Especial Argentina: a novela continua

Jornal GGN – Os céus definitivamente não são de brigadeiro na Argentina, nas últimas semanas. Mesmo classificada, a seleção teve atuações que deixaram a desejar nos gramados da Copa do Mundo no Brasil – o que muitos acreditam ser também um problema para a presidente Cristina Kirchner, já que o bom futebol não apareceu, nem maquiou os problemas que o país enfrenta – até a Organização Mundial do Comércio tratou de alertar os vizinhos sobre a inconstitucionalidade de suas medidas restritivas para produtos importados. Não está sendo fácil.

Uma crise que, por enquanto, parece durar bem mais que os 90 minutos de uma partida de futebol – e que nem os craques da seleção seriam capazes de salvar, faltando pouco para o fim da prorrogação. A falta técnica cometida pelo país virou reversão e, agora, o plano tático será pressionar um juiz norte-americano para que ele permita o pagamento de cupons aos detentores da dívida reestruturada do país como condição para negociar com os credores que os estão processando em busca do pagamento total. Palavras do chefe de gabinete e quase um zagueiro no gol de Cristina, Jorge Capitanitch.
 
“A situação merece atenção, já que os problemas econômicos ganham ramificações políticas. Não à toa, a presidente tem buscado até ajuda ‘divina’ para chegar a um consenso: sua recente aproximação com o Papa Francisco é prova disso, talvez para que não volte a tomar decisões abruptas”, ironiza Alberto Alzueta, presidente da Câmara de Comércio Argentino-Brasileira de São Paulo.

 
Empurrada para escanteio
 
A terceira maior economia da América Latina foi particamente levada à beira de um novo calote por uma série de decisões de tribunais norte-americanos nas últimas duas semanas, o que forçou o país a negociar com investidores que não aceitaram reestruturar seus títulos após a crise de dívida de 2002.
 
Até houve uma tentativa de pagamento de cupom da dívida reestruturada na segunda-feira (30) e o anúncio do depósito de quase US$ 1 bilhão foi feito pelo ministro da Economia, Axel Kicillof. No entanto, o juiz Thomas Griesa, responsável pelo caso em Nova York – onde corre a sentença – bloqueou as transferências e foi categórico: é preciso primeiro chegar a um acordo com os credores antes que novos pagamentos possam ser realizados. Um balde de água fria na solução encontrada por Kirchner, que agora terá até o fim de julho para firmar um acordo ou dar um novo calote soberano, 12 anos depois.
 
A maioria dos investidores do país – mais de 90% deles – aceitaram receber menos de 30 centavos para cada dólar nas restruturações de 2005 e 2010. E os demais, que recusaram os termos, dizem que estão dispostos a negociar. O governo argentino está enviando uma equipe a Nova York na semana que vem para determinar as condições de negociação por meio de um mediador selecionado pelos tribunais. De acordo com Capitanich, as condições que serão apresentadas aos interessados alcançam o objetivo de respeitar a reestruturação da dívida em quase sua totalidade, bem como gera condições justas para os credores.
 
A recepção pouco calorosa para os argentinos – prevista para o próximo dia 7 de julho – estará a cargo do advogado Daniel Pollack, nomeado pela Corte, e também pelo fundo NML Capital, um dos 18 credores beneficados pela decisão do juiz Griesa, e que foram autorizados a cobrar 100% da dívida em default desde 2001 – um valor equivalente a US$ 1,33 bilhão. Estes fundos – chamados de “abutres” pela presidente Cristina e que também incluem nomes como Aurelius e Blue Angel -, representam apenas 7% do total de credores envolvidos, o que sugere uma negociação mais específica.
 
“No caso da Argentina, sempre fica a dúvida de quais serão os próximos passos, embora esse problema atual já tenha mais de uma década, era uma bomba-relógio que agora estourou. Ela já vinha pagando a maioria dos credores, mas o cenário retrocedeu com a decisão da Justiça e, pior que isso, o país se encontra agora numa saia justa, já que se realmente negociar com os reclamantes por um preço acima do que vinha pagando aos que aceitaram os centavos de dólar lá atrás, o problema pode ser ainda maior”, analisa Nilton Belz, Sócio líder da área de Corporate Finance, Transactions & Management da PKFNK.
 
“Cabe à Argentina ter o jogo de cintura ideal para fazer isso. O país ainda passa por uma situação instável, dentro de um cenário internacional ainda pior. Ela acaba tendo que atuar dentro de uma celeuma que pode prejudicar ainda mais sua situação econômica, que já não é das mais confortáveis. É delicado lidar com questões da dívida externa. Sob pressão então, fica ainda mais perigoso.”
 
Para Alzueta, da Câmara de Comércio Argentino, os próximos meses serão difíceis, mas o país conseguirá contornar a situação. “Nenhum credor deseja ver seu cliente arrasado. Deve haver uma contraoferta, aquele tradicional período de ‘empurrar com a barriga’, até a chegada de próximo gestor. Que, seja quem for, certamente não repetirá isso que está aí, porque o povo já demonstrou que deseja mudanças políticas no país”, desabafa.
 
Na agenda da semana da novela argentina, Kicillof já está na capital americana para discutir a batalha legal do país contra os fundos especulativos com chanceleres da Organização de Estados Americanos (OEA). “Não acredito que o pagamento dos holdouts seja uma solução economicamente viável para o país. No entanto, será uma solução difícil e delicada, que exigirá muita negociação, durante as próximas semanas. Já não negociar efetivamente pode custar caro demais à Argentina, acho que nem seja interessante para eles, até pelas questões de relações internacionais”, completa Sam Aguirre, Diretor de Finanças Corporativas e Reestruturação Societária, da FTI Consulting do Brasil.
 
