O fracasso do aumento da taxa Selic pelo Copom, por Luis Nassif

O resultado foi a alta na curva de juros e o aumento as apostas do mercado em elevações mais agudas na Selic. Antes do Copom, o debate era se 0,5 ponto seria suficiente. Agora, já se fala que duas elevações de 0,75 seriam insuficientes.

Ao decidir pelo aumento da taxa Selic, Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, demonstrou que é um Paulo Guedes discreto.

Já explicamos aqui que a submissão do BC ao mercado compromete toda política monetária.

Primeiro, o BC parte de um diagnostico duvidoso, de combater as pressões inflacionárias com ferramentas típicas da inflação de demanda. E tome aumento de juros. Lembra o médico que receita antibiótico para qualquer tipo de doença.

Faz parte da inacreditável incapacidade do BC – e dos economistas de mercado – de formular qualquer diagnóstico fora da caixinha, especialmente se for contrário aos interesses imediatos de mercado. E digo imediato porque, no longo prazo, o que atrai investimentos são perspectivas de crescimento da economia.

A lógica do BC foi aumentar a taxa Selic agora, para derrubar as taxas de juros de longo prazo. A medida visava exclusivamente preservar os preços dos ativos. O aumento dos juros, no longo prazo, derruba o preço dos ativos, obrigando os investidores a sucessivos ajustes em suas carteiras, vendendo papéis valorizados para cobrir margem em ativos com cotações em queda.

Poderia ter recorrido a um aumento do compulsório – o percentual dos depósitos à vista que os bancos comerciais precisam manter depositados no BC. O aumento do compulsório não impactaria a dívida pública.

Para não mexer no compulsório e enxugar a liquidez da economia, o BC terá que aumentar as operações compromissadas – a venda de títulos ao mercado, com compromisso de recompra por um valor referenciado na Selic. É uma operação que impacta a dívida pública, aumenta a dívida como proporção do PIB. Ou seja, para impedir qualquer perda ao mercado, pressiona indicadores que assustam as novas captações externas.

Por aqui, os juros longos aumentaram devido à percepção do mercado de que, com as políticas de estimulo de Biden e a Next Generation, obrigarão o FED e o BCE a manter uma política monetária mais rígida. Esse movimento – de alta nos juros americanos – provocará uma valorização do dólar. Como os mercados estão interligados, por arbitragem, internamente haverá um aumento no dólar e nos juros futuros.

O Copom (o Comitê de Política Monetária) tentou se adiantar e ficar à frente da curva. Com a alta da Selic, a única coisa que conseguiu foi sinaliza ao mercado o seu temor.

O resultado foi a alta na curva de juros e o aumento as apostas do mercado em elevações mais agudas na Selic. Antes do Copom, o debate era se 0,5 ponto seria suficiente. Agora, já se fala que  duas elevações de 0,75 seriam insuficientes.

Melhor fez o presidente da Turquia, Tayyip Erdogan. Depois de uma alta na taxa básica de juros, o presidente do BC fio destituído e substituído pelo economista e político Sahap Kavciogly. A medida agradou o mercado, mas aumentou a crise interna.

Luis Nassif

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