Carta aos jornalistas 3: a diferença entre os tipos de investimento, por Luis Nassif

A Economia adota medidas que atrasam investimentos produtivos, para beneficiar investimentos financeiros, sem nenhum impacto sobre nível de atividade, e se diz que sem esses investimentos, o país acaba.

Um dos bordões mais exasperantes do jornalismo econômico atual, é a correlação automática entre Lei do Teto e investimentos.

Repete-se à exaustão que a manutenção da Lei do Teto é essencial para a volta dos investimentos. Se a Lei do Teto for respeitada, os investimentos voltam e o Brasil será salvo. E vice-versa.

Há uma ignorância ampla sobre as diversas formas de investimento.

Há duas formas de investimento, uma está diretamente relacionado com crescimento da economia; a outra é um mero movimento especulativo, de compra de ativos já existentes.

O investimento relevante é o que aumenta a capacidade produtiva instalada. Significa aumento da produção, do emprego, da compra de insumos etc.

Ora, uma empresa irá aumentar a capacidade produtiva apenas se a produção atual não atender a demanda. Mede-se essa capacidade através dos indicadores de utilização do nível de capacidade instalada. Enquanto houver ociosidade nas indústrias não haverá investimento. Quando a capacidade instalada estiver perto da ocupação total, deflagra-se o processo de investimento.

Depois, ele analisará o cenário à frente, os riscos de inflação e os movimentos do dólar. Mas o ponto central é a demanda.

Portanto, se uma determinada medida da Economia afeta a demanda, obviamente afetará o investimento. É o caso da Lei do Teto. Quando reduz os gastos públicos, afeta imediatamente a demanda privada. Se afeta a demanda privada, reduz ou inverte o ritmo de crescimento da demanda. Se reduz a demanda, reduz a possibilidade de novos investimentos.

Portanto, não dê crédito ao jornalismo que reduz todo o processo de criação de investimentos à Lei do Teto.

Então por que essa história de que a Lei do Teto é essencial para trazer investimentos? Porque está se referindo ao investimento especulativo, o que entra exclusivamente para adquirir ativos já existentes, esperando sua valorização e, portanto, com reflexos mínimos no nível de crescimento da economia. Não será aplicado na compra de máquinas novas, na ampliação da capacidade instalada. Apenas permitirá a venda de ações já existentes.

Por isso mesmo, quando Paulo Guedes diz – e os papagaios repetem – que sem Lei do Teto não virá investimentos e o país acabará, é um blefe primário. Jornalista que cai nessa é jornalista de segunda classe. A Economia adota medidas que atrasam investimentos produtivos, para beneficiar investimentos financeiros, sem nenhum impacto sobre nível de atividade, e se diz que sem esses investimentos, o país acaba.

Luis Nassif

3 Comentários

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  1. Jornalista de segunda classe?
    Nassif, são poucos os que não são!
    Há, contudo, os que são voluntariamente e esses são realmente o grande problema.
    Receber, mesmo que indiretamente, favores para “papagaiar” essas teses é muito mais que ser de segunda.

  2. Prezado Jornalista Luís Nassif, muito grato pelas “Cartas aos jornalistas”.
    São verdadeiras aulas que auxiliam a compreensão e entendimento de leigos, como eu.
    E que venham mais “Cartas”!

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