Brasil parece uma sociedade de castas, diz Le Monde

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Matéria publicada neste sábado (15) pelo jornal Le Monde com o título: “O Brasil tem ares de uma sociedade de castas”
 

Do RFI

Desigualdade no Brasil lembra “Os Miseráveis” de Victor Hugo, compara Le Monde

Le Monde publica neste sábado (16), em seu caderno de economia, a terceira reportagem da série desigualdades, enfocando a situação no Brasil e na Rússia. As análises aprofundam os dados do projeto World Wealth and Income Database (base de dados sobre patrimônio e renda), dirigido pelo economista francês Thomas Piketty. O documento divulgado na quinta-feira (14) aponta que, desde os anos 80, 1% da população mais rica do planeta aproveitou do crescimento econômico duas vezes mais do que os 50% mais pobres.

As duas potências “emergentes correm o risco de uma situação extrema”, afirma o vespertino. Na Rússia de Vladimir Putin, 21 milhões de pessoas vivem com uma renda inferior ao mínimo vital. O ex-país comunista, estritamente controlado pelo Kremlin, é um dos mais desiguais do mundo.
 
No Brasil, as “esperanças” da era Lula, que tirou da pobreza milhões de pessoas, deram lugar à amargura no país do chamado “racismo cordial”, escreve Le Monde. As desigualdades voltam a crescer. O economista Marc Morgan, aluno de Piketty, fez o estudo sobre o Brasil e calculou a renda dos mais ricos do país. Segundo os dados, 1% da população, ou seja, 1,4 milhão de pessoas, recebem por ano € 287 mil (cerca de R$ 1,1 milhão). Já os super-ricos, que representam 0,1% da população, ganham por ano 40 vezes mais do que o equivalente à renda média estimada de todos os brasileiros. 

Diante desses números, as desigualdades no Brasil são comparáveis à situação no século 19 na França, quando Victor Hugo escreveu o romance “Os Miseráveis”, avalia o texto.

Desigualdade como escolha política

A correspondente do Le Monde no Brasil, Claire Gatinois, começa o artigo traçando o perfil de uma empregada doméstica da periferia de São Paulo que acreditou no milagre de “melhorar de vida” e hoje constata que “nada mudou”.

A reportagem cita Marc Morgan, para quem “a história recente do Brasil indica que o país fez uma escolha política pela desigualdade”. “Um dos pilares da permanência da enorme diferença de salários é a política fiscal que faz os mais pobres pagarem proporcionalmente mais impostos do que os mais ricos”. Além disso, as fraudes são uma prática utilizada com frequência pela classe A para escapar do fisco.

A manutenção dos privilégios da elite dá ao Brasil “ares de uma sociedade de castas”, como a denunciada por Gilberto Freyre no livro “Casa grande e Senzala”, denuncia o artigo. Desigualdade de classe e de raça. Ser negro no Brasil significa com frequência “ser condenado à miséria”, constata Le Monde.

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

8 Comentários

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  1. Quando FHC- da casta dos intocáveis- for a Paris perguntem a ele

    que tem apartamento em ponto nobre da cara capital, como foi conseguido. Como é amealhar uma fortuna apenas tendo sido professor de cursinho, escritor de livros que precisam ser esquecidos e cargos públicos?

    Como é ser um sociólogo que ajudou a condenar a sociedade do Brasil a tão execrável desigualdade?

    1. quando….

      Caro Lucio, não é somente FHC, não !! Toda nossa Elite Esquerdopata AntiCapitalista, aquela que faria política de outra forma, que era contra o tal consumismo tem residência em Paris. Ou suas famílias. Lisboa virou filial de Brasilia. Aos finais de semana poderíamos deslocar o Comando do país, dos estados e muniícipos grandes e médios, para terras portuguesas. Ou NY, Los Angeles ou Miami. Você ficaria admirado como yankees ou imperialistas das grandes potências, são tão simpáticos e amigos, quando o discurso está fora de terras tupiniquins. É revelador. (P.S. No últimoverão europeu, as cidades estavam invadidas por chineses e russos. Chineses até entendemos. Mas os tais russos, que vivem na pobreza citada. E tem metade da população brasiliera? Pareceu perseguição do Le Monde)    

