Cinco mitos sobre o câmbio

Por Antonio Correia de Lacerda*
A questão cambial no Brasil é bastante polêmica. Desde o inicio de 1999, o Pais convive com o regime de cambio flutuante. Houve ganhos na opção realizada. Com a ajuda de um cenário internacional favorável houve uma expressiva diminuição da vulnerabilidade externa nos últimos anos. No entanto, alguns mitos têm dificultado uma discussão mais aprofundada sobre o tema, especialmente quanto às causas e conseqüências da valorização do real frente às demais moedas.

O primeiro mito é que o câmbio é que a opção pelo regime de flutuação cambial implica aceitar a taxa definida pelo mercado. Não por acaso, a imensa maioria dos países adota o câmbio flutuante, porem administrado. Também chamada de flutuação suja, os bancos centrais definem uma banda, na maioria das vezes não explicita, mas a partir da qual conduzem os instrumentos de políticas, monetária e cambial, para evitar volatilidade excessiva, com valorização ou desvalorização cambial. Isso é ainda mais relevante para os países, como o Brasil, que não possuem moedas conversíveis, ou seja, moedas transacionadas no mercado internacional.

O segundo mito é que a valorização do real nos últimos anos não tem afetado o desempenho das exportações. Os defensores dessa tese se apóiam no expressivo superávit comercial brasileiro de US$ 46 bilhões em 2006. O fato é que nosso desempenho pífio tem sido mascarado pela valorização de preços no mercado internacional, especialmente das commodities. Em volume físico (quantum) o ritmo de crescimento das nossas exportações está em queda livre. De 19,9% em 2004, reduziu-se a 9,9% em 2005 e a apenas 3,3% em 2006. A prevalecer essa tendência o desempenho de 2007 será muito provavelmente negativo, mesmo com um mercado mundial que cresce cerca de 7% ao ano.

O terceiro mito é o de que as empresas acabam se adaptando ao cambio valorizado. Elas de fato se adaptam, mas essa adaptação embora justificável do ponto de vista microeconômico, diante da necessidade de sobrevivência ou expansão das empresas, na maioria das vezes não é favorável à nação. Ocorre um processo de desestimulo aos investimentos produtivos. O câmbio valorizado significa uma espécie de “subsídio” às importações. Não por acaso, ao contrário do que está ocorrendo com as exportações, as importações brasileiras em volume físico (quantum) vem crescendo fortemente, 16% em 2006, com destaque para o crescimento de 74% nas importações de bens de consumo.

O quarto mito é o que o cambio valorizado promove mais competitividade e se traduz em desenvolvimento. O que tem de fato ocorrido é que esse processo de valorização cambial está roubando parcela expressiva do Produto Interno Bruto. Em 2006, estimativas dão conta que o setor externo representou uma contribuição negativa de 1,7% de crescimento anual por conta desse fator, com uma perda de investimentos, valor agregado local, empregos e renda.

O quinto mito é que as elevadas taxas de juros praticadas no Brasil não influenciam a taxa de cambio. A questão é que a despeito da queda de 6,75 pontos percentuais na taxa nominal (Selic) ocorrida gradualmente, desde setembro de 2005, a taxa de juro real de 8,5% ao ano continua substancialmente acima da média internacional. Apesar de a entrada de capitais atraídos pela taxa de juro não ser relevante, o juro elevado distorce os preços dos produtos comercializáveis, influenciando a cotação da taxa de câmbio. O recurso do adiantamento dos contratos de exportação faz da taxa de juros um compensador. Além disso, há as operações cambiais no mercado internacional em que se negocia, sem necessariamente realizar a entrada ou saída física de moeda (as NDF´s).

A questão é complexa, mas precisa ser enfrentada. O Brasil tem recorrentemente incorrido no erro da valorização do câmbio, em um caminho exatamente inverso ao adotado pela maioria dos países em desenvolvimento melhor sucedidos no crescimento. Isso pode trazer resultados de curto prazo, mas, no médio e longo prazos, inviabiliza qualquer projeto de desenvolvimento. É preciso aperfeiçoar o arcabouço das políticas macroeconômicas – cambial, monetária e fiscal- para sair dessa verdadeira armadilha.

