BCE prepara pacote para evitar colapso dos bancos

De O Globo.com

Bancos europeus terão ‘caminhão de dinheiro’ para evitar colapso 

Banco Central Europeu prepara novo tiro de ‘bazuca’ para resgatar bancos

SÃO PAULO — O Banco Central Europeu (BCE) prepara novamente sua ‘bazuca’ para resgatar os bancos europeus da crise. Com problemas de liquidez e ameaçados de ter seu rating rebaixado pela agência de classificação de risco Moody’s, o BCE deve emprestar a essas instituições um verdadeiro ‘caminhão de dinheiro’ até o fim deste mês. Calcula-se que a oferta deve girar entre € 600 bilhões e € 1,2 trilhão nesta segunda etapa do plano de refinanciamento, um dos maiores que já se tem notícia. A medida emergencial tem como objetivo evitar que os bancos fiquem sem dinheiro para conceder crédito às pessoas e às empresas, ou mesmo honrar suas dívidas, aprofundando ainda mais a crise do euro.

De acordo com analistas, o BCE pode duplicar o valor que foi ofertado aos bancos em dezembro do ano passado – € 489 bilhões de euros, na primeira etapa do plano. Como o BCE vai oferecer o valor que os bancos requisitarem, aparentemente sem limite, desde que se ofereçam garantias, várias instituições indicaram que vão duplicar ou mesmo triplicar os seus pedidos de recursos. Nesse caso, preveem analistas, o montante pode chegar a € 1,2 trilhão ou mesmo € 1,5 trilhão. Com menos depósitos sendo feitos pelos cidadãos europeus, assustados com o futuro da moeda única, é o dinheiro do BCE que vai capitalizar as instituições financeiras e evitar a secura de crédito.

— Em dezembro passado, o BCE já havia desarmado ‘a bomba-relógio’ da falta de liquidez oferecendo € 489 bilhões a mais de 500 bancos. Foi esse dinheiro também que aliviou a pressão sobre os títulos da dívida de muitos países, que estavam vencendo e tinham que oferecer juro elevado para serem rolados. Sem esse dinheiro, haveria muito mais pressão sobre a dívida soberana neste início de ano — diz o economista Raphael Martello, da Consultoria Tendências.

Isso porque um cálculo feito pelo banco alemão Deutsche Bank mostrou que, em 2012, haverá vencimento de € 1,3 trilhão em dívidas soberanas dos países da zona do euro. Desse total, € 486 bilhões vencem no primeiro semestre. Calcula-se que os bancos tenham outros € 600 bilhões de suas próprias dívidas vencendo este ano. Sem dinheiro circulando em caixa, tornam-se fortes candidatos à insolvência.

— O BCE ajudou os bancos e acalmou o mercado. Tanto que países com problemas para refinanciar suas dívidas, no fim do ano passado, voltaram a fazer leilões de títulos de dívida com taxa de juro mais baixa – lembra o vice-presidente de Tesouraria do banco alemão WestLB, Ures Folchini.

Para o economista Raphael Martello, da Tendências, a ação de capitalização do BCE é necessária, mas traz embutida um problema. É que uma parte desse dinheiro não chega à economia real em forma de empréstimos. O BCE lança linhas de financiamento com juro de 1% aos bancos, e estes por sua vez investem nos títulos da dívida soberana da zona euro. Depois, utilizam esses títulos como colateral (uma espécie de garantia) junto do BCE para voltarem a se financiar.

Na prática, as instituições ganham o diferencial entre o juro de 1% cobrado pelo BCE e a taxa de remuneração que recebem de países emissores de dívida. A taxa é de 4% no caso espanhol, 7% para a Itália e 13% para Portugal.

— A diferença entre a taxa de juro do país emissor e o 1% cobrado pelo BCE fica com o banco — explica Martello.

Para o economista, a ação do BCE é uma solução temporária porque ‘compra-se tempo’ até que ocorra uma solução para a crise do euro.

— Mas os recursos ajudam a derrubar o juro cobrado pelos títulos, reduzindo o custo da dívida, o que é importante — alerta o economista.

Para o presidente do BCE, o italiano Mario Draghi, o dinheiro injetado nos bancos em dezembro já está circulando na economia. A queda brutal do juro de alguns títulos soberanos, como os da Espanha e Itália, que chegaram a 7% e 6% respectivamente, em dezembro passado, é uma prova disso. Hoje, esses papéis estão sendo rolados por juro de menos de 3%.

Draghi rebateu as críticas de que os recursos do BCE não chegam a economia real.

— Esse dinheiro capitaliza os bancos, e parte acaba sendo usada para empréstimos evitando o colapso do crédito — disse Draghi.

Luis Nassif

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