Krugman diz que situação brasileira está longe de crises anteriores

Jornal GGN – Paul Krugman, Nobel de Economia, diz que, apesar da “bagunça” do ponto de vista político e do retrocesso da economia brasileira em relação ao otimismo de alguns anos atrás, os fundamentos econômicos do país não estão “tão ruins quanto em episódios anteriores”.  Em entrevista para Folha de S. Paulo, Krugman também afirma que a situação fiscal não é “desesperadora” e que, mesmo alta, a taxa de câmbio não está próxima de níveis associados a crises graves. Para ele, o país sofre o impacto do preço das commodities, assimo como outros mercados emergentes. “É um problema, é desagradável e um pouco humilhante se ver nesta situação de novo. Mas as pessoas estão exagerando.”

Sobre as agências de risco, como a Standard & Poor’s, Krugman afirma que suas classificações ainda podem importar um pouco para os países emergentes, mas menos do que antes. “As agências não têm nenhuma informação que as pessoas que acompanhem os dados e os jornais não saibam.” 

O Nobel de Economia vê uma crise de superoferta na economia global, afirmando que o cenário mundial está se tornando cada vez mais parecida com o da Europa, com crescimento baixo, pressões deflacionárias e desempenho decepcionante.

Enviado por basílio

Da Folha

Economia global projeta cenário decepcionante, diz Nobel de Economia

A economia global passa por uma crise de superoferta, afirma o Nobel de Economia Paul Krugman. Em entrevista à Folha, ele diz que o cenário mundial começa a se parecer cada vez mais com o da Europa: sofre com crescimento baixo, pressões deflacionárias e desempenho decepcionante.

“Parece que estamos numa situação em que ninguém quer gastar, não há demanda suficiente”, diz. A solução para isso, segundo ele, seria um grande programa de estímulo fiscal nos países desenvolvidos, mas não há vontade política para isso.

Krugman, que vem ao país em novembro para participar de evento da empresa da área de gestão empresarial HSM, diz que a situação brasileira é “um pouco humilhante”, mas está longe da registrada em crises anteriores.

A temida perda do grau de investimento, afirma, não faria tanta diferença para o país. “Isso gera manchetes, mas o que importa mesmo é a percepção” dos agentes.

Folha – As projeções para o início de um novo ciclo de alta de juros nos EUA já foram alteradas diversas vezes e, agora, o mercado espera que a primeira elevação fique para 2016. Quando o senhor acredita que o Fed vai agir?

Paul Krugman – Eu acho que eles não vão agir até algum momento do ano que vem. O cenário necessário para a alta de juros simplesmente não existe agora. Não ficaria surpreso se levasse muito mais tempo do que todos esperam. Dada a fraqueza da economia global, pode ser que uma boa parte do ano se passe sem que haja um aumento, talvez até mais que isso.

Parte do mercado argumenta que o Fed está demorando demais e que agir logo e acabar com a expectativa é a melhor opção. O que o sr. acha?

Esse é um argumento bem tolo. As pessoas estão criando uma narrativa emocional, mas o que tem que ser considerado é: em um ano, se a economia estiver pior do que se imaginou, você vai ficar feliz de ter elevado os juros? Não, vai estar arrependido. Se a economia estiver mais forte, terá a oportunidade de elevar os juros mais à frente.

Ninguém consegue dar uma razão sólida, baseada na teoria econômica e nos dados, para elevar os juros. A verdade é que parece que esse argumento faz sentido, mas não faz nenhum.

Qual pode ser o efeito real de um aumento nos juros dos EUA para os emergentes?

O impacto será provavelmente maior do que as pessoas, ou o Fed, pensam. Mesmo que o aumento seja só de 0,25 ponto percentual, ele será um sinal de que o Fed é mais ‘hawkish’ [agressivo] do que o mercado acredita.

O que vemos agora nos mercados emergentes é uma versão menor do que o que aconteceu no fim dos anos 1990: perda de confiança dos investidores, queda no preço das commodities e problemas nos resultados financeiros corporativos, dada a quantidade substancial de dívidas atreladas ao dólar.

E uma valorização da moeda norte-americana [em decorrência do aumento dos juros] exacerbaria isso. Não acho que vá ser uma catástrofe, mas haverá aumento significativo do estresse.

O sr. já afirmou que a venda de títulos dos EUA pela China provou ser bem menos catastrófica que o previsto. Há exagero na projeção sobre os efeitos da desaceleração chinesa?