* Antonio Corrêa de Lacerda, doutor em economia pela UNICAMP, é professor-doutor da PUC-SP e autor, entre outros livros, de “Globalização e Investimento Estrangeiro no Brasil” (Saraiva). E mail [email protected]

Luis Nassif

21 Comentários

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  1. “ÊRRO DA VALORIZAÇÃO DO
    “ÊRRO DA VALORIZAÇÃO DO CAMBIO”O quinto e último parágrafo das questões debatidas pelo ilustre debatedor Antonio Correia de Lacerda,é coerente,porem vai de encontro ao que todos economistas,da área governamental ou não,pregávamos e pregamos,que é sobre a independencia do BC.Pois se o Governo Federal,usando de suas atribuições constitucionais(não éticas)interferir nesta relação,determinando por exemplo,que eles baixem artificialmente as taxas,não seria voltar aos poucos saudosos tempos atraz,quando tudo era determinado pelo Governo Federal,e o resultado final,todos sabemos?

  2. É muito evidente que as
    É muito evidente que as politicas macroeconomicas não funcionam pela lógica(ou bom senso), mas pelos interesses de grupos economicos/corporativos.A lógica/bom senso ou qualquer coisa que o valha, sempre estarão mascarados pelos interesses pessoais (de cargos/comissões) e as identificações ideológicas(?). Entra Arena

  3. Nassif,

    Como palpiteiro
    Nassif,

    Como palpiteiro leigo, concordo com o que foi dito acima pelo professor Antônio Corrêa de Lacerda. Mas, especificamente sobre o “quinto mito”, o ex-presidente do BC e até recentemente crítico da atual política de juros condenou, em entrevista ao Valor de segunda última,

    “(…) a avaliação corrente de que o setor externo “roubou” pouco mais de um ponto percentual do crescimento no ano passado. Para ele, o fato de as importações terem crescido bem mais que as exportações em 2006 permitiu a expansão mais forte do consumo das famílias e do investimento. Em outras palavras, Pastore diz que a contração da demanda externa teve como contrapartida o avanço mais robusto do consumo e do investimento privados”.

    Pra mim, isso contradiz o que o mesmo Pastore falou ao Luiz Sérgio Guimarães, do Valor, em 19 de dezembro:

    “Para o ex-presidente do BC, Affonso Celso Pastore, embora a formação bruta de capital fixo (o investimento) venha se elevando, indicando um crescimento um pouco maior do PIB potencial, há uma expansão insuficiente da demanda agregada, provocada pelo crescimento das importações líquidas. Ou seja, o crescimento da absorção doméstica (consumo mais investimentos) não consegue compensar a contração da demanda proveniente da redução das exportações líquidas, e o hiato de produto permanece amplo”.

    Como os jornais não têm o bom costume deste blog de discutir o que os economistas dizem e desdizem, talvez você ou o autor do artigo possam me esclarecer se a situação mudou tanto em 45 dias ou foi o Pastore que mudou.

