Caso opte pela independência, Escócia precisará pensar sua moeda

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Sugestão de Alfeu

do Deutsche Welle

Moeda será desafio caso Escócia opte pela independência

Libra, euro ou moeda própria? Se optar mesmo pela independência, Escócia terá um problema monetário urgente para resolver.

Caso a população escocesa opte pela independência do Reino Unido, no referendo marcado para o dia 18 de setembro, a Escócia terá que lidar com duas questões importantes: a readmissão na União Europeia (UE) e a reestruturação da constituição financeira do país. Se saírem vitoriosos, os nacionalistas escoceses podem ter que adicionar aos planos de construção de um novo país a criação de um banco central e de uma nova moeda.

O plano principal do Partido Nacional Escocês (SNP), do qual faz parte o primeiro-ministro da Escócia, Alex Salmond, prevê que o país continue usando a libra esterlina e dividindo o Banco da Inglaterra com o resto do Reino Unido.

Mas os três maiores partidos políticos britânicos já declararam que não estão blefando ao afirmar que são contra essa união monetária. Assim, a questão sobre qual moeda a Escócia independente adotaria continua sendo o maior ponto de discórdia antes do referendo.

Se os líderes britânicos não mudarem de ideia e aceitarem a união monetária, restará à Escócia as opções de adotar unilateralmente a libra esterlina, tentar ingressar na zona do euro ou criar uma moeda e um banco central próprios.

Manter a libra esterlina

País já imprime suas libras esterlinas

Apesar de a campanha contrária à separação insistir que, com a independência, a Escócia seria proibida de continuar usando a libra esterlina, o país poderia simplesmente prosseguir utilizando a moeda de maneira informal.

Mas essa alternativa deixaria a Escócia sem a capacidade de imprimir sua própria moeda e assim fornecer liquidez para seus bancos em tempos de crise. A opção precisa ser avaliada com cuidado, pois o segundo maior setor do país, depois do petróleo e gás, são os serviços financeiros.

O Panamá, por exemplo, adotou o dólar americano, o que é chamado de dolarização da economia, e em Hong Kong a moeda é indexada ao dólar, o que é muito similar.

Mas, diferentemente da Escócia, Hong Kong possui grandes reservas em moeda estrangeira para atenuar um possível golpe em seus bancos em tempos difíceis.

“A adoção da libra esterlina é o arranjo provisório mais provável e, portanto, o melhor resultado”, diz Ewen Cameron Watt, do Instituto de Investimentos BlackRock.

Na zona do euro

Outra opção para a Escócia seria tentar ingressar na zona do euro. Mas essa alternativa já foi descartada por Salmond. O primeiro-ministro afirmou que, apesar de a Escócia estar ansiosa para fazer parte da União Europeia, não tem interesse na moeda comum.

“Você não pode ser forçado, obrigatoriamente, a entrar na zona do euro. É uma coisa voluntária. Como a Inglaterra é nosso maior mercado, devemos ficar com a libra”, declarou Salmond no fim de agosto na Bélgica.

A adesão à UE, entretanto, está atrelada ao euro. Bruxelas determina que todos os países-membros se inscrevam para a adesão à moeda comum em algum momento. Os candidatos precisam indexar sua moeda ao euro por um certo período antes de introduzir formalmente a mudança.

A UE também exige uma boa gestão fiscal dos países candidatos, que devem manter sua dívida igual ou inferior a 60% do seu Produto Interno Bruto (PIB).

Antes de pensar no euro, a Escócia precisaria primeiramente ingressar no bloco econômico. “Se uma parte de um território de um país-membro deixar de fazer parte deste Estado para se tornar independente, os tratados [da UE] não se aplicam mais a esse território”, declarou o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso.

Entretanto, Barroso completou que qualquer país europeu que preencher os critérios pode se inscrever para fazer parte da União Europeia.

Moeda própria

A alternativa que restaria à Escócia é a adoção de uma moeda própria. Como o país já imprime suas próprias libras esterlinas, já superou um dos obstáculos para ter sua própria moeda, considerada por alguns especialistas a melhor opção.

“Perante a elevada dívida pública, com a qual Escócia iniciaria sua vida independente – nossa previsão é de uma dívida de 86% em relação ao PIB – uma união monetária seria uma camisa de força em termos de opções políticas para o país”, afirmou Monique Ebell, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Econômicas e Sociais do Reino Unido.

Se não tiver sua própria política monetária ou a capacidade de desvalorizar a moeda, por exemplo, a Escócia pode vir a ter problemas para compensar um possível deficit futuro no seu orçamento, afirma Ebell, e acrescenta que essas restrições se aplicam ao uso formal ou informal da libra e ao euro.

 

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

2 Comentários

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  1. “O plano principal do Partido

    “O plano principal do Partido Nacional Escocês (SNP), do qual faz parte o primeiro-ministro da Escócia, Alex Salmond, prevê que o país continue usando a libra esterlina e dividindo o Banco da Inglaterra com o resto do Reino Unido.”

    Ou seja, continuará dependente da Grã Bretanha. Nesse caso, o SNP estaria criando o Reino Desunido.

    Pensando bem,  o SNP e Alex Salmond poderiam fazer parte do “Shadow Cabinet” que Marina formará a partir de 2015. Explico, fazer proposta de projeto de independência sem definir o principal, fica parecendo o programa de Marina, ninguem sabe o que vai dar.

    A política externa da delirante candidata preve um realinhamento com os países hegemônicos, então, nada mais chique do que ter britãnicos em sua acessoria.  André Lara e seus cavalos iriam adorar a companhia.

  2. Caso se torne independente,

    Caso se torne independente, manter a Libra seria um contra senso.

     

    Afinal de contas a moeda da Grande Bretanha é a Libra e não o Euro.

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