Guerra: como as Forças Armadas estão atuando contra o coronavírus

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Militares colocaram plano de guerra em prática, que atravessou o país levando equipamentos de saúde até a mobilização da indústria estratégica nacional

Jornal GGN – Uma Operação de “guerra contra o Covid-19”. Foi assim que as próprias Forças Armadas denominaram um plano de atuação que traz estratégias de missões de guerra e combate para lidar com o coronavírus. Desde o início do mês, os militares já estão atuando, de forma conjunta e mobilizada, Exército, Marinha e Aeronáutica, e entre todos os setores militares – em terreno, inteligência, logística e industrial -, de norte a sul do país nas consequências sanitárias do vírus.

As portarias publicadas na segunda quinzena de março pelo Ministério da Defesa, a nº 1.232/GM-MD (aqui) e n° 1.272 (aqui), com as diretrizes ministeriais de Planejamento nº 6 e de Execução nº 07, regulamentaram o uso das Forças Armadas. A primeira delas, publicada no dia 18 de março, determinou que os comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, os Comandos Conjuntos, o chefe do Estado-Maior Conjunto e setores do Ministério da Defesa estivessem à disposição, oferecendo as estruturas necessárias para a Operação.

Dois dias depois, era dada a ordem para iniciar a execução do plano “Operação COVID-19”, para mitigar os efeitos do vírus no Brasil, em “estreita coordenação com os órgãos de saúde e de Segurança Pública competentes”:

Desde então, não somente toda a logística da força aérea, que traçou rotas de envio de doses de vacinas, respiradores hospitalares e materiais de saúde a locais remotos do país; Exército e Marinha se mobilizando na desinfecção de áreas de grandes aglomerações das cidades e levantando postos de triagem com oficiais da reserva; como também os setores de inteligência militar vêm produzindo documentos para prever os riscos econômicos (leia em reportagem do GGN aqui) e, mais recentemente, houve a convocação de todas as empresas privadas da área de defesa  para iniciar a produção de equipamentos de saúde.

Para a divisão de tarefas, foram criados 10 Comandos Conjuntos, divididos por regiões, e com sede em Brasília, e um comando da aeronáutica para fazer frente às necessidades e diversas atuações, que inicialmente foram focalizadas nas unidades de defesa biológica, nuclear, química e radiológica, além de triagens e campanhas de conscientização e controles fronteiriços.

As demandas de atenção à pandemia partem das prefeituras das cidades e dos governos estaduais, além de órgãos públicos que detectam essas necessidades. Mas os militares estão capacitados para instalar até mesmo hospitais de campanha, que são hospitais provisórios montados em operações de guerra e humanitárias e adaptados às condições dos locais.

Foi o que ocorreu em Boa Vista, Roraíma, aonde as Forças Armadas criaram uma área de proteção e cuidados para atender brasileiros e venezuelanos com suspeita de coronavírus. O espaço foi montado com já 80 leitos, podendo ser ampliado para até 1.200 pacientes com Covid-19 que necessitem.

Estrutura inter
Montagem de leitos em Boa Vista/RR – Foto Divulgação

A aeronave VC-99C da FAB (Força Aérea Brasileira), traçando uma rota especial de Brasília ao Macapá (Amapá), passando por Palmas (Tocantins) e Belo Horizonte, com vacinas e respiradores, foi apenas um dos voos que saíram da Base Aérea de Brasília, em pronta-resposta ao enfrentamento do novo coronavírus ao longo do Brasil.

Um Hércules do Primeiro Esquadrão e um C-130 também já haviam cruzado o país, na semana passada, levando toneladas de álcool em gel e equipamentos de proteção de saúde.

Funcionários com vestimentas de proteção sanitária espalhados pelos aeroportos, fazendo a descontaminação desde o início do mês, são nada menos que militares da Marinha, mais especificamente do Grupamento Operativo de Defesa Nuclear, Biológica, Química e Radiológica (GptOpDefNBQR) de Comandos Navais, convocados por comandos conjuntos das Forças Armadas a realizar estes procedimentos.

Militares da Marinha do Brasil durante ação de descontaminação no Aeroporto Internacional de Campo Grande-MS – Foto: Divulgação

Outra das frentes de atuação dos militares “na guerra contra o Covid-19” é um grupo mais silencioso, o Centro de Coordenação de Logística e Mobilização (CCLM), responsável por traçar o plano de cada um dos comandos militares, para garantir os transportes de militares e materiais, por terra e mar, de acordo com as necessidades locais de equipamentos sanitários nas mais diversas regiões do Brasil.