Muitas pessoas estão considerando a desaceleração, e não olhando os números –que não são tão ruins quanto pensam. A China é um consumidor importante de matérias-primas, parte importante da economia global, então, claro, problemas no país são um entrave. Mas o resto do mundo só exporta cerca de 2% do que produz para o mercado chinês. É difícil que uma desaceleração grave na China faça tanto estrago.

O cenário global tem realidades distintas hoje: EUA e Reino Unido falam em aumentar os juros, enquanto a Europa deve manter as taxas baixas por um longo tempo e os emergentes apresentam problemas. Qual é a perspectiva nos próximos cinco, dez anos?

Não acho que estejamos olhando para uma crise em larga escala. É claro que você nunca prevê algo assim, mas não espero uma nova crise como a de 2008. O que está acontecendo é que o cenário global começa a se parecer com o que o europeu tem sido há algum tempo: baixo crescimento, pressões deflacionárias e desempenho econômico bastante decepcionante.

Parece que estamos em uma situação em que ninguém quer gastar, não há demanda suficiente. Temos um problema de superoferta global. Vai levar um tempo até que consigamos determinar se isso é uma estagnação secular, mas certamente estamos olhando para um mundo com uma falta persistente de demanda adequada.

É possível resolver isso?

Sim. Se os países que têm custos de financiamento extremamente baixos fizessem um grande programa de investimentos em infraestrutura, isso ajudaria muito a saída deles –e do resto do mundo– dessa situação.

O problema é que, politicamente, não há nenhuma perspectiva disso acontecer. Se você me perguntar se os livros apresentam uma solução, eu diria que sim, um programa amplo de estímulo fiscal, temporário, ajudaria a elevar a inflação e tudo ficaria bem. Agora, se quiser saber se há alguma chance de isso acontecer nos próximos anos, a resposta é não.

A Europa está realmente se tornando o novo Japão?

Sim. A demografia na região se parece com a do Japão, a população em idade ativa está diminuindo, a demanda está baixa. Ainda não há deflação, mas a projeção para a inflação já está em metade da meta. E, em alguns aspectos, a situação na Europa é pior que no Japão, que ao menos tinha uma política fiscal que amorteceu os problemas e maior inclusão social.

O Brasil enfrenta uma crise econômica, aliada a um cenário de incerteza política que prejudica o ajuste fiscal. É uma das piores crises da história recente do país?

Apesar de o Brasil estar obviamente uma bagunça, do ponto de vista político, e mesmo que a economia tenha sofrido um retrocesso perto de todo aquele otimismo de alguns anos atrás, os fundamentos econômicos do país não chegam nem perto de estar tão ruins quanto em episódios anteriores.

A situação fiscal não é desesperadora e o país está longe de um momento em que precisaria imprimir dinheiro para pagar suas contas. A taxa de câmbio está alta, mas nada perto dos níveis que associamos a crises graves.

Houve, sim, impacto da queda nos preços das commodities, e isso é significativo. Mas o Brasil de 2015 não é a Indonésia em 1998, nem a Argentina em 2001. É um problema, é desagradável e um pouco humilhante se ver nesta situação de novo. Mas as pessoas estão exagerando.

O país perdeu o grau de investimento concedido pela agência de classificação de risco Standard & Poor’s em setembro, e um novo rebaixamento pode ocorrer até o próximo ano. Qual poderia ser o efeito disso para o Brasil?

Nos países avançados, as classificações de risco não têm efeito nenhum. Para o Brasil e outras economias emergentes, isso ainda pode importar um pouco, mas bem menos que antes. É importante dizer que não há informação nenhuma na nota, as agências não têm nenhuma informação que as pessoas que acompanhem os dados e os jornais não saibam.

Isso pode ter algum efeito porque há alguns investidores institucionais que são obrigados a considerar o rating para montar seus portfólios. Mas eu suspeito que isso não seja grande coisa na situação atual. Isso gera manchetes, mas o que importa mesmo é a percepção.

Com a economia dos EUA se recuperando e os emergentes em baixa, pode haver uma nova reorganização de poderes?

Em termos econômicos, há muito menos poder no sistema em geral. Os EUA perderam sua habilidade de ditar a política econômica de outros países há algum tempo. As instituições internacionais provavelmente vão continuar apresentando um aumento na participação dos emergentes, embora os problemas na China possam estragar isso.

Mas, quando falamos sobre as instituições econômicas globais, quanto elas realmente importam? O que o G20 ou o G7 realmente fazem? Não muito. Acho que o ponto agora não é quem vai ser o próximo chefão das relações internacionais, mas, sim, que estamos num mundo sem essa figura.

O Nobel de Economia foi concedido neste ano a Angus Deaton, cuja pesquisa recente tem como tema a desigualdade, cada vez mais presente no debate público. Essa é a questão mais importante atualmente?

Não, acho que é o meio ambiente. Nada importa tanto quanto os riscos de danos ambientais catastróficos. Mas a desigualdade está entre os três maiores problemas, tanto por causa de suas implicações diretas quanto por causa dos efeitos na política econômica. É uma coisa gigante. Resolver qualquer outro problema se torna muito mais difícil por causa da desigualdade.

Com todos os problemas enfrentados pela economia global hoje, os governos conseguem dedicar tempo para discutir a questão?

O problema é que há forças políticas poderosas que têm interesse na desigualdade, que querem aumentá-la. Se você olhar para os políticos, entre os partidos não há diferença intelectual sobre o que funciona: um partido quer reduzir os impostos para os ricos e reduzir a ajuda para os pobres e o outro quer fazer o contrário. Então a discussão é sempre sobre desigualdade.

 

Redação

4 Comentários

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  1. Os lunáticos do PT

    São tantas as correntes dentro do meu Partido que nem mesmo eu sei a qual pertenço. Daí recebo um email da Diálogo e Ação Petista (alguém sabe quem faz parte?), com o impactante título “Manifesto de Alarme”, pintando o quadro do Brasil de uma forma que nem o Merval, o Sardemberg e a Míriam Leitão juntos dariam conta de produzir. Quem escreveu o texto abaixo deveria estar em camisa de força sob forte sedação. O PT precisa de um banho de ácido muriático e palha de aço número zero.

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    MANIFESTO DE ALARME!
    Comitê Nacional do DAP • outubro de 2015View this email in your browserMANIFESTO DE ALARME!
    Comitê Nacional do DAP • 19 de outubro de 2015

    Um ano após a vitória de Dilma do PT no 2o turno, a situação é alarmante.

    O compromisso de avançar as reformas populares  – política, agrária, tributária etc. – foi deixado de lado. A situação social se deteriora com o ajuste fiscal do ministro Levy para fazer superávit primário e pagar os bancos.

    É nessas condições que o golpismo avança, na oposição oficial e na coalizão de governo.

    Juros ainda mais altos, novos cortes e restrições aos direitos. O IBGE já registra mais 1 milhão de desempregados no último ano. Os patrões aproveitam para impor reajustes salariais abaixo da inflação. Programas sociais, como Minha Casa Minha Vida e Farmácia Popular, são reduzidos. Estados e municípios estão em dificuldades.

    O país afunda na recessão. A política econômica executa pontos do programa dos derrotados. As conquistas dos anos anteriores estão sendo revertidas. A frustração derruba a popularidade da presidente.

    Dessa forma, enquanto o governo arrasta a direção e a bancada do PT no apoio ao ajuste fiscal, o partido perde a capacidade de mobilização, e a direita e os golpistas avançam. Sua meta é a “extinção” do PT, por tudo o que ele representa. Assim, o tesoureiro nacional, companheiro Vaccari, está preso – condenado a 15 anos sem provas -, sedes são incendiadas, militantes são intimidados e o fundo partidário é cortado arbitrariamente.

    A justiça, os procuradores e a Polícia Federal, com o apoio dos barões da mídia, utilizam a Operação Lava Jato- usando delações premiadas e a tortura psicológica que deviam ter acabado com a ditadura- para, a pretexto do combate à corrupção, atacar a organização dos trabalhadores e a economia nacional.

    O governo está ameaçado de impeachment pela oposição golpista (PSDB, DEM etc.) que instrumentaliza tribunais (TCU, TSE) e se apoia no presidente da Câmara, Cunha (PMDB)- contra quem o PT não deve hesitar em representar – como ainda em outros setores do PMDB de Temer e Renan, que fazem jogo duplo.

    Assim, quanto mais o governo cede, mais o “mercado” exige. A cada nota das “agências de risco”, instrumentos dos especuladores, mais correria no governo. Quanto mais espaço se dá ao PMDB e companhia no ministério, mais eles chantageiam o governo no  Congresso. É o caminho do desastre!

