Mendonça de Barros e o ritmo de desaceleração

Do Estadão

”Desaceleração da economia é mais lenta do que estão achando” 

Leandro Modé – O Estado de S.Paulo

O economista José Roberto Mendonça de Barros, sócio da MB Associados, diz que a economia vai inevitavelmente desacelerar em 2011, após a forte expansão do ano passado. Mas afirma que o ritmo dessa acomodação é mais lento do que muitos estimam hoje. Por isso, avalia que o governo “terá de promover outra freada na demanda” mais à frente.

A economia cresceu, em média, 3,5% em cada um dos últimos dois anos. Esses 3,5% não são menos do que muitos analistas dizem ser o potencial?

Um crescimento de 4% ao ano é o que eu acho que dá para pensar. Mas tem gente competente que afirma que, se acrescentarmos à conta as restrições no mercado de mão de obra, 4% é muito. É útil separar a questão de demanda e oferta. A demanda cresce 6%, 7% ao ano, o que parece sustentável – atende-se 4% com produção local e o resto do exterior. O que não é sustentável é a oferta crescer atrás disso. Pelos suspeitos de sempre: tributação em excesso, regulação de má qualidade, logística muito precária, energia elétrica cara para o sistema produtivo e, mais recentemente, as restrições de mão de obra. Ou seja, quando a demanda cresce mais de 6% ou 7%, as pressões inflacionárias aparecem.

AtaxA taxa de investimento fechou o ano em 18% do PIB, nível baixo se comparado com outros países. É muito baixo, se compararmos até mesmo com nossa própria história. Se comparar com a China, acima de 40%, é ridículo. Para o crescimento passar de 5%, precisaríamos de uma taxa de investimento de 25%.

Por que a taxa não avança?

Em boa parte, por causa da falta das medidas que falei antes. Investimento em infraestrutura, por exemplo, está eternamente engatinhando porque o governo não tem poupança pública para financiá-los. Poderia haver poupança privada, mas precisaríamos de uma regulação adequada. O bom exemplo é o de concessão de rodovias em São Paulo. O investimento ocorreu e as rodovias estão aí.

Analistas preveem desaceleração da economia em 2011. Mas alguns dados são contraditórios no que diz respeito ao tamanho.

Em relação aos 7,5%, claramente há uma desaceleração. Mas achamos que está um pouco mais lenta do que alguns colegas estão achando. Por duas razões. A primeira é que o ajuste fiscal é muito brando em relação ao que vai acontecer. O efetivo é um corte de R$ 13 bilhões, pouco perto do conjunto. Ou seja, o gasto público ainda vai aumentar muito neste ano. A outra é que o mercado de trabalho ainda está muito “seco”. E não há horizonte para uma mudança.

Quanto cresce o PIB este ano?

Hoje, projetamos 4,5%. Mas acho que será até um pouco menos. Mais à frente, o governo terá de promover outra freada na demanda. Hoje, se vê com certo otimismo o que foi feito até agora. Mas, a despeito disso, a inflação está esquisita. O mais grave é uma certa reindexação mental. Todo mundo pensa em aumentar tabelas tendo como referência 6% de inflação. É uma mudança de comportamento.

Há erro na estratégia do Banco Central no combate à inflação?

Venho discordando da estratégia do Banco Central desde agosto. Continuo achando que o BC coloca muita fé em uma natural queda dos preços das commodities lá fora, que eu acho que não virá – a menos que esse fato do Oriente Médio se torne uma crise global. Em segundo lugar, me parece que o BC continua minimizando os efeitos do mercado de trabalho tão forte. Em terceiro, as medidas macroprudenciais são muito lentas. Até isso bater no mercado de trabalho, quanto tempo vai levar? O BC está atento, é bom que tenha liberdade na política monetária, mas acho que o conjunto fiscal, macroprudencial e juros continua muito soft para o tamanho do problema. Isso me preocupa.

Qual a sensação dessa desaceleração para a população?

O importante para as pessoas é observar que o volume de dívida das famílias já atinge 25% da renda. Sugiro: continue a vida, mas sem o exagerado otimismo que guiou os consumidores nos últimos dois, três anos. 

Luis Nassif

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