Doença holandesa na Austrália, por Paulo Gala

Doença holandesa na Austrália

Por Paulo Gala

Os gráficos abaixo construídos por analistas da BCA mostram a evolução das exportações não commodities na Austrália e do custo unitário do trabalho. O boom no preço do ferro “desalojou” as exportações de outros bens e criou forte apreciação cambial e aumentos de salários acima da produtividade no país. Em paralelo o setor de serviços se ampliou fortemente e surgiu uma bolha imobiliária. O setor de commodities se expandiu muito junto com os serviços e imóveis e o setor de bens transacionáveis não commodities se retraiu (doença holandesa). Qualquer semelhança com o Brasil de hoje não é mera coincidência. O mesmo efeito observado na Austrália dos últimos 10 anos ocorreu por aqui: disparada do custo unitário trabalho com salários subindo bem acima da produtividade, forte expansão do setor de serviços, boom de consumo e subida vertiginosa do preço dos imóveis. A queda recente das commodities em geral e do minério de ferro em particular vai forçar um “ajustamento reverso” nessas economias. Os salários, imóveis e serviços vão parar de subir e o câmbio vai continuar a se depreciar, reequilibrando os preços relativos entre bens transacionáveis e não transacionáveis. 

*BCA

Paulo Gala é graduado em Economia pela FEA/USP. Mestre e Doutor em economia na Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-EESP), onde é professor desde 2002 e coordenou o Mestrado Profissional em Finanças e Economia de 2008 a 2010. Pesquisador visitante nas Universidades de Columbia em Nova Iorque e Cambridge na Inglaterra, nos anos de 2004 e 2005. Sócio e economista da Empiricus Research em 2010 e 2011. Escreve regularmente para imprensa local. Autor de diversos artigos acadêmicos e capítulos de livros sobre Economia Brasileira, Macroeconomia e Desenvolvimento Econômico. Estrategista de Fator Corretora, Banco Fator.

Redação

6 Comentários

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  1. Doença Holandesa?

    Exagero.  Bolha pela apreciação das commodities. Não só o ferro, o carvão australiano caiu 8% nos últimos 10 meses devido à diminuição da demanda chinesa (http://www.imf.org/external/np/res/commod/pdf/monthly/110114.pdf), cortesia da crise (não declarada) nos paises centrais. E todos somos vítimas da concentração de riquezas que reduz o mercado consumidor mundial, impondo o diktat da penuria e da austeridade para atenuar o “bug in the machine”.

  2. Os dois gráficos são realmente dramáticos.

    Mas precisaria mostrar a situação atual em termos de balança de pagamentos, e emprego, para melhor mostrar a gravidade da situação quando o “boom” de commodities nascido na Asia próxima á Austrália.

  3. Avisa que:

    A taxa de câmbio no Brasil está a R$ 2,60. Mais um motivo para impedir qualquer doença holandesa ou venezuelana. Pra onde a cotação de nossa moeda tem que ir para ficarem satisfeitos????

    O que falta é os empresários sairem da zona de conforto e pensarem grande…

    Falta também o governo acertar a política industrial, o país precisa definir suas reais prioridades que até o momento foram um fiasco como os “Campeões Nacionais” (que já eram campeões há muito tempo, quem ganha sem competir se acomoda e pode levar uns 7X1 lá na frente).

     

  4. A AUSTRALIA VAI MAL MAS O POVO AUSTRALIANO VAI MUITO BEM

    Quando estava a Australia assisti ao noticiario onde eles debochavam do pronunciamento do Gen. Geisel:

    “O BRASIL VAI MUITO BEM , MAS O POVO BRASILEIRO VAI MUITO MAL.”

    Preferimos ao contrario como aqui e riam na televisão da desgraça do Brasil..

     

     

     

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