China e Copom

Se a crise internacional das bolsas prosseguir por mais algum tempo, certamente haverá temor em relação à desvalorização do dólar e de moedas que estão claramente super-valorizadas – como é o caso do Real. Em geral, os investidores estrangeiros analisam o Brasil comparando a taxa Selic com as taxas internacionais, mais risco Brasil, mais a volatilidade do real (isto é, o ritmo de oscilações da moeda).

Havendo a crise, e aumentando a volatilidade, mesmo tendo superávits comerciais ainda expressivos, haverá duas saídas para o país. A tradicional tem sido o Banco Central aumentar a taxa Selic para compensar o aumento da volatilidade. O efeito será abortar mais uma vez o crescimento da economia. Esse é o preço a ser pago se quiser manter o livre fluxo de dólares. Ou seja, a China espirra, e aqui se derruba o PIB.

A segunda alternativa seria simplesmente estipular barreiras de entrada ao investimento especulativo. Mas essas decisões só podem ser tomadas depois da fuga de capitais. Não dá para colocar bloqueios na saída, depois de permitir aos capitais entrar livremente. O BC teve essa oportunidade logo após a crise de 2002, quando houve fuga de capitais, desvalorização do real que permitiram remontar as contas externas.

Acontece que há muitos grupos que se prepararam para lançamento de ações e outras vendas de ativos, aproveitando o excesso de liquidez internacional (de dinheiro circulando no mundo). E dificilmente o governo Lula conseguirá ir contra esses interesses e tomar medidas que coloquem o país a salvo dessa grande roleta em que se transformou o mercado internacional. Só uma nova diretoria faria o BC mudar sua linha atual.

No momento, o mundo está passando por um processo de ajuste de preços. O jogo tornou-se pesado, e os preços de ativos (desde minérios até ações) excessivamente elevados. Com a crise da semana passada, ocorre um processo de ajustamento de preços a condições um pouco menos exageradas. Os próximos passos dependerão do comportamento das economias americana e chinesa. Mas ainda haverá boas emoções pela frente.

Luis Nassif

15 Comentários

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  1. Só uma observação.
    Até agora
    Só uma observação.
    Até agora bolsas como BOVESPA, a mexicana, a argentina, a indiana, a coreana e algumas outras caíram um pouquinho mais ou um pouquinho menos que a bolsa de Xangai, que começa a andar de lado. Até aqui a crise teve disparo em Xangai, mas continua maior em outros lugares!
    Petrobrás e Vale do Rio Doce detêm juntas entre 25 a 30% do índice BOVESPA.
    São detentoras de commodities cujo preço foi elevado pelo consumo chinês. Até aí alguma coerência…Mas e o Dow e o Nasdaq? Dizem que foi o efeito Greenspan e possível recessão nos EUA. Ainda acho que são os fundos comprando baratinho nessas bolsas, invertendo posição e ganhando também na venda perto da reversão ou inflexão pra baixo. Todo pretexto é simplesmente festa…pra eles.

  2. Está na hora de lembrar ao
    Está na hora de lembrar ao mundo que o FED, o banco central americano é um banco privado, com uma história de lavagem de dinheiro, manipulação da economia. e que seu presidente anterior, Greenspan, usava da instituição para manipulações da economia para servir interesses de grupos privados. Continua no cenário como aquelas declarações infelizes que antecederam à queda das bolsas, ou aquelas hoje publicadas na Bloomberg: http://www.bloomberg.com/apps/news?pid=20670001&refer=worldwide&sid=asTgvtVwBMeg. Bem conhecida foi a proibição por ele editada no fim do seu mandato, eliminando a publicação do meio circulante em dólares no mundo, possibilitando a emissão de 3 trilhões de dólares na transição da presidência do banco, que detém a hegemonia da emissão, o que quase derrubou o governo americano, que foi forçado a substituir o secretário do tesouro, colocando no cargo uma raposa do cartel do ouro, para contrapor ao banco central. LIÇÕES QUE DEVERIAM SERVIR PARA QUEM PENSA SER VANTAJOSO DAR INDEPENDÊNCIA AO BANCO CENTRAL BRASILEIRO, o que poderá resultar em independência em relação ao governo, e dependência as bancos privados

  3. Sr. Nassif caso realmente
    Sr. Nassif caso realmente ocorra uma desvalorização do dólar, o real mantendo a paridade atual com o dólar também se desvalorizará, sem contudo afetar o interesse dos investidores ou a balança comercial no curto ou médio prazos. No longo prazo, caso o dólar se mantenha na faixa dos R$ 2,10 a tendência a manutenção ou até aumento dos superávits comerciais.
    Isto tudo reforça a tese já exposta de que deve-se fazer algo para reduzir a volatilidade cambial.
    Uma sugestão que tem sido aventada por diversos economistas está em tributar as exportações. Caso, por exemplo, se elimine as isenções de PIS e Cofins de exportações, e em contrapartida se reduza o INSS sobre folha de pagamentos, teremos ao mesmo tempo, ganho equalizado de competitividade das indústrias nacionais, independente de ser de 1a. classe(exportadora) ou 2a. classe(mercado nacional) .

  4. Há algum tempo estou juntando
    Há algum tempo estou juntando informações a conta-gotas até ter mais segurança para um análise mais ampla sobre ele.

  5. Continuo pensando o mesmo,
    Continuo pensando o mesmo, Fábio. O que estou dizendo é que, para impedir essa correção pelo mercado, é capaz do BC jogar os juros de novo nas alturas.