    Atenciosamente,

  4. 1) Os argumentos, bem
    1) Os argumentos, bem expostos, chamam de mitos pontos de vista divergentes, inclusive existentes na teoria monetária.
    2) 1º MITO: a teoria fala em 4 tipos de taxas de câmbio. FIXA, FLUTUANTE, CONTROLADA E MÚLTIPLA. Portanto, taxa flutuante ou controlada, não são mitos, fazem parte do mundo da economia monetária. O Bacen anunciou que adotaria a taxa flutuante, mas quando o Real passou a valer R$2,75 começou a atuar no mercado comprando dólares além do necessário, antecipando pagamentos de dívidas, fazendo inclusive os absurdos swaps reversos (passou a adotar o flutuante sujo). Deu um prejuízo absurdo aos contribuintes.
    3) 2º MITO: DESEMPENHO DAS EXPORTAÇÕES.
    Em 2005 as exportações cresceram 22,6%; em 2006 16,2% (considere que os 16,2% de 2006 estão ocorrendo acima dos 22,6% de 2005, ou seja, o crescimento dos 2 anos acumula 42,5%). Em janeiro de 2007 as exportações cresceram 18,25% em relação à jan. de 2006. A pauta de exportações brasileiras é diversificada (o crescimento está ocorrendo em todos eles).
    4) 3º MITO: ADAPTAÇÃO.
    Se o regime de câmbio é o flutuante, se o movimento de câmbio financeiro é negativo (mais saídas que entradas de divisas) e se o movimento comercial é positivo (vendas ascendentes) existe estímulo para novos investimentos.
    5) 4º MITO: COMPETITIVIDADE.
    O câmbio flutuante (sendo sempre o resultado das forças do mercado, uma taxa de equilíbrio) é uma garantia para os exportadores e um estímulo contínuo aos ganhos de produtividade. Claro que atividades sem vantagens comparativas e sem proteção artificial serão afetadas (mas são poucas). O país como um todo ganha, pois sobrarão FATORES DE PRODUÇÃO para os segmentos competitivos.
    6) 5º MITO: TAXAS DE JUROS.
    A taxa de juro que pode afetar as entradas de recursos é a de captação dos Bancos e a do TN. As taxas de mercado afetam a competitividade (custos financeiros
    maiores). As taxas básicas do Japão e da Europa sempre foram menores que a dos USA (a influência existe mas é pequena). As entradas de recursos para as bolsas são benéficas, as de curto prazo são de significância menor (valores pequenos em relação
    ao fluxo).

  5. Aliás, quanto a esta estória
    Aliás, quanto a esta estória de o mercado apontar para o “equilíbrio” a Folha traz um texto do Beluzzo interessante hoje, intitulada “Preço dos ativos e economia real”, subtítulo “Os preços dos ativos não são mais uma função dos movimentos da economia real, mas o contrário”.

  6. Mito desmistificado:o crônico
    Mito desmistificado:o crônico déficit cambial histórico,impregnou as decisões chamadas ,academicamente corretas. Há alguma lembrança saudável da última desvalorização cambial?FHC/Lula? Lembro das intermináveis queixas da FIESP,diariamente,suplicando por um cambio mais baixo,através de seu presidente.Citavam cifras:r$2,00.Era esse o nível cambial pretendido.Vê-se, que os pleitos não eram sinceros.Muito menos técnicos.
    Líderes da “revolução de outubro”,não costumavam dizer que ” a economia é a política altamente concentrada”?Ou será o contrário?

  7. Prezado MAG,
    Pelo que
    Prezado MAG,
    Pelo que entendi, o Profesor não disse que a taxa flutuante é um mito, mas que o mito é a existência apenas de uma taxa livremente flutuante (limpa). Teu comentário corrobora e ainda diz qu o BACEN já adota uma flutuação suja. Lembro que várias vezes tens argumentado que isso está gerando prejuízos ao público e que o real estaria subvalorizado. Só que inda não consigo entender como uma moeda que tem se valorizado mais que nenhuma outra no mundo pelos últimos anos pode ser considerada desvalorizada.

    Quanto ao segundo mito, vcs dois estão falando de coisas diferentes. Ele fala de volume exportado (produto) e vc de arrecadação (em dinheiro) da exportação. Ele deixa entender que existe crescimento de arrecadação mascarado pelo aumento do valor de algumas commoditties. No longo prazo, o que importa é exportar mais produtos e diversificar.

    Quanto ao terceiro mito, vc insiste que existe aumento de consumo (inclusive via exportação) o que não sei se é verdade. A não ser na área de informática e alguns outros setores (principalmente aqueles que tiveram diminuição de impostos) eu não vejo isso. Creio que falt aum pouco de sensibilidade dos economistas às necessidades do meio produtivo e um excessivo apego às teorias mesmo em situações em que elas não se aplicam exatamente.

    Quanto ao quarto, aí está o cerne da questão. Não estou convencido de que o câmbio flutuante é sempre uma expressão DO equilíbrio. No que entendi existem equilíbrios e equilíbrios. O “equilíbrio” na prática muda qundo algumas variáveis apresentam valores irreais (artificiais). Que as taxas de juros e os preços inflados das commodities artificialmente moveram o equilíbrio para valores prejudiciais à economia como um todo.

