Depressão econômica como instrumento de política, por J. Carlos de Assis

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Foto: Agência Brasil
 
 
Por J. Carlos de Assis
 
Muitos parlamentares e analistas alegam diante dos resultados negativos inequívocos da economia ao longo dos dois  últimos anos que a política econômica deste Governo fracassou. Isso se constataria pelo comportamento depressivo do PIB, do desemprego, da receita pública, da deterioração das finanças estaduais. Entretanto, não é verdade que a política econômica de Temer e de outros ladrões tenha fracassado. Ela está dando resultados espetaculares, tendo em vista os objetivos que a camarilha econômica se propôs. 
 
O programa econômico que a banca fez para o grupo que assaltou o poder depois do impeachment, denominado Ponte para o Futuro, está sendo cumprido à risca, e a profunda depressão facilita esse processo. Sumariamente, seu objetivo consiste, de um lado, em restringir o espaço do setor público na economia para ampliar o do setor privado  e, de outro, em reduzir o custo do trabalho.  A radicalização da privatização, incluindo a privatização fatiada da Petrobrás e a prometida privatização da Previdência, vai junto com a precarização do trabalho, conquistada pela recente destruição de parte da histórica legislação trabalhista.
 
O resultado da economia, nesse contexto, é um detalhe. O projeto global consiste na consolidação do Brasil como celeiro do mundo, através do agronegócio, colocando em segundo plano todos os demais objetivos de desenvolvimento, especialmente a industrialização e seu corolário natural, os investimentos em ciência e tecnologia. É uma estratégia suicida que se nutre de uma tese de Fernando Henrique Cardoso desenvolvida no início dos anos 70, que sustenta que seremos eternamente dependentes do primeiro mundo.
 
No plano internacional, estão sendo reforçados os vínculos de toda a ordem com os Estados Unidos – inclusive, através da Laja Jato, os jurídicos, investigativos e penais, e fora desse sistema, Alcântara. Em uma palavra, trata-se de um processo de liquidação de nossa soberania, comandado inacreditavelmente por uma quadrilha de assaltantes dos postos de mando do Governo,  sem qualquer mandato popular para isso. Mais impressionante é a velocidade com que a destruição dos alicerces da Nação vai sendo feita, ancorada num Congresso comprado.
 
Discuti ontem com um grupo de professores da UERJ, universidade que vem sendo estrangulada no contexto do esmagamento das finanças estaduais do Rio e de vários outros Estados, as alternativas para saída da crise. Na realidade, não há saída convencional. Tenho sustentado a tese de que o caminho é a exacerbação em nível absoluto do conflito federativo. O Governo federal não tem nenhuma intenção de ajudar os Estados a superar a crise financeira em que se debatem. Na realidade, a crise é uma oportunidade para forçar o projeto de privatização e de redução do setor público também em nível estadual.
 
Se tivéssemos líderes estaduais menos pusilânimes, a crise financeira dos Estados, oriunda de uma dívida que considero nula, já teria explodido com a denúncia da ruptura do pacto federativo pela União. Desde os anos 80 a federação vem sendo violada no âmbito fiscal, financeiro, tributário, com o objetivo exclusivo de atender aos requisitos financeiros impostos no passado pelo FMI e, no presente, pelas agências de risco, sentinelas da banca privada. Diante disso, tanto quanto retomar a soberania sobre a economia, é fundamental buscar mecanismos de poder para  que os Estados recuperem suas prerrogativas federativas.
 
 
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

4 Comentários

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  1. Retorno ao Consenso de Washington

    Os EUA concordaram em elaborar e ajudar a executar o plano de retirada da esquerda do poder no Brasil, mas para isso parece ter exigido o retorno do país aos parâmetros do Consenso de Washington. O que estamos assistindo nada mais é que a eliminação das melhorias que haviam sido incorporadas ao nosso desenvolvimento pelos governos do PT. Quando os países gigantes como o nosso, porém atrasados, estão investindo em melhorias na educação para alcançarem melhoria em sua população economicamente ativa, o Brasil, após o golpe, inicia uma caminhada na contramão. Infelizmente perderemos, novamente, o bonde da história. 

  2. O argumento do texto deixa

    O argumento do texto deixa claro o objetivo final da política econômica,faz todo sentido. O resultado final, contudo, produzirá a ruptura do tecido social. O caos social subsequente geraria revoltas populares. Para controlá-las, um estado policial, dominado pelo grande capital, pela mídia hegemônica e pelos militares. 

  3. mais do mesmo

    Não sei onde li, se foi num livro da Naomi Klein, ou do Stiglitz onde se descrevia a onda de receitas neoliberais aplicadas nos países do Leste europeu após a queda do muro e desfazimento da União Soviética. Mas, lembro do teor do trecho onde se comentava que todas essas experiências levaram ao desastre. Quanto mais errado dava, mais se aumentava  dose, exatamente como ora ocorre aqui.  Quanto mais debilitado o paciente, mais do mesmo era administrado, até que o quase defunto se rebelava contra o tratamento. O curioso é que os fatos, a evidência empírica incontestável é que o tratamento estava matando, mas a alegação do “corpo clínico”  era de que o tratamento não deu certo porque o paciente não demostrou suficiente persistência e disciplina para terminá-lo e usufruir do seu resultado.

    Prevalece uma hipocrisia, desfaçatez e cara-de-pau imensas sempre que esse tratamento é prescrito. Vemos isso agora. É fato incontestável que o paciente Brasil está a se esvair dia-a-dia e que o remédio, além de amargo, está acabando com o gajo em questão. Mas, qualquer dúvida que se levante é imediatamente recachada sob o argumento da necessidade, urgente e inadiável de tratar um mal mortal causado pelo populismo e pelo charlatanismo econômico que estão na origem da moléstia. A família até pode comentar que o sujeito estava indisposto, um pouco depremido e com uma febrícola quando o “corpo clínico” entrou em cena e que piorou muito após o início do tratamento. Mas isso será tratado como interferência imprópria de amadores em um campo sensível do conhecimento humano, ao qual apenas o “corpo clinico”  tem acesso e domina.

    Apesar de todos os sinais vitais, o batimento cardíaco, a pressão arterial, o ritmo respiratório e a temperatura  do maleixo paciente indicarem que sendo levado à cova, o “corpo clínico” aponta que as “extrapolações fornececidas por algoritimos de rigorosa precisão matemática” indicam que se deve desprezar a realidade, considerando que, em dado momento, em futuro próximo, virá a salvação! Irrefutável! Mas, só se for pras nega deles.

    De minha parte prefiro ficar vivo e ser taxado de ignorante, resistente à modernidade e aos novos tempos do que comer capim pela raiz. Se dependesse só de mim botava fim nessa esculhambação tão rápido que os Temer, Meirelles, Goldfajans e toda a turma  iam ficar procurando o caminho de casa feito ternero desmamado chorando pela mãe.

    Tão certo quanto nasce o sol a cada dia vai chegar o dia do BASTA! O problema é que esta nação de bocós, uma Beotia gigante, vai levar ferro até não aguentar mais quando seria muito mais lógico, fácil e muitissimo mais barato trocar o “corpo clínico”, e dar uma tunda de relho nessa turma toda, largar sal grosso no lombo e soltar no campo pra criar bicheira. Talvez então aprendessem a não foder com as pessoas.

    Desculpem, mas uma hora cansa.

     

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