    “NEM MAIS UMA SEMANA”

    Sabemos da crise da capitalismo. Vemos o imperialismo e seus agentes em toda a América Latina, tentando recuperar posições e desbancar certos governos. Mas aqui, o governo não sabe, ou esqueceu, que a mobilização popular é sua melhor defesa. 13 anos de governo tentando conciliar as classes, sem mobilizar a base social, deram nisso!

    Afinal, com essa política econômica, como mobilizar o povo? “As pessoas vão defender a Dilma por quê”, perguntou o presidente da Fundação Perseu Abramo. Aos delegados do Congresso da CUT, dia 13 de outubro, Lula disse que “o país não pode ficar mais uma semana discutindo cortes”.

    Chegamos a uma situação de limite!

    Não precisa esperar a eleição de 2016 para saber o que acontecerá, se continuar assim.

    Dilma, no mesmo Congresso da CUT, convocou os trabalhadores a enfrentar o impeachment. Os 2 mil delegados não hesitaram em defender o seu mandato (“não vai ter golpe!”, gritavam), assim como exigir a mudança da política econômica de juros, cortes e superávit (“fora Levy!”, repetiam).

    É o que pensam o MST, a CMP, a UNE e o MTST, todos que elegeram Dilma no 2o. turno.

    Mas Dilma, respondeu ao presidente do PT, Rui Falcão, que “Levy fica porque concorda com a política econômica dele”. É inaceitável!

    • Ou Dilma muda a política econômica, ou o PT deve mudar sua relação com o governo dela!

    • Em defesa do povo trabalhador, está passando da hora de fazer a coisa certa!

    • “Nem mais uma semana”, Dilma tem que mudar essa política econômica e demitir Levy!

    É o que o PT, direção, bancada, governadores, prefeitos e Lula, devem dizer a Dilma, sem meias-palavras e nem para trocar seis por meia-dúzia: ou ela muda, ou muda o PT

    OUTRA POLÍTICA

    Da nossa parte, Diálogo e Ação Petista, vamos agir como o PT agia!

    Aprofundaremos a luta por outra política, com o fim do superávit primário, a derrubada dos juros e a centralização do câmbio, para proteger a economia nacional e recuperar a indústria, combater a terceirização, e avançar para a reforma política que uma Constituinte deve fazer, abrindo caminho para as reformas populares.

    Nessa via, o governo do PT encabeçado por Dilma pode ainda recuperar o apoio popular. Não é fácil, certo, mas o caminho atual é uma tragédia anunciada, como aconteceu na Grécia e outros países, onde governos de esquerda aplicaram o ajuste da direita, perderam sua base social e se perderam.

    INICIATIVAS

    Vamos continuar na rua, como o PT fazia, apoiando todas as mobilizações e greves reivindicativas, como fazemos desde a histórica jornada da CUT de 13 de março, “em defesa da Petrobras, dos Direitos e da Reforma Política”.

    Estamos atentos às campanhas salariais- como os bancários em greve contra os bancos (representados por Levy), os petroleiros e outras- que unidas podem derrotar o ajuste.

    Estamos atentos à agenda da Frente Brasil Popular para ajudar a unificar todas as frentes e setores antiimperialistas contra o golpe e por reivindicações concretas.

    Mas em 35 anos também aprendemos que é necessário, é fundamental um partido para organizar os trabalhadores.

    Por isso, apoiamos firmemente o Encontro de Sindicalistas do PT de 27/11, convocado por 31 dirigentes da CUT, com base no seu manifesto “O PT de volta para os trabalhadores” apresentado ao 5o Congresso do PT. Vamos ajudar a reerguer a força vital da continuidade do PT!

    Por fim, nos dirigimos aos petistas que, como nós, não desistem do partido dos trabalhadores para os trabalhadores:

    • compareçam às reuniões dos Grupos de Base do DAP em todo o país, vamos agir como o PT agia, vamos estruturar a nossa força, de baixo para cima, como o PT fazia.

     http://www.petista.org.br[email protected]

     

      1. Pior que não, Ivan

        Fui conferir agora há pouco, existem de fato, são um grupelho de apenas 83 pessoas, tem site e email nacionais, estão em todas as manifestações, etc. Passou da hora do Partido afastar quem atrapalha.

    1. Base militante é só para fazer barulho

      No PT, a base militante que faz manifestos “engraçadinhos” como esse só tem utilidade nos palanques. Quando chega a hora da conversa séria na sala de visitas, a base militante, tal como moleque, é mandada ir brincar lá no quintal.

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