Multinacionais nos EUA repatriam US$ 300 bi em 2014

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – Multinacionais com sede nos Estados Unidos repatriaram, em 2014, estimados US$ 300 bilhões em lucros obtidos em outros países, segundo reportagem do Valor Econômico. Os lucros repatriados ou destinados para repatriação pelas empresas americanas cresceram 7% em relação a 2013. 

Do Valor

Multinacionais nos EUA repatriam US$ 300 bi

Multinacionais com sede nos Estados Unidos repatriaram, no ano passado, estimados US$ 300 bilhões em lucros obtidos em outros países – o maior valor em quase uma década. Os recursos fazem parte de uma enorme pilha de dinheiro existente no exterior e desencadearam uma investigação minuciosa de reguladores e legisladores americanos.

Dezenas de empresas que fazem parte do índice S&P 500, como eBay Inc., VeriSign Inc. e StrykerCorp., reservam esses lucros para recomprar ações, usar em investimentos de capital, como fábricas e equipamentos, e até para financiar as operações do dia a dia.

Em dólares, os lucros repatriados ou destinados para repatriação pelas empresas americanas em 2014 cresceram 7% ante o ano anterior, segundo relatório do Credit Suisse Group AG. Foi a transferência de recursos mais agressiva desde 2005, quando elas levaram para casa US$ 359 bilhões depois de o Congresso ter autorizado uma isenção do pagamento da taxa de imposto de 35% cobrada das empresas.

O motivo para o movimento recente não é tão claro. “Ainda é um mistério”, diz Anthony Carfang, sócio da Treasury Strategies Inc., uma consultoria de Chicago. “Deve haver formas de usar o dinheiro nos EUA que garantem uma taxa maior de retorno para as companhias.”

Mesmo assim, as empresas americanas ainda estão sentadas em um recorde de US$ 2,1 trilhões de lucros obtidos no exterior, incluindo cerca de US$ 690 bilhões em dinheiro.

Algumas empresas continuam relutantes em transferir os recursos. O dólar mais valorizado corrói os lucros gerados em moedas estrangeiras. E há reivindicações em Washington para uma reforma fiscal este ano, o que incentiva algumas empresas a esperar e ver o que vai acontecer.

Há poucas razões aparentes “para as empresas trazerem dinheiro de volta nesse momento”, diz Carfang.

As empresas americanas pagam impostos sobre os lucros obtidos no exterior nos próprios países onde esses ganhos foram gerados. Mas elas não têm que pagar impostos nos EUA sobre esses lucros caso os recursos sejam “indefinidamente reinvestidos” no exterior.

Uma companhia pode, por exemplo, usar os recursos para expandir sua equipe de vendas local ou comprar uma empresa concorrente. Mas se ela levar o dinheiro de volta para os EUA ou fizer planos de fazê-lo, terá que pagar a diferença entre o imposto pago no país de origem e o imposto americano, que é geralmente mais alto. E deve registrar o imposto em seus registros contábeis. A maioria das empresas tenta encontrar formas de anular os impostos adicionais com créditos.

Embora a análise do Credit Suisse esteja limitada ao S&P 500, as empresas que não fazem parte do índice também usaram seus lucros obtidos no exterior no ano passado.

Em 2013, a fabricante de calçados Crocs Inc. reclassificou US$ 165 milhões de seu lucro fora dos EUA como elegível para repatriação em 2013. Ela registrou impostos de US$ 11,7 milhões, mas esperou um ano para levar o dinheiro para casa. A Crocs usou uma combinação de incentivos fiscais para doações para caridade e créditos vinculados a compensações em ações não utilizadas para reduzir o pagamento de impostos para a Receita Federal, segundo o diretor financeiro Jeff Lasher.

“Estamos tentando reduzir os recursos taxados a zero”, diz Lasher. A Crocs usou o dinheiro para recomprar ações e financiar suas operações americanas. As recompras se tornaram um uso popular para o dinheiro repatriado. O site de compras eBay reservou US$ 9 bilhões no ano passado para repatriar para os EUA, um total que seria usado para financiar recompras de ações ou aquisições nos próximos meses. A empresa registrou U$$ 3 bilhões em impostos americanos na transação.

O operador de registros de internet VeriSign repatriou US$ 741 milhões no ano passado e usou pelo menos parte do valor para tirar US$ 867,1 milhões em ações do mercado. A empresa compensou os impostos com créditos que ganhou quando ela liquidou uma subsidiária no ano anterior.

Outras estão usando esse dinheiro para pagar dívidas. A Teleflex Inc., uma empresa de aparelhos médicos, repatriou US$ 237,1 milhões no ano passado para pagar US$ 235 milhões que havia tomado emprestado através de uma linha de crédito bancário.

Preocupações com o custo de uma auditoria fiscal ou multa podem estar motivando algumas empresas americanas a trazer o dinheiro de volta. Analistas do Credit Suisse dizem que as empresas podem estar encontrando dificuldades para provar que seus lucros estrangeiros são investidos indefinidamente, principalmente vultosas somas simplesmente paradas em contas correntes.