  8. Raí, repito que tenho
    Raí, repito que tenho contribuído com idéias, propostas, críticas. Acho que o jornalista tem um papel social relevante, provavelmente muito maior do que se se amarrasse a um partido político ou a um governo.

  9. Bom dia,meu caro Luis Nassif!
    Bom dia,meu caro Luis Nassif! Não nos deixe sozinhos,sem sua companhia escrita, neste domingo,que com certeza,só terá graça,se o meu querido São Paulo,ganhar dos gambás,mais tarde.Porem o que eu queria que você comentasse,é sobre a indicação do Senador Mercadante(que pensa igual a você sobre os “Cabeções” do BC)para presidir a Comissão de assuntos economicos do Senado,e sua disposição de chamar “às favas”de 3 em 3 meses,os responsáveis pela condução do cambio e demais operações(quase independentes)daquele Banco.O que você acha disto?

  10. Bom dia Nassif
    Reveja os seus
    Bom dia Nassif
    Reveja os seus conceitos e reconheça o sucesso alheio: hehe

    “É muito cedo para dizer que houve desvalorização que levou o câmbio a um novo patamar. A taxa não vai voltar ao passado. Aquele câmbio de R$ 3 era porque a economia estava fragilizada, havia riscos que hoje não existem. Estamos pagando em parte o preço do sucesso. Até o sucesso tem um preço! Mas prefiro pagar o preço do sucesso ao do fracasso”

    Palavra do MAntega na folha de hoje. Eles venceram…reconheça Nassif: o sucesso lhes subiu a cabeça (ops), ou será que os cabeça são cabeça por acreditarem no sucesso? É sucesso porque é cabeça, ou é cabeça porque é sucesso?

  11. Com tanta liquidez
    Com tanta liquidez internacional e boa demanda de nossas exportações há necessidade de o BACEN manter uma montanha de dólares de reservas internacionais? Acredito que não!
    Quando muito, bastava manter sessenta bilhões de dólares e o resto utilizar para ir quitando a dívida externa.
    Se minha sugestão fosse adotada o Real teria um depreciação capaz de levantar nossa competitividade industrial.

  12. Caro Marco Aurélio, uma
    Caro Marco Aurélio, uma pergunta:
    Não existem operações no mercado de futuros, jogatina com alavancagem e outras ferramentas sofisticadas que manipulariam o câmbio e não são refletidas no censo do BC ?
    Desculpe minha ignorância se eu estiver falando bobagens, pois não sou formado em economia.
    Entendo quando você procura mostrar que existem outros problemas em nosso país que nem são discutidos(o chamado custo Brasil), mas o câmbio desse jeito não é só mais um problema para quem tenta produzir ?
    Quanto ao Bacen, política monetaria e cambial, não seria justo também que prestassem mais contas à sociedade (por exemplo, prestando contas obrigatoriamente ao nosso Senado Federal – se não me engano isso é até previsto em nossa legislação), para deixar as coisas mais claras ?
    Obrigado, abc
    WM

  13. Nassif,
    Sugiro que você
    Nassif,
    Sugiro que você promova, atravé do Dinheiro Vivo um grande seminário ou forum trazendo nomes como : Antonio Correia Lacerda, Paulo Tenani, Paulo Nogueira Batista Jr, Belluzo, Delfim Neto, José Paulo Kupfer, enfim gente de peso, para mostrar com todas as letras os efeitos deletérios dos JUROS ALTOS no câmbio e na atividade produtiva. A política quase suicida do BC. Pergunto será impossível vencer os mercadistas? Será que a população não vai se tocar que a política econômica vai mandar o Brasil para a quebradeira, a desindustrialização, desemprego e outras desgraças!
    Abs.
    Adnan

  14. Se tivéssemos uma economia
    Se tivéssemos uma economia voltada para o MERCADO INTERNO, essa discussão sobre câmbio teria um outro significado muito mais importante. Mas infelizmente não sabemos ou não queremos desenvolver a verdadeira RIQUEZA DA NAÇÃO que é o seu mercado interno. No fundo continua a mesma slogan do segundo mandato do Delfim Netto no início dos anos oitenta: Exportar é a solução.
    Grandes países exportadores, como a Coréia e Japão criaram primeiro o seu mercado interno. Hoje a China também não descuida do seu mercado interno e suas exportações tem servido para alavancar esse mercado. Como dizia Barbosa Lima Sobrinho, num livro sobre o Japão, capital e mercado se fazem em casa. Fora de casa, é dependência.
    Claro que discutir mercado interno demandaria discutir a secular aliança do poder no Brasil. Discussão que acabou, da última vez, no golpe de 64.

  15. Mercado interno também se faz
    Mercado interno também se faz com empregos. Para isso precisamos de empresas funcionando bem e competitivas, inclusive no mercado externo. Não se faz as empresas serem competitivas deixando-as a pão e água para ver quem é mais forte e sobrevive. O mais forte vai sobreviver mais um pouco e amanhã ou depois morre também engolido por alguém mais bem nutrido. O Japão fez assim. Não existe dicotomia entre mercado externo ou interno. Há que se fortalecer os dois.

  16. Em primeiro lugar quero
    Em primeiro lugar quero agradecer os comentarios ao meu artigo sobre o câmbio. Achei interessante que muitos leitores fizeram o contraponto dos itens levantados, o que mostra a força desse blog.
    Apenas um comentario sobre o falso dilema (mais um mito) entre mercado interno vs. mercado externo e o papel do câmbio.
    Os países que adotam uma taxa de cambio deliberadamente desvalorizada, só para citar alguns, China, India, Russia, Malária, Coréia do Sul, entre outros, o fazem não apenas pensando na exportação, embora essa tenha um papel relevante nas estratégias de desenvolvimento.
    Eles usam o cambio desvalorizado como incentivo à produção local, tornando mais caro o produto importado. Isso porque têm uma visão de longo prazo. Querem incentivar o mercado interno, gerando emprego, renda e arrecadação tributária, que vai financiar outras prioridades.

  17. UM INTRÓITO: Sou economista,
    UM INTRÓITO: Sou economista, entendo de finanças como uma extensão necessária à ciência (os expert em finanças são os especialisara em cenários dos grandes bancos, a turma da BM&F, etc). Não precisa ser economista para ser expert em finanças (os engenheiros estão aí para provar). Mas a turma de finanças que não estende seus estudos para a ciência econômica limita sua visão de futuro ao mundo financeiro (não é o caso do brilhante economista Antônio Corrêa).
    RESPOSTAS:
    1) Caro Wagner Marques,
    O Bacen tem capacidade para verificar todas as operações que tentam influenciar o mercado (legal e eficiência de seu pessoal). Nenhum BC consegue intervir no mercado para manter medidas artificiais por longo tempo (sempre perde, e o pior é que o prejuízo é passado para os contribuíntes). Se os agentes financeiros percebem que o BC está jogando de um lado (e que não vai conseguir ganhar), entram jogando pesado do outro lado. Quiseram forçar o Bacen voltar a operar com swaps (acredito que não fará mais tal absurdo). O Bacen é um órgão bastante transparente. É dos que mais presta contas à sociedade (quando um diretor vai ao congresso a situação defende e a oposição ataca). Os honestos perguntam aprendem e admiram (a diferença de conhecimentos é gritante).
    2) Caro Gesil S. Amarante II,
    Se existem assuntos na teoria, não são mitos. A medida de PIB e de grandezas no regime capitalista são monetárias. PMT = Produto Material Bruto, era uma medida dos comunistas, que ninguém com bom senso acreditava. Como agregar unidades de medidas diferentes? A moeda foi inventada para isto. Os aumentos de preços são para que ocorram redução de consumo. O Real havia tido uma desvalorização irreal ( é natural que se valorize mais que outras moedas). Se estivesse ocorrendo superávits no movimento financeiro e déficits no movimento comercial seria de assustar. Mas o que ocorre é o inverso. O movimento financeiro de janeiro foi deficitário em US$6,29 bilhões (vide em meu site em tabelas econômicas, câmbio contratado). As vendas de muitas atividades multiplicadoras tiveram crescimento vertiginoso (vide a indústria automobilística). O equilíbrio não é uma coisa estática. Está sempre em movimenmto (pode ser natural ou artificial). Se o Bacen intervir será um equilíbrio artificial. A função do Bacen no câmbio flutuante é de um moderador, impedir que forças consigam fazer movimentos artificiais. Os aumentos dos preços das commodities (mercadorias com preços mundiais cotados em bolsas, possíveis de serem conhecidos) não são artificiais (ocorreram por causa do aumento da demanda ou reduçao da oferta). Controlar preços no mundo está cada vez mais difícil (só em economias atrasadas, estatizadas, oligopolizadas, fechadas). Nada justifica punir a economia como um todo para benerficiar segmentos sem competitividade (não precisa ser economista para entender isto). A TAXA DE CÂMBIO IDEAL É A MELHOR PARA A MAIORIA, NÃO A QUE BENEFICIA A MINORIA.
    O Real irá desvalorizar com o aumento das impórtações (dará como contrapartida melhorias com as importações de maquinários, de tecnologias, e o conforto de produtos de consumo melhores e mais baratos). A nossa economia é muito oligopolizada, precisa de choque de oferta. O choque de concorrência desperta a competência adormecida nas empresas (principalmente as oligopolistas).
    3) BRASI X CHINA:
    A CHINA ABRIU ZONAS ESPECIAIS (no litoral), A ÍNDIA TAMBÉM. E O BRASIL? BASTA ABRIR ZONAS ESPECIAIS NO LITORAL NORDESTE, SUDESTE E SUL (rasga a CLT, defina os tributos com clareza, deixa o FGTS ser gerido por um comitê das empresas e dos empregados procurando as melhores remunerações, coloca um sistema de aposentadorias de capitalização, acaba com o imposto sindical obrigatório, retira o sistema S do custo da folha). O crescimento será maior que o da China (bom, terá que ter energia, transportes, infra-estrutura).

  18. Gostaria de ver analisada a
    Gostaria de ver analisada a seguinte linha de raciocínio, paraca, diga-se de passagem, sobre o Câmbio.

    DESVALORIZAÇÃO ATINGE 38,2% DAS EXPORTAÇÕES
    Gazeta Mercantil
    12/2/2007

    Segundo estudo do BNDES, insumos importados baratos compensam perdas com real valorizado. Mais da metade das exportações brasileiras do setor industrial – 61,8% – perde quase nada ou até ganha com o dólar fraco. Segmentos como químico, eletrônico e comunicações, por exemplo, importam boa parte dos insumos e conseguem vender seus produtos no exterior com preços mais competitivos. Já os 38,2% restantes, entre eles calçados, alimentos e bebidas, não têm a mesma facilidade e, com o impacto negativo do real valorizado nos custos, perderam competitividade.

    O estudo foi feito pelo economista Fernando Pimentel Puga, do BNDES, segundo o qual o efeito do câmbio sobre as exportações industriais não deve ser medido apenas pelo impacto sobre o total exportado. Pesquisa da Confederação Nacional da Indústria reforça a tese: no ano passado, 53% das empresas passaram a importar mais insumos. Tal movimento deve provocar uma leve aceleração no ritmo de desvalorização do real nos próximos anos. O banco West LB prevê o dólar em R$ 2,30 em 2008 – hoje está em R$ 2,10. O fôlego, porém, não deve passar disso.

    A tendência de que ele continue fraco frente às moedas locais é mundial. O West LB mostra também que entre as 70 principais moedas do mundo, o real apresentou a 32 maior apreciação desde janeiro de 2002, com alta de 9,97%. “Tem-se a percepção de que o Brasil teve uma valorização maior por causa da grande desvalorização de 2002”, diz o diretor-executivo do banco, Ricardo Amorim.

