Empresas tendem a inovar menos após abertura de capital

Do Inovação Unicamp

Abertura de capital tende a reduzir ritmo da inovação nas empresas

Levantamento em 1.500 companhias americanas também mostra êxodo dos funcionários mais criativos

Carlos Orsi

A abertura de capital de uma empresa, por meio de uma oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) tende a sufocar a inovação na companhia, medida de acordo com o número e qualidade das patentes, além de provocar um êxodo de inventores e uma queda na produtividade dos pesquisadores remanescentes, afirma um paper publicado em dezembro de 2012 pela Escola de Administração de Stanford, de autoria do professor-assistente Shai Bernstein.

Ele analisou dados de mais de 1.500 firmas de tecnologia, entre 1983 e 2006. Para fazer a comparação do nível de inovação, o pesquisador levou em conta a atividade nos três anos anteriores à IPO e nos cinco anos posteriores.

De acordo com Bernstein, uma vez aberto o capital as empresas tendem a adquirir propriedade intelectual de terceiros, em vez de investir em pesquisa e desenvolvimento próprios. Para chegar a essas conclusões, o autor montou uma base de dados de empresas inovadoras que registraram, na SEC – a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos – a intenção de abrir capital, e que depois foram em frente ou retiraram a carta de intenções.

“Essa amostra permitiu comparar a atividade inovadora de empresas que abriram capital com a de empresas de capital privado que estão num estágio semelhante de evolução, ou seja, com a intenção de abrir”, escreveu ele.

Em busca de explicação para o fenômeno da perda de inovação, Bernstein especula que a abertura de capital pode criar incentivos para que os administradores “mudem o tipo de projeto inovativo selecionado, levando uma maior dependência da aquisição de tecnologias externas (…) preocupações com a carreira e o temor de fusões podem levar os administradores a escolher projetos mais convencionais, mais fáceis de explicar aos acionistas”.

O autor cita ainda outros trabalhos que sugerem que o mercado de capitais avalia mal a inovação, ao pressionar os administradores a cumprir metas de desempenho de curto prazo. “Essas considerações podem levar os administradores a usar o acesso ampliado a capital para comprar tecnologias externas, em vez de desenvolvê-las dentro da firma”. Aquisições, argumenta Bernstein, ‘são fáceis de ver, têm menos potencial de fracasso e são de rápida implementação”.

A mudança de foco rumo à inovação incremental e a dependência crescente de tecnologia externa, por sua vez, explicaria o êxodo dos funcionários mais inovadores. 

Bernstein apresenta a hipótese de duas estruturas de incentivo atuando – uma, sobre os gerentes, pede atitudes mais conservadoras e prudentes; outra, sobre os funcionários inovadores mais agressivos, que veem a perspectiva de ganho com a propriedade novas invenções diluir-se entre os acionistas e, por isso, podem optar por deixar a companhia.

Luis Nassif

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador