Crise e criatividade permitiram o avanço das criptomoedas no Brasil

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal norte-americano Financial Timer descreveu os líderes do movimento no Brasil como “anarquistas do capitalismo”, ao buscar entender o assombroso crescimento do mercado de criptomoedas no país
 

Foto: Divulgação
 
Jornal GGN – Jovens investidores do mercado, “os anarquistas do campitalismo”, assim são chamados os adeptos às criptomoedas instalados em São Paulo por reportagem do Financial Times. Isso porque o maior centro financeiro da América Latina abriga números surpreendentes de avanço da nova forma de investir dinheiro.
 
“Há claros sinais de que o bitcoin, a moeda virtual mais comercializada do mundo, está crescendo no Brasil”, informa reportagem do jornal norte-americano. “Em dezembro, foi relatado que o número de investidores bitcoin no país superou os investidores registrados na Bolsa de Valores de São Paulo. O Brasil hoje tem mais de 1,4 milhões de investidores de bitcoins (de um total de 20 milhões de contas bitcoin em todo o mundo), comparando-se aos 619 mil empreendedores do mercado de ações.
 
O aumento se deve ao crescimento também de start-ups na área de tecnologia, que trabalham com a blockchain, a tecnologia por trás da criptografia de moedas para dar o suporte digital às transações. Além disso, importantes bancos brasileiros, como o Itaú e o Bradesco, investiram mais pessoal e pesquisa no cadastramento da tecnologia.
 
Nessa linha, “o Brasil teve uma vantagem nas apostas digitais”, aponta o FT. “Quando o país teve que lidar com a hiperinflação nos anos 80 e 90, os bancos brasileiros foram atrás de tecnologia, e a maioria deles hoje já possui sofisticadas estruturas online para clientes corporativos e de varejo”.
 
Hospedandos as três maiores empresas de criptomoedas do Brasil, o Bitcoin, a Foxbit e a Bitcambio, como consequência, apontou a reportagem, a capital paulista “está na vanguarda das iniciativas blockchain”. Apesar de o volume de moedas criptografadas ainda ser pequeno, representando menos de 1% do total no mundo, o ritmo de crescimento vem chamando a atenção.
 
Na prática, apenas em fevereiro, houve uma movimentação de R$ 120 milhões de bitcoins no Brasil. A quantia é maior do que o movimento do ano inteiro de 2016, quando esse número chegou a cerca de R$ 115 milhões, apontou o especialista e consultor de investimentos, Fernando Ulrich, ao jornal.
 
A segunda maior empresa do setor no Brasil, a Foxbit, alcançou R$ 3 bilhões em criptomoedas no ano passado, e o Bitcoin espera obter mais 400 mil clientes em fevereiro, atingindo um total no mercado de 1 milhão de investidores. 
 
As justificativas para o sucesso do mercado no Brasil está justamente no fracasso da política e da economia brasileira, apontaram especialistas consultados pelo Financial Times. “Os brasileiros não confiam no governo deles e tendem a adotar as tendências da tecnologia rapidamente”, disse Kenzo Tominaga, fundador do Fundo de Investimento Livre. “As criptomoedas estão se rebelando contra o sistema [financeiro] estabelecido e nascem da internet. É por isso que elas estão realmente funcionando aqui”.
 
Á reportagem, Tominaga e os outros três responsávels pela Atomic se descreveram como “capitalistas anarquistas”, que já tiveram experiência em bolsa, investimentos, bancos ou gestão de ativos e apontaram a criatividade brasileira como alternativa para sobreviver à implacável burocracia no país.
 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

6 Comentários

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    1. Anarquistas, pero no mucho

      O seu comentário evocou lembranças hilárias. Em 2000, havia um professor de Teoria Política do curso de Jornalismo, 1ºano, da PUC Campinas. O cara era muito louco, mas muito louco mesmo, piradão. Depois de passar pelo comiunismo, socialismo e outros ismos, chegou para a aula e escreveu no quadro: Anarquismo. Virou-se e perguntou: Há algum anarquista aqui nesta sala? Eram uns 50 alunos, um deles, o mais alienado e sem noção, um garoto de 19 anos levantou a mão e disse com voz firme e resoluta: Eu sou anarquista! O professor perguntou de chofre: Você tem certidão de nascimento? Tenho. Tem ientidade? Tenho. Tem CPF? Tenho. Tem Cateira de Trabalho? Tenho. Então vc não é anrquista porra nenhuma. E começou a aula. 

