Ex-diretor da Petrobras fala de custos de obra em Abreu e Lima

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Petrobras aprovou refinaria fazendo conta de padeiro

Entrevista Paulo Roberto Costa

Da Folha de São Paulo

Mario Cesar Carvalho

 

Investigado por suspeita de corrupção, ex-diretor diz que estatal lançou sua obra mais cara sem calcular custos direito e sem projeto

 

A Petrobras decidiu construir a refinaria Abreu e Lima (PE), sua obra mais cara, sem ter um projeto definido e fazendo uma “conta de padeiro” para estimar o custo inicial, disse o ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa, 60.

Investigado por suspeita de corrupção e envolvimento com um bilionário esquema de lavagem de dinheiro, ele recebeu a Folha na semana passada para sua primeira entrevista desde que foi libertado, após 59 dias de prisão.

Com custo inicial estimado em US$ 2,5 bilhões (R$ 5,6 bilhões), Abreu e Lima deverá custar US$ 18,5 bilhões (R$ 41,5 bilhões) quando ficar pronta, em 2015. “A Petrobras errou”, disse Costa. “Divulgou o valor de US$ 2,5 bilhões sem saber quanto a refinaria iria custar, sem um projeto.”

O ex-diretor afirmou que não houve superfaturamento nas obras, apesar dos indícios apontados pelo TCU (Tribunal de Contas da União). Réu na Justiça junto com o doleiro Alberto Youssef, Costa disse que nunca fez remessas ilegais ao exterior.

Folha – Como o sr. conheceu Alberto Youssef?

Paulo Roberto Costa – Eu o conheci por volta de 2007. Ele assessorava o deputado José Janene [do PP, que morreu em 2010]. Eu sabia que ele tinha participação numa rede de hotéis e numa empresa de turismo. Às vezes nos encontrávamos com o deputado.

 

Sabia que ele era doleiro?

Soube que ele teve problemas no passado, mas nunca entrei em detalhes sobre isso. Ele me procurou em 2013 para prestar consultoria. Ele queria comprar a Ecoglobal, que estava prestes a assinar um contrato com a Petrobras.

Youssef falou: “Não entendo nada de petróleo. Queria que você analisasse esse negócio para mim”. Acertamos a consultoria em R$ 300 mil e, em maio de 2013, um ano e um mês depois de eu ter saído da Petrobras, ele me pagou com um carro, o Land Rover Evoque. Minha participação em lavagem de dinheiro e remessa para o exterior é zero.

 

A PF diz que o sr. ajudou a Ecoglobal a obter um contrato de R$ 444 milhões com a Petrobras e queria comprar 75% da empresa por R$ 18 milhões.

De maneira alguma. A imprensa tem uma interpretação errônea. Contrato não quer dizer lucro. Você pode conseguir um contrato de R$ 400 milhões e ter um prejuízo de R$ 50 milhões. Jamais tive contato com ninguém da Petrobras sobre a Ecoglobal.

 

Por que a PF achou papéis da empresa que o sr. tem no Panamá no escritório do doleiro?

Eu tinha na Costa Global contratos com uma empresa italiana e a coreana Samsung. Elas não podiam me pagar no Brasil. Criei uma empresa offshore, mas não deu tempo de abrir conta. Nenhum desses negócios foi concretizado.

 

A PF suspeita que uma empresa de navios que trabalha para a Petrobras pagou R$ 6,25 milhões como propina ao sr.

Essa acusação não tem sentido. Não recebi esse dinheiro. A Maersk é a maior empresa de navegação do mundo e, por volta de 1986, 1987, passou a atuar no Brasil no transporte de gasolina e gás. Ela veio por meio de um amigo, o [Wanderley] Gandra. É corretora, como a de imóveis. O broker [corretor] faz a intermediação e negocia a comissão. A empresa não tem nada a ver comigo.

 

Quando a obra da refinaria Abreu e Lima foi anunciada, em 2005, o custo era de US$ 2,5 bilhões, mas o preço final deve chegar a US$ 18,5 bilhões. O que explica essa diferença?

Não teve superfaturamento. Como você avalia o custo de uma refinaria? A Petrobras pegou uma refinaria no golfo do México e falou: quanto custa o preço por barril para construir uma refinaria lá? Custa US$ 15 mil, US$ 20 mil. Se fosse US$ 15 mil por barril, e Abreu e Lima produzisse 200 mil barris, a obra ficaria em US$ 3 bilhões. Essa é uma conta de padeiro. As condições aqui são muito diferentes das do golfo do México. A Petrobras errou. Divulgou o valor de US$ 2,5 bilhões sem saber quanto a refinaria iria custar, sem ter um projeto.

 

Que papel o sr. tinha na obra?

Eu era dono do orçamento, mas não mandava na obra. Os contratos têm de ser aprovados pela diretoria colegiada: o presidente e sete diretores. Quem levava esses documentos é o diretor da área de serviços, não a minha diretoria.

 

O TCU apontou vários superfaturamentos na refinaria.

Vou dar um exemplo. Na terraplanagem, o TCU se baseia em dados do Dnit, que faz estradas onde circulam caminhões de 30 toneladas. Abreu e Lima tem tanques de petróleo que pesam 100 mil toneladas [mais de 3.000 vezes a mais]. Concluindo: acompanhei Abreu e Lima, afinal a refinaria viria para mim, e não houve superfaturamento. Você pode falar que o preço da obra em dólar por barril saiu mais caro. Saiu. Mas é preciso fazer refinaria porque nenhum país do mundo deve depender de refino de petróleo [no exterior].

 

Qual será o preço do barril em relação ao custo da obra?

É só dividir o preço da refinaria [US$ 18,5 bilhões] pela produção de 230 mil barris [dá US$ 80 mil por barril]. Não dá para comparar com o golfo do México, porque lá tem polo petroquímico, com empresas que produzem energia e água para a refinaria. Aqui a Petrobras tem de cuidar da energia, da água. Comparar Abreu e Lima e o golfo do México é como comparar laranja com banana.

 

O sr. sabe por que fornecedores da refinaria fizeram depósitos para empresas de Youssef? É propina, como diz a PF?

Não sei dizer.

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

4 Comentários

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  1. O cara não é fácil. Está na

    O cara não é fácil. Está na área há muito tempo e vem se preparando para as investigações.

    Pegando como exemplo o jornalista despreparado da Falha, a turma do amendoim do Congresso vai levar um baile dele na CPI, com as perguntas retóricas de sempre.

    Tudo isto em época de Copa e eleições.

    A CPMI já era…

  2. O “cara”, conhece  e como

    O “cara”, conhece  e como todo  profissional da Petrobras entende do seu negócio. Petrobras é alvo favorito da direita desde antes de nascer. Os interesses contrariados com sua criação,foram sentença de morte   de Getúlio,e instabilidade  que levou Jango à deposição. Atualmente ,depois  do pré-sal,os interesses externos  monitorados    internamente  pelas viúvas  da UDN,ensadeceram. Chegaram a ponto, sem sutilezas, de reativar a   Quarta Frota,adormecida desde  o final de  Segunda Guerra. Os  americanos não admitem  o descontrole dentro de sua área de influência,ou seja, o mundo. Vide  o que armaram para Lula com o Irã. Ignoram sanções  da ONU e a proporia ONU.

    E outros organismos  internacionais. Devem e não pagam  por sanções do   dumping do algodão.Eméritos  escroques,empregam todos os meios para obter vantagens que os mantenha na dianteira. Por   esta razão espionam amigos e inimigos,grandes e pequenos. E a paz , é mau negócio.

    Portanto ,Petrobras é mais uma vez  alvo dos interesses,dos mesmos, que inspiraram a Petrobrax…

  3. Mas isso não é novidade. Como

    Mas isso não é novidade. Como sabemos e o Nassif já mencionou várias vezes, o FHC desmontou a máquina do Estado Brasileiro e depois de MUITOS anos sem obras, os nossos engenheiros estavam totalmente desprerados para tocar qualquer obra minimamente complexa.  E ainda estão mas estão aprendendo na marra.

    1. Isso sem levar em conta que o

      Isso sem levar em conta que o ensino da matemática piorou tando desde de FHC que tem engenheiro que não sabe fazer conta com fraçoes.   E ainda bem que com as contas erradas se começa a obra  por parecer ficar  bem barato  e depois que começar se acha um jeito de terminar, como a Norte-Sul, transposição do São Francisto, Belo Monte, etc.

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