  2. Conclusão: no tempo do Lula o Brasil era outro

    O texto reforça a narrativa da inclusão na era Lula. Mas, não é esta a questão central do texto. A afirmação de que o Brasil tem uma sociedade de castas nos aponta justamente outras questões: qual a real profundidade das mudanças durante os governos Lula/Dilma sob este aspecto? Em algum momento esta REALIDADE social foi levada em consideração? A inclusão gerou um reforço da cidadania, ou será que não passou de um processo de inclusão da população brasileira no mercado de consumo? Foi suficiente a ponto de se falar em “revolução”, “mudança”? As esperanças da sociedade organizada e do trabalhador comum foram realmente atingidas? A desigualdade social no Brasil pode ser grande demais para ser resolvida durante três mandatos, da mesma forma que esta não chegou aos patamares atuais logo depois do golpe. A análise do autor sobre as pesquisas do Le Monde não acrescentam nada que não possa ser usado eleitoralmente. Prestar loas aos avanços econômicos do Brasil não apaga o massacre contínuo nas periferias, a cooptação de parcela da população para a marginalidade, a insegurança jurídica/institucional que só se aprofundou com o golpe, mas que nunca deixou de existir, mascarada pelos pactos sociais por cima, do tipo “me deixe governar que eu te deixo fazer qualquer coisa”. Também não apaga a entrega das instituições públicas aos interesses das próprias corporações, a entrega do judiciário à oposição, os incentivos econômicos aos meios de comunicação, a vista grossa aos esquemas de sempre, os delcídios, os homicídios, o crime organizado, o pobre eternamente em situação de risco, as UPP’s, a ABIN, a polícia Federal, as mortes no campo, os ruralistas defenestrando o cerrado, o semiárido que agradece à transposição do velho Chico enquanto reclama o semiárido que sofre com a salinização do solo, o sumiço dos peixes, a farra das mineradoras, a farra das hidrelétricas, a farra das empreiteiras, o companheiro Joesley Batista… Enfim, o cobertor cobrindo a cabeça e descobrindo todo o resto. Tudo porque não há alternativa. E, lógico, idiotas são os que, sem motivo algum, acreditaram que o PT é um partido de esquerda. A culpa é deles.

    Pena que a classe média é tão burra. Se fossem espertos poderiam odiar o PT à vontade. Mas, pelos motivos certos.

    1. Claro que o presidente Lula

      Claro que o presidente Lula não liderou nenhuma “Revolução” porra nenhuma. E, pelo que tenho acompanhado, o Presidente que melhor conduzio essa porra de país, nunca se manifestou como revolucionário de zorra alguma. Mas, ainda assim, que merda de país se pode construir, se até algumas pequenas ações, pequenas para os que estão habituados a fazer três refeições por dia. Entretanto, para os miseráveis que passaram a almejar algo além do alimento e da luz elétrica foram ações muito valiosas e importantes.

      Também fica muito claro que, para boa parte da pequena burguesia urbana o governo do PT foi ótimo, mas, isso em boa medida não alcansa a cabeça amestrada por longos anos de adestramento idiotizante desses indivíduos. Portanto, que votem nos boçalnaros da pqp.

      Orlando

  3. Realmente, é uma situação

    Realmente, é uma situação vexaminosa. Se bem que, vergonha na cara, é mercadoria que, além de escassa, é de baixo valor de mercado, sobretudo para as fuças dos extratos da classe média mais influente. Ficamos assim, à mercê do bando de fdp mais reacionários do Brasil. 

    Estão ai, pra não me acusarem de equivocado os concurseiros embrulhados na fraude-a-jato, e, de membros do stf mais covardes que se tem notícia na historia do país. Diria que essas elites de merda rivalizam em provocar vergonha aos brasileiros com sua infame omissão, a contribuir na manutenção ad aeternum desse quadro de miséria.

    O Imperador José II da Austria, ainda lá atrás no século XVIII, já se indignava com a aristocracia parasitaria que sugava se apropriando até da alma do campônio. Aqui no Brasil, estes canalhas da elite de merda em vez de trabalharem em prol do povo que os sustentam, são os que mais se empenham em mantê-los na mais grotesca exposição ao saque das elites dominantes. Quando não o fazem “de oficio,” sua covardia, seu oportunismo, seu carreirismo imoral e corrupto, são exemplos mais que deletérios para animar os latentes instintos das hienas atentas, sempre a rondar em volta.

    Antes de terminar seu rosário de enganações, trapaças, e corrupção grossa. Os moralistas do Paraná já deixam à mostra, o rabo felpudo da sujeira grossa que armaram. Sujeira, que por certo, contribuirá para o agravamento desse quadro lastimável denunciado na matéria do Le Monde.

    Não seu com que cara, canalhas do calibre de senhores como: Sérgio Moro, Dallagnol, Gilmar Mendes. Dentre tantos outros da mesma “espécie,” tem o cinismo de viajarem ao exterior com os rostos à mostra. Se ao menos encobrissem as desavergonhadas caras por debaixo de uma burca, que seja.

    Orlando

    1. acredito que todos os mencionados…

      são do tipo que ao defecarem no passeio público, a vista de todos, cobrem a cabeça com jornais……………….

      acreditam que assim não são identificados nem passam vergonha

  4. posso responder?

    acredito que foi por FHC  ter criado o mercado financeiro de governo……………..

    nada mais que uma armadilha para o próximo governo, forçando-o a criar o mercado político ou bazar de projetos regionais que por sua vez seguiram despejando dinheiro no mercado financeiro de governo…………….

    sempre querem ganhar duas vezes, na entrada e na saída

    o que ninguém esperava ficou por conta dos corruptos e ladrões regionais que esquartejaram as verbas e projetos locais, para assim poderem roubar à vontade e com mais facilidade e voltando a cobrar do mercado financeiro de governo atual, Temer, toda a dinheirama que desviaram

  5. Mas o Brasil sempre foi uma

    Mas o Brasil sempre foi uma sociedade de castas e em cada época histórica uma determinada castas esteve no poder. Durante o Império eram as castas da Nobreza e do Clero Católico. Com a proclamação de República foi a vez da casta dos Cefeicultores. Com Vargas vieram a casta dos políticos fascistas. Na Ditadura foi a casta dos militares. Hoje em dia quem manda é a casta do Judiciário.

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