Juros contra equilíbrio fiscal e, mesmo assim, atraem dólares, por Luis Nassif

Então qual a razão desse discurso reiterado dos economistas de mercado, esse fetiche em torno da Lei do Teto? Há um enorme déficit de informação no país, talvez o maior problema para sair desse pântano econômico e político.

Cria-se um ambiente de nervosismo político, e uma recessão prolongada que afasta investidores do país. Ao mesmo tempo, há uma queda na taxa Selic. Como consequência, há uma saída de investimentos externos do país provocando uma desvalorização do real. Mas – veja bem – o investimento que se preocupa com o mercado interno é o produtivo, aquele que levanta fábricas e gera emprego. A preocupação de Guedes é exclusivamente com o capital financeiro, o dinheiro especulativo que pula de um país para outro, aproveitando as oportunidades do momento.

Por isso, o Ministério da Economia não toma nenhuma atitude, pois o mercado se ajusta por si. O dólar explode. Ao mesmo tempo, há um novo boom de commodities explodindo as cotações internacionais. A soma de dólar e cotações faz com que explodam os preços internos das commodities.

O baque poderia ser reduzido se se impusesse uma taxa de exportação sobre as commodities. Mas iria contra os princípios de Paulo Guedes. Afinal, o mercado de ajusta por si.

Em um primeiro momento, a explosão das cotações se transfere para os preços. Em um segundo momento, desemprego e queda de renda impedem toda a transferência, resultando dai em prolongamento da recessão. O movimento poderia ser abrandado com ajudas concretas às pequenas e micro empresas e com melhoria na renda emergencial. Mas tem que se preservar a Lei do Teto. E Guedes diz que a única maneira do país voltar a crescer é manter a Lei do Teto e sonegar recursos para os pequenos.

No meio do caminho, faltam componentes para setores relevantes da economia e a escassez de chips sacode a indústria global. Mas, por aqui, Guedes permite o desmanche da CEITEC – único fabricante brasileiro de chips. 

O repasse dos custos para os produtos, ainda que parcialmente contido pela queda de renda, provoca aumento no Índice de Preços ao Consumidor Ampliado – o indexador que serve de parâmetro para a política monetária. Aí o Banco Central aumenta os juros. Aumento de juros significa aumento da relação dívida/PIB, o principal indicador da questão fiscal. Ou seja, é uma medida anti-ajuste fiscal. Mesmo assim, aumenta a entrada de dólares no país. 

Atrai porque o capital financeiro não está preocupados com Lei do Teto, como diz Guedes, mas em faturar em cima dos juros. Simples assim!

Então qual a razão desse discurso reiterado dos economistas de mercado, esse fetiche em torno da Lei do Teto? Há um enorme déficit de informação no país, talvez o maior problema para sair desse pântano econômico e político.

Luis Nassif

1 Comentário

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  1. é possível viver num país no qual dois/três bancos são onipresentes no território inteiro? próximo governo progressista (seja lá o que for isso em relação ao tema) usará CADE para desconcentrar tanto poder? no melhor dos mundos, maquiavelicamente, q todas ações de impactos contra os parasitas sociais sejam implantadas na primeira hora, do contrário…

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