“É nesse contexto, operando 24 horas por dia, que a complexa logística viabiliza e sustenta o emprego de meios de tamanha magnitude, espalhados em todo o País”, informou o Coronel Fontes, da comunicação. Em missões, esse grupo geralmente é o que determina a logística militar das missões de guerra ou de paz (leia na doutrina militar aqui e aqui).

Mais recentemente, o Centro de Operações Conjuntas da Operação Covid-19 fez uma convocação dirigida às empresas privadas do Brasil. A Defesa começou a compilar empresas nacionais estratégicas, que, a partir de agora, devem dirigir o potencial industrial na fabricação de equipamentos de saúde necessários, como máscaras e respiradores.

“COVID-19, Produtos ao Alcance de Todos” é o nome do programa ativado pelo Ministério da Defesa. As empresas brasileiras listadas (aqui) irão produzir 5 categorias de produtos, incluindo álcool, aparelhos, camas, aventais, capas, produtos químicos, desinfetantes, cateteres, tubos, kits para teste rápido, termômetros digitais, entre outras necessidades que vão desde a distribuição a hospitais, a cidades com menos estrutura sanitária, até aos estabelecimentos de saúde temporários que serão instalados no país para as internações pelo coronavírus.

Com a mesma prontidão de atuações em situação de guerra, o Centro de Operações Conjuntas da Operação Covid-19 conseguiu mobilizar mais de 25 mil militares, 792 viaturas, 214 barracas, 60 embarcações e 5 aeronaves nos quatro primeiros dias do mês. Em uma semana, já era ativadas frentes de inteligência e a logística avançou para a parceria com as empresas estratégicas privadas de todo o Brasil.

“Com 8,5 mil Km², uma dimensão continental, o País possui distâncias internas que exigem muito do poder de mobilização das Forças. Só para se ter noção do esforço logístico, a distância terrestre entre Boa Vista (RR) e Porto Alegre (RS) (5.231,3 km) é maior que entre Lisboa/Portugal e Moscou/Rússia (4.576,8 km). Somam-se a isso as diferentes condições climáticas, a orografia, a vegetação, a hidrografia etc, óbices naturais que tornam complexos o planejamento e a execução do transporte, da manutenção e do suprimento”, exemplificou o coronel Fontes.

“Desde o início da Operação Covid-19, a logística das Forças Armadas Brasileiras tem demonstrado sua capacidade em viabilizar o trabalho dos militares em todo o território nacional”, completou.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

7 Comentários

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  1. Segundo a Global Firepower as Forças Armadas possuem 327 Mil homens ,e 3,4 Milhões na Reserva . Apenas 25 mil nesta Guerra , que envolve 210 Milhões de brasileiros . Adivinhem quem vencerá !!!

  2. Não assisto tv aberta ha anos. Portanto me informo pelos blogs . Confesso que não tinha tido informação maior sobre o que as forças armadas estariam executando nessa crise sanitária. Se será suficiente ou não o tempo dirá. Pelo menos não terão muito tempo para fazer o que mais adoram fazer. Planejar desestabilizações.

  3. Muito provavelmente o número de médicos militares da China é maior que o total de médicos brasileiros. A China os direcionou ao coronavírus desde o início.

  4. Dá para desconfiar dessa movimentação das ffaa…..Até ontem, eram inimigos dos brasileiros, unha e carne com os bolsossauros&cia…..

  5. Hoje o Executivo brasileiro é comandado por um governo militar cujo chefe é Bolsonaro. Os estragos são estupendos em todas as áreas. Até mesmo no enfrentamento da pandemia. Atraso proposital no pagamento da ajuda financeira, incapacidade de abastecer com EPIs e equipamentos os hospitais etc. Mas o mais grave: orientação conflitante – isolamento ou não ? Cloroquina cura mesmo ?
    Mas esperar o quê de militares entreguistas ?

  6. Sim,precisamos lutar contra o Covid,este inimigo q está matando quase sempre os velhinhos e q muitos q morrem por aí por outras causas diagnosticam Covid,fora as “subnotificações”e “supernotificações”(qq gripe é Covid)ainda bem q existe a vacina do Influenza e se disserem q ela baixa a imunidade principalmente dos velhinhos e muitos morrem de Covid, não acreditem,principalmente se foi em regiões de 5g,nossas ffaa estão firmemente pensando no bem estar do nosso povo e não em aproveitar a oportunidade para pôr em prática outros projetos, td é somente especulação!!!

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