas.
Lição 2 – informações pontuais sobre temas econômicos não ajudam na compreensão do todo.
Indagado sobre o ajuste fiscal, Guido informa que o governo vai combater os exageros do seguro-desemprego e os subsídios creditícios do BNDES. Dois paus não fazem uma canoa. Uma estratégia fiscal é desafio muito mais complexo, que passa pela definição de metas para as grandes contas nacionais, por explicações claras sobre o custo do ajuste e as formas de minorá-lo, por indicações objetivas sobre as metas a serem perseguidas nos próximos anos.
Lição 3 – não pode apresentar dados positivos isolados como se fossem o todo.
Nas entrevistas concedidas, Guido esmera-se em sua tática preferida e desgastada: apresentar partes positivas da realidade como se fosse o todo. Por exemplo, quando indagam dele sobre a inflação, informa que do mês passado para cá caiu o IPCA. O que não significa rigorosamente nada. Se sai um indicador negativo do PIB (Produto Interno Bruto), informa que os “indicadores de antecedentes” apontam para uma recuperação mais à frente – que nunca acontece.
Lição 4 – um Ministro não pode gastar previsões continuadas que nunca se realizam.
Periodicamente, Guido e o Secretário de Política Econômica Márcio Holland realizavam reuniões com gestores de mercado. Esses gestores são a correia de transmissão entre as autoridades econômicas e os investidores.
Traçado um cenário, se o gestor é convencido da sua consistência montará sua estratégia financeira na direção apontada.
Sucessivamente, Guido e Holland apresentavam seus cenários, que eram desmentidos pelos fatos dias depois.
A reação de Guido era convocar uma nova entrevista em que apresentava novas projeções, novos subsídios, que acabavam novamente derrubadas pelos fatos.
O resultado final é que perdeu a maior arma de um Ministro: a palavra, a capacidade de coordenar expectativas através do discurso.
Lição 5 – um Ministro tem que extrair o melhor da sua equipe e não pode se meter em disputas de ego com seus subordinados.
Assim que assumiu o Ministério do Planejamento, início do governo Lula, o cargo de Secretário Executivo foi entregue a um belíssimo funcionário de carreira, com ideias muito claras sobre o aprofundamento da reforma administrativa. Bastou um mês de boa repercussão das suas propostas para Guido indispor-se com ele e demiti-lo. Esse mesmo estilo pequeno foi aplicado na Fazenda.
Lição 7 – é impossível passar a perna no mundo.
Mantega cometeu a mais primária ousadia da história. Em um mercado globalizado, com as contas nacionais sendo acompanhadas internacionalmente, financeiro, ele planejou a esperteza de passar a perna no mundo.
Lição 8 – Ministros de nível nunca ficam “de mal” de seus críticos.