Bolsa de valores vai exigir dose maior de cautela no segundo semestre

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Jornal GGN – O primeiro semestre não foi dos mais fáceis para a bolsa brasileira. Por conta de uma série de fatores – como a crise internacional e a desaceleração econômica chinesa –, o mercado fechou a primeira metade do ano com fortes perdas, e tudo indica que a instabilidade deve se manter nos próximos meses.

O Ibovespa (índice da Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de São Paulo) encerrou o primeiro semestre do ano com uma perda acumulada de 22,14% – como comparativo, o S&P 500, índice de referência da Bolsa de Nova York, tem um ganho total de 13,69%.

Alguns pontos podem ajudar a explicar tamanho descompasso. A começar pela própria composição do Ibovespa, uma vez que um terço das companhias que formam o índice de referência atua no segmento de commodities, como explica Elad Revi, analista da corretora Spinelli. “Avaliando a Vale, que é mais conhecida, vemos que dois terços de sua produção é exportada para a China, que tem apresentado um cenário bem desfavorável, de desaceleração econômica muito forte e contração do mercado de crédito, e isso contrai a economia”. O Brasil tem uma forte dependência da China em sua balança comercial, e na medida em que seu principal comprador desacelera a economia, as blue chips são diretamente afetadas.

Com as empresas do conglomerado X, do empresário Eike Batista, chega-se a 40% do Ibovespa. E o momento também não é dos melhores – por exemplo: o estaleiro OSX não paga seus fornecedores há dois meses, e não possui ativos suficientes para cobrir as dívidas existentes. “Também existe a questão do aporte de R$ 1 bilhão que Eike deveria fazer, e que ainda não fez. Boa parte da família X não passa por um momento favorável”, explica Revi.

O foco se amplia quando se avaliam as companhias com intervenção governamental direta, como empresas de saneamento, energia e concessão de rodovia, segundo o analista. “Por exemplo: o governo acabou de decidir que não haverá reajuste dos pedágios com base na inflação, mas afirmou que haverá ressarcimento da dívida. A princípio, o impacto sobre as ações da CCR Rodovias é neutro, uma vez que ela ganhará caixa com a isenção, mas houve um grande impacto em outros setores”.

Na visão de Leonardo Milane, estrategista da corretora Santander, a bolsa de valores é um reflexo da economia real. “As perspectivas para a economia são animadoras ou não? Na minha visão, não são: temos consumo desacelerando, consumidor alavancado e com menor poder de compra, além da deterioração das contas do governo. E a questão do Federal Reserve (Banco Central norte-americano) pode continuar pegando, além da China patinando”.

No caso dos Estados Unidos, a sinalização de que o pacote de incentivos mantido pelas autoridades para manter a retomada econômica será interrompido neste segundo semestre foi suficiente para causar um terremoto no mercado como um todo. Isso pode ser considerado positivo, por mostrar que a maior economia global encontra-se em recuperação, mas não será suficiente para o mercado brasileiro se recuperar caso a conjuntura doméstica não melhore.

“Esperamos que a bolsa tenha uma performance de neutra para negativa no mês de julho, afetada por uma temporada de resultados que será fraca. Ela (a bolsa) pode ficar de lado (com pouca liquidez), mas para cima não vai”, acredita Milane.

Quanto à temporada de balanços referentes ao segundo trimestre, que terá início na segunda quinzena de julho, o estrategista da Santander Corretora acredita que o prognóstico não deve ser favorável para a economia brasileira. “Se a economia interna estiver ruim, não sei se vai ter força para descolar das bolsas lá fora, pois a bolsa é reflexo do nível de atividade”.

A teoria de Milane confirma as impressões do analista da Spinelli, em que metade das ações do Ibovespa estão sendo prejudicadas pelo cenário econômico desfavorável, externa e internamente. “Por mais que a macroeconomia seja maior ou menor em empresas, existe uma conjuntura setorial que puxam as outras para baixo. Faltam boas notícias, falta a melhora da economia, falta os Estados Unidos provar que estão bem para reduzir estímulos e falta a China conseguir melhorar, além de uma melhora na gestão do governo”, afirma Elad Revi.

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

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