  6. Registre-se que tal qual
    Registre-se que tal qual ocorreu em outros ciclos especulativos desde o das tulipas na Holanda, passando pelo das ferrovias americnas (18701890), crise de 29, etc são lançadas no mercado ações de empresas sem história, sem estrutura, sem lógica economica, apenas para aproveitar o ciclo especulativo. Como ocorre em todos os ciclos, o comprador desses papeis micados entra pela mão de banqueiros de investimento, os mestres sala dos ciclos. Alem das IPOs outro mecanismo típico é o financiamento de 100% das aquisições de empresas por outras. A Vale comprou a INCO com a totalidade do valor financiado por bancos. Aliás são os bancos que induzem muitas das transações, para poder descarregar liquidez, cobrar altas comissões e expandir suas carteiras de crédito de uma só tacada. Tudo isso é gasolina na fogueira da especulação e gerará o ajuste lá na frente. O processo não tem muita coisa de novo. Mudam os cenários, na década de 20 que precedeu a Grande Depressão, o xodó dos banqueiros era a Alemanha de Weimar, que tomava empréstimos em Wall Street sem qualquer dificuldade. A especulação então era multiplicada por piramides de holdings, compra de ações a crédito, etc Hoje a China é apenas o disparador do ciclo especulativo e tambem será o gatilho do ajuste.Nós no Brasil acabamos de ver lançamentos absurdos de ações, de firmas de papel como corretoras de imóveis, que não justificam IPOs de centenas de milhões de dólares. Todos querem surfar na onda e tirar sua lasca. Nada disso beneficia a economia produtiva, ao contrário.
    O tranco é bom e saudável, a espuma precisa baixar e a economia real prevalecer.

  7. Nesta linha vale o comentário
    Nesta linha vale o comentário de Beijamin Steinbruch, hoje na FSP, ” Protesto contra um Pretexto”, e cujo final é o seguinte: “Lula disse que o país está preparado para o crescimento. Está mesmo. O presidente e o país sabem disso. Mas, um grande navio, carregado para partir, jamais vai zarpar se não houver alguém para soltar as amarras. Principalmente se um punhado de marinheiros armados vigiam o porto e atiram sem dó em qualquer um que tente desatar os nós. “

  8. Porque será que o Greenspan
    Porque será que o Greenspan quer provocar uma recessão mundial ? Primeiro, em Hong Kong ele declara ser possível uma recessão americana neste ano, o que deflagrou uma queda nas bolsas de todo mundo. Agora ele reitera que a probabilidade é de um terço: http://www.ft.com/cms/s/06bd5baa-cc14-11db-a661-000b5df10621.html. Recessão, se houver, causada por ele próprio, que no final do seu mandato, proibiu a publicação do MJ3, que totaliza o meio circulante em dólares no mundo. A última publicação computava 9 trilhões de dólares. Se for crível a informação que depois disto ele teria emitido 3 trilhões, então o seu vaticínio de agora tem carradas de razão: isto gera num primeiro momento hiperinflação (ocultada graças aos múltiplos mecanismos à disposição de uma economia como a americana) e, a seguir, e inevitavelmente, a recessão, que leva o mundo junto, menos a China, que está fazendo compras massivas de ouro, produzindo ouro, encorajando a população a comprar ouro como fundo previdenciário, e que acaba de blindar sua economia e sua bolsa de valores contra o capital especulativo. O Brasil terá que se decidir, enquanto ainda é tempo, entre a perniciosa prática americana, de um FED independente e PRIVADO, e uma nova ordem econômica apresentada pela China, que está se blindando contra um novo 1929. A pouca expressividade do comércio internacional do Brasil talvez seja sua salvação neste cenário

  9. Andre Araujo: muito
    Andre Araujo: muito interessantes as suas colocaçoes. A grosso modo, concordo com vc. O exemplo de IPOs no mercado imobiliário – citado por vc – ilustra bem. abs A.

  10. Só há uma coisa pior que as
    Só há uma coisa pior que as decisões do copão…as atas que as “explicam”.

    As justificativas para aumentar, manter ou reduzir “com parcimônia” a Selic, atentam violentamente contra a inteligência de qualquer um que procure algum vislumbre de coerência entre as decisões e as explicações ao longo do tempo.

    Só uma idéia obsessiva persiste consistemente, como já apontado pelo Nassif…”A manutenção dos juros elevados em qualquer hipótese”, e acrescento…pelo maior espaço de tempo possível e a qualquer custo.

    Hoje o cabeçudo-mor não participa mais da reunião…menos mal…mas o resultado pode ser qualquer coisa entre menos 0,5 e mais 0,5…basta escolher bem a desculpa da vez.

    Seria vergonhoso optar por reduzir míseros 0,25% em 13%…como se a manada pudesse debandar por conta de ridículos 0,25% ao ano…Seria mais dignificante não alterar nada…Ao menos as desculpas soariam menos envergonhadas…

  11. Oi Nassif
    Os preços das ações
    Oi Nassif
    Os preços das ações e das commodities não estão tão desalinhados. Pelo menos no Brasil. No mercado internacional a coisa é outra. No mercado de ações enquanto os CEOs insistirem nos planos de remuneração irreais com vencimentos baseados nos resultados ( artificialmente ) inflados, a situção é de se tomar atenção. A atual demanda energética ( leia-se consumo de petróleo, carvão, gás natural ) deve sofrer uma redução com um leve desaquecimento do mercado chinês ( solavancos do caminho ). Mas a espada de Dâmocles ainda espreita a todos: enquanto o EUA não fizerem um ajuste nas sua balança de pagamento e colocarem seu consumo energético em um patamar aceitável estamos TODOS na beira do abismo.
    Aqui o BC vive de obviedades e leniência. Enquanto não houver uma política ( com P maiúsculo ) para desatar o nó górdio dos juros estratosféricos qualquer medida será como melhoral infantil para curar a unha encravada do paquiderme. O cambio está firmente atrelado aos juros.
    ( )s Paulo

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