Redação

7 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. “Além de atuações…

    … que deixaram a desejar nos gramados da Copa do Mundo no Brasil – o que muitos acreditam ser também um problema para a presidente Cristina Kirchner,…

    Pela primeira vez, desde 1990 – 24 anos atrás – a Argentina chega às quartas de final numa copa do mundo… e a Julianinha escreve uma bobagem dessas… se ela entende de economia e política como de futebol, melhor mudar de profisão ou, melhor, negociar seu passe ao tal de “pig”.

  2. carrma! nada de alarmismo

    carrma! nada de alarmismo catastrófico…

    vai não respingar a crise deles em nosso divã

    na novela agora los hermanos têm a proteção divina:

    papa francisco brandirá édito interdito excomunhão de bens 

    para cima de los abutres do juiz gringo do capitalismo apatricida

  3. A DIPLOMACIA GEOPOLÍTICA E A ENGENHARIA FINANCEIRA

    Apesar do desempenho da seleção argentina nesta Copa da Fifa, ao contrário do que diz a notícia acima, não estar nada mal, fato é que a Argentina é a bola da vez para o terrorismo financeiro dos especuladores internacionais.

    Não apenas porque escroques inescrupulosos adoram lucrar com a jogatina da manipulação dos títulos soberanos de nações fragilizadas, mas também porque tais manipulações, aliadas a outras formas de pressão econômica, funcionam como armas pesadas no confronto geopolítico que bombardeia de formas camufladas os paises não alinhados ao capitalismo selvagem.

    E a Argentina está na alça de mira do grande capital também por haver, recentemente, mostrado ao mundo uma fórmula eficaz de combater a manipulação política praticada pelo poder econômico através dos grandes conglomerados de mídia.

    Por todas estas razões, é hora de manifestar solidariedade ao governo argentino e de tentar ajudar de alguma forma a defesa da soberania de los hermanos del plata em sua opção por uma política independente e progressista.

    Além disso tudo, é essencial perceber que a ameaça de derrocada da economia Argentina é prejudicial ao Brasil, que tem no país vizinho um importante parceiro comercial, maior importador de manufaturados nacionais.

    Portanto, a coisa mais sensata a ser feita pelo governo brasileiro é construir uma solução de financiamento para a caução integral da dívida da Argentina com os fundos abutres.

    Isto poderia ser feito com recursos das reservas brasileiras, através do BNDES, e teria a finalidade primordial de garantir a evolução positiva das exportações do Brasil para o país vizinho. Tal financiamento pode ser garantido por cotas de importação de trigo argentino, e pode vir a permitir um equacionamento de médio prazo capaz de alavancar o incremento do comércio binacional.

    Por outro lado, tal caução criaria a possibilidade da Argentina prosseguir a negociação com os famigerados fundos abutres de maneira menos desfavorável, sem a corda no pescoço imposta pela ‘justiça’ norte-americana.

    Onde estão os estadistas e os diplomatas, grandes conhecedores da ciência econômica e da lógica que deve reger as estratégias geopolíticas?

    1. É de se alegrar o cântico dos

      É de se alegrar o cântico dos argentinos aqui pelas ruas de São Paulo…

       “Brasil, diga-me o que se sente tendo em casa o seu papai. Te juro que, ainda que passem os anos, nunca vamos nos esquecer… Que o Diego (Maradona) te driblou, que Canni(gia) te ‘ferrou’, que estás chorando desde a Itália até hoje. O Messi você vai ver, a Copa irá nos trazer, Maradona é maior que Pelé.”

      E ainda quer que eu seja solidário com essa corja…

      1. A FALTA DE ARGUMENTOS E AS PIADAS SEM GRAÇA

        Fica bem clara a falta de argumentos. Parece coisa de menino pequeno ou de quem não sabe o que significa geopolítica. O padrão dos debates neste site não costuma limitar-se a piadas sem graça e afirmações incongruentes.

    2. Companheiro, a Argentina é um

      Companheiro, a Argentina é um fracasso sob qualquer óptica.

      Politicamente o governo é autoritário e populista, avesso a críticas, usando de todos os recursos, legais ou não, para calar a imprensa. Chegou a invadir jornais com a Receita, visando intimidar os jornalistas. Apoiou a criação de milícias, que depois não conseguiu controlar.

      Economicamente, é pária internacional, um exemplo acabado de como um governo sério não pode comportar-se. Não tem credibilidade para nada, os próprios cidadãos argentinos não abrem conta em banco, com medo de confisco. Lá quem produz é sobretaxado, o que desincentiva a produção e provoca desemprego. Nos negócios com o Brasil, impõe sua vontade e fala grosso, com leniência deste nosso fraquíssimo governo (justiça seja feita, no governo FHC também houve pouca pressão do Brasil).

      É claro que não interessa ao Brasil a derrocada argentina, mas dá vergonha de apoiar governos irresponsáveis como o argentino. O melhor para o Brasil é fazer de conta que apoia e ir caindo fora do Mercosul nos moldes em que está. Devemos procurar acordos com países que nos tratem com respeito e boa-fé.

  4. é. a coisa num tá boa não.

    em 2010 e 2011 estava tudo melhor, ou um pouco mais estável. e por aqui,dizem, que o próximo ano será ainda mais complicado, porque é normal em véspera e em ano de elições presidenciais, que o país tenha acentuado seus seus altos(medios, diria eu) e baixos. tenho escutado isso.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador