A evolução da dinâmica energética

Do Portal Luís Nassif

Do Blog de Ronaldo Bicalho

A dinâmica energética mundial: de como recursos naturais, tecnologia, mercados e instituições determinam hoje a energia de amanhã

O objetivo deste texto é identificar os fatores que atualmente determinam a evolução do contexto energético no mundo.

Os recursos naturais

O primeiro fator determinante da dinâmica energética é a dotação de recursos naturais, tanto em termos de quantidade e qualidade quanto em termos de localização.

Um dos traços marcantes do atual quadro energético mundial é a disputa entre detentores de recursos naturais, que buscam valorizar ao máximo a sua posse, tanto em termos econômicos quanto políticos, e seus consumidores, que buscam reduzir os impactos dessas pressões econômicas e políticas.

Essa disputa gera a primeira grande questão-chave da evolução do contexto energético mundial, associada à configuração da dotação de recursos naturais no mundo hoje, que é a busca de novas reservas de petróleo e gás natural fora dos países e regiões que hoje detêm as grandes reservas; de forma a reduzir a dependência do suprimento energético dos grandes países consumidores em relação a esse conjunto específico de países e regiões.

A segunda grande questão-chave da dinâmica energética mundial, ligada aos recursos naturais, é a incorporação de fontes alternativas aos combustíveis fósseis como elementos efetivos dessa dotação.

Nesse caso, embora também esteja presente a questão da redução da dependência em relação aos países que detêm o controle das reservas de combustíveis fósseis, o vetor principal é a mudança climática global.

Uma terceira questão-chave da evolução energética relacionada à dotação de recursos naturais é a definição da efetividade dessa dotação a partir da evolução nas tecnologias de produção, transformação e uso da energia.

Em funEm função disso, pode-se afirmar que os fatores determinantes da dinâmica energética global tendem a alterar a configuração da atual dotação de recursos naturais no mundo, tanto no que diz respeito à concentração espacial dos recursos quanto no que concerne à sua própria qualificação, procurando “desconcentrá-los” e “requalificá-los” a partir da busca de novas reservas e novas fontes fora da atual base de recursos; fazendo face aos reclames pela redução da dependência energética em relação a países “não-confiáveis” e por respostas efetivas aos problemas gerados pela mudança climática global.

A tecnologia

O segundo fator determinante da dinâmica energética é a tecnologia e tem relação direta com o fator anterior.

Assim, a questão da ampliação do acesso aos recursos naturais – novas reservas e novas fontes -, premida pela tentativa de reduzir a dependência energética e os impactos ambientais, direciona os esforços tecnológicos e condiciona a evolução futura do contexto energético.

No caso do petróleo/gás duas questões-chave se colocam.

A primeira delas diz respeito à superação dos desafios tecnológicos associados à exploração de áreas geológicas desfavoráveis, como é o caso da exploração em águas profundas e ultra-profundas.

A segunda questão-chave está relacionada ao desenvolvimento tecnológico na área de recursos “não convencionais”: areias betuminosas, petróleo ultra-pesado e combustíveis sintéticos (petróleo); e shale gas (gás natural).

Tanto em um caso quanto no outro, a tecnologia contribui para ampliar a base de recursos naturais, quer seja viabilizando a produção em áreas extremamente desfavoráveis, quer viabilizando a incorporação de novos recursos para a manutenção da cadeia petrolífera/gasífera.

No caso específico do gás, cabe ressaltar a busca de maior flexibilidade na cadeia produtiva desse energético, sintetizada no avanço das tecnologias ligadas ao Gás Natural Liquefeito (GNL), que tem como objetivo principal alcançar no gás uma flexibilidade logística que tem como referência a do petróleo; fugindo, dessa forma, da rigidez característica das integrações espaciais feitas por gasodutos.

A redução da dependência energética e a diminuição dos impactos ambientais da matriz de geração de eletricidade são os dois grandes propulsores do esforço tecnológico no setor elétrico.

Nesse caso, surgem três questões-chave tecnológicas determinantes das perspectivas de evolução do setor.

A primeira é o esforço tecnológico para aumentar a eficiência das tecnologias de geração tradicionais; a segunda é o esforço para desenvolver tecnologias de geração que utilizem combustíveis renováveis: eólica, fotovoltaica, geotérmica e biomassa; e a terceira é o esforço tecnológico para melhorar a eficiência energética dos bens de consumo que utilizam a eletricidade.

Note-se que esse conjunto de esforços abarca dois movimentos importantes, que têm conseqüências sobre a base de recursos naturais.

O primeiro deles implica na melhoria da eficiência ao longo de toda a cadeia energética da eletricidade, da produção à utilização, que tem como resultado a redução das pressões sobre essa base de recursos; a partir de uma mediação mais eficiente entre recursos e usos proporcionada pelo avanço esperado no ator principal dessa mediação que é a tecnologia.

O segundo movimento implica na incorporação de novos recursos renováveis à base de recursos naturais, mediante o avanço tecnológico na geração de energia elétrica que os utiliza como insumo, permitindo, justamente, a ampliação dessa base.

Os mesmos fatores indutores do esforço tecnológico – redução de dependência e do impacto ambiental – no setor elé­trico estão presentes no setor de biocombustíveis.

Esses fatores geram três questões-chave de natureza tecnológica.

A primeira delas diz respeito à evolução da melhoria da produtividade das matérias-primas (convencionais – cana -; e não-convencionais – celulose, algas e novas plantas -); a segunda tem a ver com a evolução das inovações no processo de conversão (conversão celulósica); a terceira diz respeito à obtenção de novos produtos energéticos (combustíveis) e não-energéticos (produtos químicos).

Luis Nassif

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