Carta as jornalistas 4: os conceitos de externalidades positivas e negativas

Para melhorar o balanço, muitas empresas reduzem gastos com manutenção e meio ambiente. E ficam sujeitas a multas expressivas no futuro. Seria uma maneira de fugir de armadilhas que quase liquidaram com grandes empresas brasileiras, como a Vale, a Sadia, o Unibanco.

Real-Moeda Nacional

Devido ao fato da economia ser uma realidade complexa, interligada, um evento econômico não fica restrito exclusivamente ao objetivo maior a que ele se destina. Tem implicações externas, positivas ou negativas. Mas há uma incapacidade crônica dos economistas e do jornalismo econômico em identificar e conferir peso a essas externalidades.

Vamos a um exemplo simples.

Anos atrás, o aumento do salários mínimo deflagrou uma série de críticas sobre os custos fiscais, já que servia para reajuste de benefícios da Previdência, entre outros preços.

Na época, o IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas) divulgou um estudo, com base na Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios), mostrando que em 53% dos lares com aposentados e pensionistas, eles eram o arrimo da família. Ou seja, seus proventos garantiam toda a família.

O papel maior de uma política social é garantir direitos básicos. Mas suponha que a discussão fosse exclusivamente sobre a questão fiscal:

  1. A aposentadoria garantiu melhor saúde para a família, por lhe dar acesso a medicamentos. Logo, teve impactos futuros sobre os gastos em saúde.
  2. Com a garantia da aposentadoria, as crianças puderem entrar mais tarde no mercado de trabalho,. Significa que tiveram mais tempo para estudar, com impactos positivos na educação.
  3. Com a garantia do sustento, as crianças tornaram-se menos suscetíveis de serem cooptadas pelo crime. Portanto, economia futura nas verbas de segurança.
  4. Vamos a outra questão simples:
  1. A renda básica custou xis na atual pandemia.
  2. Segundo todos os economistas, foi essencial para impedir uma queda maior do PIB.
  3. Ora, a receita fiscal corresponde a um multiplicador do PIB. Se a queda foi menor que o esperado, a diferença corresponde a uma redução da perda fiscal. Portanto, o custo efetivo da renda corresponde ao que foi distribuído, menos o impacto positivo nas contas fiscais.

O BNDES é a única instituição que trabalha com esse conceito. Quando financia uma empresa, a conta fiscal final é a seguinte:

Subsídio fiscal (diferença entre a taxa cobrada e a taxa básica) – impostos pagos na construção da empresa – impostos pagos na produção durante determinado número de anos – impostos sobre folha de salários.

De que maneira cobrir as externalidades, sem estudos específicos sobre o setor? Através da avaliação empírica da realidade.

Por exemplo, como matéria de reforço, sobre o aumento (ou redução) do salário mínimo, fazer entrevistas com especialistas em segurança pública para obter estatísticas sobre efeitos da renda na criminalidade. Especialistas em educação poderiam mostrar estatísticas sobre relação entre evasão escolar e renda familiar. Especialistas em saúde levantariam dados sobre a questão na baixa renda.

Especialmente, colocar foco nas famílias que dependem do salário mínimo seria uma maneira objetiva de dar colorido às reportagens com casos reais.

Em suma, colocar o mundo real dentro das planilhas do cabeção.

Na outra ponta, por exemplo, analisar os balanços de empresas incluindo a questão ambiental e de segurança no trabalho. Para melhorar o balanço, muitas empresas reduzem gastos com manutenção e meio ambiente. E ficam sujeitas a multas expressivas no futuro. Seria uma maneira de fugir de armadilhas que quase liquidaram com grandes empresas brasileiras, como a Vale, a Sadia, o Unibanco.

Luis Nassif

2 Comentários

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  1. Quem dera tudo isso fosse só burrice, mediocridade…
    É mais que isso, é interesse (escuso egoísta e imediatista) e má fé decorrente.
    Vejam “jornalistas” como Augusto Nunes, Sardenberg, Leitão, Mer(v)al e tantos mais, a serviço. Vejam quanto ganham e quanto poder, acesso e influência têm.
    Os capatazes e corretores do braZil querem mais é um ganho fácil e rápido, seja devastando uma “florestinha”, vendoando um imenso campo de petróleo e gás, negociando recursos naturais que poucos países têm em quantidade e diversidade etc. Os “jornalistas” são apenas cúmplices de seus patrões, que ganham com a (de)formação de opinião, associados à esta nefasta curriola.
    Não ligam a mínima para seus compatriotas, não tem o mínimo RESPEITO por essa “gentalha” que lhes atrapalha (e nem sou poeta, hein!). Este Zé Povinho que infesta suas praias e, de vez em quando, até aviões!
    Este talvez seja o ponto:
    Respeito não é dado.
    Se impõe.

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