  19. 1) O argumento de que a moeda
    1) O argumento de que a moeda desvalorizada incentiva a produção local é apenas um dos efeitos da análise (como é uma medida artificial tem que vencer a crença de não sustentabilidade), o correto é verificar todas as consequências (listo abaixo).
    2) A Rússia, a China, a Malásia, a Índia e a Coréia do Sul não podem ter como causa de seu desenvolvimento a moeda desvalorizada (a análise tem que ser mais ampla, são casos diferentes).
    A INFLUÊNCIA DA POLÍTICA CAMBIAL NO CRESCIMENTO ECONÔMICO –
    MOEDA VALORIZADA X MOEDA DESVALORIZADA X MOEDA EM EQUILÍBRIO.
    1) MOEDA DESVALORIZADA, CÂMBIO FIXO OU CONTROLADO (artificialmente):
    Movimento de Capitais –
    a) facilita a entrada de capitais (os ativos, bolsa, imóveis, empresas e mercadorias do país ficam baratos);
    b) incentiva operações de crédito em moeda estrangeira para investimentos;
    c) obriga autoridade monetária a comprar moeda estrangeira, monetizando a economia (obrigando operações de política monetária), aumentando as reservas (financiamento de país possuidor de moeda reserva);
    d) se a taxa de juro de equilíbrio interna (a que não provoca inflação) for maior que a externa mais spread para o país, não motivará saída de capitais e poderá motivar entradas;
    Exportações e Importações –
    a) favorece as exportações (artificialmente);
    b) encarece produtos importados e exportados cotados em dólar (dificulta o controle da inflação), inclusive custo de energia, tecnologia e maquinários;
    c) exportadores de produtos com cotação em dólar aumentam seus lucros artificialmente;
    d) incentiva segmentos sem vantagens comparativas, com baixo nível de eficiência e de produtividade em relação ao exterior a aventurarem-se a exportar (é um peso para o resto da economia, pois consomem fatores de produção que poderiam ser utilizados por setores competitivos tornando-os mais competitivos ainda);
    e) alguns segmentos podem ganhar competitividade com o tempo;
    f) provoca superávits no balanço comercial.
    Crescimento: pode provocar um período de crescimento que não se sustentará com o tempo (todas as medidas artificiais têm seu tempo de duração). Piora a qualidade de vida (reduz poder de compra do povo).
    2) MOEDA VALORIZADA, CÂMBIO FIXO OU CONTROLADO (artificialmente):
    Movimento de Capitais –
    a) afasta a entrada e estimula a saída de capitais (os ativos do país ficam valorizados);
    b) a crença de não sustentabilidade abala a confiança na estabilidade cambial;
    c) estimula investimentos no exterior.
    Exportações e Importações –
    a) dificulta exportações e estimula importações;
    b) reduz preços (artificialmente) de produtos importados (facilita compra de tecnologia e maquinários) e facilita o combate à inflação;
    c) exportadores recebem menos Reais para as exportações dos produtos cotados em dólar (reduz preços internos e lucros dos exportadores);
    d) dificulta industrialização do país (produtos importados ficam com preços competitivos).
    e) provoca déficits no balanço comercial.
    Crescimento: melhora a qualidade de vida do povo (artificialmente). É insustentável a médio ou longo prazo.
    3) MOEDA EM EQUILÍBRIO (CÂMBIO FLUTUANTE):
    Quando suportado pela economia (balanço de pagamentos) é a taxa de câmbio ideal. É a que exige menos medidas artificiais e os conseqüentes desequilíbrios. Pode amedrontar os investidores estrangeiros, com perdas cambiais, caso a política monetária não seja racional e contínua. A atuação do BC é apenas moderadora.
    Crescimento: O crescimento conseguido é consistente e sustentável.
    4) Verifiquem os efeitos que estão ocorrendo no Brasil e analisem o tipo de moeda (valorizada, desvalorizada ou de equilíbrio).
    É aceitável a preferência por um tipo de taxa de câmbio, mas é necessário que se analisem os efeitos (todos, não um apenas um, que terá duração de curta). Um modelo de crescimento baseado apenas em moeda desvalorizada é fadado ao fracasso. Ser uma parte do modelo, apesar de pessoalmente preferir a flutuação, é aceitável (mas os consumidores = povo em economês, pagarão com queda na qualidade de vida). Como é uma medida ARTIFICIAL acontecerá transferência de renda também artificialmente.

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