Incerteza no Federal Reserve, por J.B. DeLong

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Autoridades parecem equilibrar interesse público com objetivos poucos explícitos

Jornal GGN – O Federal Reserve (Banco Central dos Estados Unidos) está cada vez mais perto de perder sua credibilidade, e por razões consideradas plausíveis. Recentemente, o ex-presidente do escritório do Federal Reserve de Minneapolis, Narayana Kocherlakota, argumentou recentemente que as autoridades do colegiado parecem equilibrar seu objetivo declarado de manter a inflação próxima de 2% no longo prazo com uma série de outras considerações, estas pouco explícitas.

“Em declarações públicas, os funcionários deram algumas dicas sobre o que essas outras considerações podem ser”, diz J. Bradford DeLong, professor de economia da Universidade da Califórnia, em artigo publicado no site Project Syndicate. “Eles parecem incluir o risco de distorção do sistema financeiro, preocupam-se que o desemprego pode atingir mínimos insustentáveis, e as preocupações de que um aumento muito rápido dos juros vai atrapalhar a recuperação econômica. Mas segue o fato de que os critérios do Fed para alterar as taxas de juros são, na maior parte, não declaradas, o que torna difícil prever como ele vai agir”.

Segundo Kocherlakota, tal incerteza não pode ser considerada saudável. “Os consumidores e as empresas não podem tomar boas decisões, se eles não têm um sentido forte o suficiente de como o banco central vai agir em qualquer situação”. O articulista não só concorda com tal receio, como denota que existe uma subestimação ao problema. “A falta de clareza sobre os objetivos econômicos do Fed é apenas um fator obscurecendo a compreensão de sua tomada de decisão”.

De acordo com DeLong, o coração do problema consiste o fato de nem os participantes financeiros no mercado e nem, ao que parece, o próprio Fed conhecerem o verdadeiro estado da economia ou a melhor forma de modelá-lo – especialmente na sequência da crise financeira de 2008. E ainda não está claro como o Fed está usando novos dados para atualizar sua análise.

“A confusão sobre quais fatores – além da estabilidade de preços e do emprego máximo possível – o Fed leva em consideração na definição da política monetária agrava o problema. Tornou-se quase impossível prever como o Fed vai responder a eventos”, diz DeLong.

Em um ambiente de volatilidade econômica como o atual, o articulista diz que “um banco central prudente deve fazer tudo o que puder para aumentar a inflação real e esperada, a fim de obter a capacidade de estabilizar a economia em qualquer direção”. Se as taxas de juros estavam acima de zero, o Fed teria alcance para criá-los ainda mais no caso de sobreaquecimento ou para reduzi-los em resposta a choques de demanda adversos. Entretanto, o Fed não parece estar atualizando seu ponto de vista da economia de uma forma compreensível – ao invés disso, ele está reduzindo sua margem de manobra para a inflação, e espera-se uma redução ainda maior.

“Em junho de 2013, o Fed estava prevendo que o crescimento anual do PIB durante o período 2013-2015 seriam em média de 2,9%, com um crescimento de longo prazo do PIB real potencial média de 2,4%. Em vez disso, o crescimento anual foi em média de 2,3% (ou 2,2%, se as estimativas para o primeiro semestre de 2016 estão corretas)”, pontua o articulista. “Tampouco houve melhor desempenho em outras medidas. O Fed previu uma taxa de inflação anual, com base no índice de gastos com consumo pessoal, de 1,9% para 2015. O número real foi de 1,5%. Da mesma forma, sua projeção média da taxa de fundos federais para 2015 foi de 1,5%. A figura é de atualmente 0,25%”.

Em linhas gerais, o período de três anos ficou abaixo das expectativas do Fed, acabou por se prolongar em 2016 – “e esse período foi seguido de um período de três anos, com início em 2007, em que o Fed maciçamente subestimou os riscos de desaceleração da inflação”, afirma DeLong.

Para o articulista, alguém poderia pensar que esse histórico poderia levar as autoridades a rever seu modelo de economia, mas a assimetria continua a ser negligenciada e considerada um fenômeno de segunda ou terceira ordem. “Ele (Federal Reserve) continua com suas perpsectivas de inflação em níveis irrealisticamente altos com base na inflação passada. E continua a contar com a taxa de desemprego como um stand-in para o estado do mercado de trabalho, em detrimento de outros indicadores”, diz DeLong. “Se o Fed quer manter a confiança dos mercados, será necessário não só para comunicar os seus principais objetivos; ele também terá que deixar claro quais considerações terão prioridade e como os funcionários responderão se as prescrições de política necessária para atender vários objetivos terão conflito um com o outro. Finalmente – e mais importante – o Fed terá que fornecer garantias de que ele está mantendo o seu modelo interno da economia”.

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

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