      1. Podes crer Fernando J.
        Tambem dei boas risadas com o caso do seu professor. Agora, pegando a deixa do seu comentahrio sobre a “criatividade”, pensa bem, tem coisa mais importante para o sistema hegemonico, nesses tempos de abertura escancarada das porteiras da pos-verdade, do que ele poder contar com a “criatividade” desenfreada da mocada? O cara tem que ser desvairadamente “criativo” para dar conta do recado, que consiste na reproducao cotidiana do mais do mesmo e ainda assim assegurar o lucro dos “investidores” especuladores enquanto a casa cai. Eh como aquela frase batida do Lampedusa, na qual o jovem Tancredi dizia ao seu velho tio Don Fabrizio: “eh preciso mudar para que tudo continue o mesmo”.

  1. Mais afinal, onde os barões do crime, não os bagrinhos, …….

    Mais afinal, onde os barões do crime, não os bagrinhos, esconder o seu dinheiro!

  2. A falta que fazem cabelos brancos

    Após o crash de 15/09/2008, do Lehman Brothers,com o estouro do subprime das hipotecas norteamericanas, provocaram uma crise sem precedente nos países envolvidos, num verdadeiro efeito dominó. Depois de consumada a tragédia, vieram as explicações, tentar entender o que tinha acontecido. Uma das explicações foi publicada na Carta Capital, na época, talvez em 2009, por um americano, não me lembro se foi o Roubini. dizia que os principais responsáveis pela hecatombe eram os garotos imberbes que ocupavam as mesas de operações dos bancos de investimento, movidos a ganância, ambição e bônus anuais na casa dos 1/5 milhões de dólares. E muita irresponsabilidade.

    Lembro-me de um trecho dessa coluna, em especial quando o autor dizia, explicando a derrocada, que, em suma “…faltava cabelo branco nas mesas de operações”. E acrescento por minha conta, sobrava “criatividade”.

    Estamos reeditando a tragédia. Cada vez mais os bancos de investimentos brasileiros estão recrutando profissionais ou egressos ou que ainda estão cursando engenharia na Politécnica/USP. Os garotos, imberbes, dominam/destroem uma HP12 C. E são “criativos”. Essa palavra, criatividade, em uma mesa de operações, em meio a garotos, e altos bônus anuais, me dá calafrios. [Há 4 meses conheci um garoto de 21 anos, cursando engenharia na Poli, funcionário de um grande banco de investimentos, que está participando da equipe que está montando o leilão da Eletrobrás]

    Faltam cabelos brancos nas mesas de operações. A tragédia, de novo, está desenhada no horizonte, tão certo quanto o dia e a noite ou o sol e a lua.

  3. O crescimento no Brasil tem

    O crescimento no Brasil tem uma explicação: o desejo de jovens investidores de FICAREM RICOS RAPIDAMENTE.

    E isto está sendo dito por um defensor das cryptomoedas.

    Os jovens capitalistas adoram um mercado volátil, que promete lucros incríveis…

    Estes mesmo, posso dizer pois tenho amigos próximos que são assim, INVESTEM EM PIRÂMIDES MESMO SABENDO QUE SÃO PIRÂMIDES, pois sabem “sair antes que estoure” … também estão prontos pra colocar $$$ em qualquer coisa que dê lucros maiores que as opções normais.

    Não sou um deles, CREIO REALMENTE nas cryptos como tecnologia, mas é daí que vem a grana o brasil e no mundo… deste tipo de “investidor”.

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