Em sua coluna mensal no jornal “O Valor”, Affonso Celso Pastore e Maria Cristina Pinotti mostram as semelhanças entre o câmbio no Brasil e no Chile (clique aqui).
Como sempre são artigos bem escritos, racionais que, justamente por serem racionais, permitem identificar pontos de discussão.
Pastore quer provar duas coisas:
1. Que a apreciação do câmbio é fruto do movimento de contas correntes.
2. Que a apreciação não é a responsável pela desaceleração do PIB.
Para tanto, ele recorre a uma das armas do arsenal retórico do mercado: o das analogias com outras economias. A partir de uma analogia consistente, deriva para outras, que podem não ser adequadas.
O país para comparação é o Chile. Pastore mostra que o Chile tinha todos seus fundamentos em ordem; o Brasil ainda não. No entanto o fenômeno da apreciação cambial ocorreu com os dois. O que tinham em comum? O fato de manter a conta de capitais aberta. Logo é a conta de capitais que explica os dois movimentos de apreciação.
Aí, deriva para a atividade econômica. No Brasil, ocorreu desaceleração do crescimento da economia, no Chile muito menos. Se ambos sofreram o mesmo processo de apreciação cambial, e os efeitos sobre o PIB foram diferentes, logo não é a apreciação cambial que provoca a desaceleração, mas a falta de um ambiente para investimentos.
É fantástico! O professor pegou um ângulo em que a comparação era permitida (a apreciação do câmbio via conta capital) e derivou para outro em que as realidades são totalmente diferentes. O Chile é um produtor de commodities, em um período em que as cotações se comportaram bem. O Brasil tem uma estrutura industrial complexa, um tecido econômico muito mais amplo -com muito mais setores suscetíveis à influência do câmbio.
O fato de eu calçar 42 não autoriza nenhuma comparação a mais com Mike Tyson, só porque ele calça 42.
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