O Conselho de Supervisão Contábil de Empresas de Capital Aberto, o órgão fiscalizador do governo americano, alertou recentemente que iria prestar mais atenção à maneira com que auditores tratam esses lucros originados no exterior. O Departamento do Tesouro, por sua vez, está tentando dificultar que empresas americanas comprem estrangeiras com o objetivo de realocar sua sede para um país com impostos menores.

No mês passado, o presidente Barack Obama propôs permitir que empresas repatriem seus lucros originados em subsidiárias no exterior a uma taxa de 14% de imposto e, depois, estabelecer uma taxa mínima de 19% para os lucros repatriados posteriormente. (Colaboraram Joseph Walker e John Kester)

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

12 Comentários

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      1. Necessariamente não. Se há

        Necessariamente não. Se há tratado de tributação entre dois países não há este pagamento de imposto, e estes tratados existem entre USA e Brasil, França e Brasil e outros países, ou seja, se pagou imposto de renda nos países signatários de acordos não há dupla tributação.

        1. Tratado de bitributação

          Tratado de bitributação significa COMPENSAÇÃO de parte do imposto pago em um Pais na hora de consolidar o resultado

          na matriz. De modo algum reduz o imposto onde a atividade produz o resultado-base.

          1. Depende, no ano passado li o

            Depende, no ano passado li o tratado França-Brasil e nele não me parecia haver complemento de tributação, mas tanto no caso França e USA, como o imposto de renda é mais alto que no Brasil não há tributação para quem manda para o Brasil.

  1. Grande diferença

    Num país-nação os ricos guardam o seu dinheiro no seu próprio país.

    Rico dos EUA é americano. Rico Alemão é alemão.

    Já no Brazil……520 bilhões de dólares de maus brasileiros estão depositados no exterior. 

    A luta é essa: alguns querem uma nação autônoma e outros querem continuar embaixo das assas do tio Sam.

    1. Nao é bem assim. Um numero

      Nao é bem assim. Um numero enorme de empresas americanas já abdicou da “cidadania” americana. Cidadania, sim, porque desde o final do século XIX a Suprema Corte, primeiro, depois uma emenda constitucional reconhecem á pessoa juridica corporativa o mesmo status de pessoa fisica. E agora elas estão virando “estrangeiras” operando nos EUA. Basta ver os exemplos da Apple, HP, Texaco, e centenas e centenas de outras. Até ricaços (pessoas físicas) estão utilzando esse recurso. Nas Ilhas Cayman, ali pertinho, há mais “cidadaos-empresas”, de papel, do que cidadãos-pessoas. O resultado é que o imposto de renda americano tá caindo, cada vez mais, na classe média e nos assalariados. Um problemão. Obama até já mencionou essa “falta de patriotismo” de empresas e bilionários. isso mereceria um espaço maior aqui. O tal caso dos paraisos é hoje muito, mas muito mais do que suiça. E esse caso HSBC é apenas uma cerejinha num grande bolo.

  2. As perdas internacionais do

    As perdas internacionais do Brizola.

    Vamos fazer entre os estados brasileiros quanto que é as perdas entre eles.

    Ate onde eu sei não existe estudo sobre o assunto que é um dos “tabus” da republica.

    Mas só de imposto federal perdido, o RS que não tem dinheiro para pagar os funcionários publicos e esta dando calote nos fornecedores, perde 22 bilhões por ano, para um orçamento de 40 bilhões de 2013, e ainda deve para a união..

     

     

  3. Me lembrei do “Ouro para o bem do Brasil”

    Logo depois do golpe de 64 como o Brasil estava sem reservas, os Diários e Emissoras Associadas, lançaram a campanha “Ouro para o bem do Brasil”.

    A campanha consistia das famílias brasileiras doarem joias e alianças de ouro que teoricamente serviriam para permitir que o Brasil fizesse lastro em ouro para lançar na contabilidade nacional.

    Depois de grande algazarra cívica, foram, segundo a revista Cruzeiro, recolhido 400 kg em ouro, este ouro simplesmente desapareceu e em nenhum lugar nas contas públicas apareceu a doação das famílias brasileiras, eu que tinha na época 11 anos me lembro de ter levado algumas joias pequenas quebradas e inclusive uma prótese em ouro que alguém da família tinha retirado.

    As duas notícias que tive desta campanha (não me lembro a onde li isto), que a maior parte dos 400 kg em ouro era composto de ouro de 14 quilates ou menos (ouro de pureza de 58,3%) que revelava a origem da doação do ouro, famílias de baixo poder aquisitivo que doavam suas alianças compradas de joalherias de segunda linha.

    A outra informação que tenho é que nunca foi apresentada a contabilidade disto tudo, e parece que Assis Chateaubriand deve ter dado um destino a este ouro.

    Mas o importante notar que estes 400 kg de ouro retirado principalmente das famílias de classe média, poderiam na época ser substituídos por alguns bilhões de dólares que eram guardados em bancos na Suíça e no Uruguai (na época o Uruguai era a lavanderia da América Latina).

    1. Aliança da familia

      rdmaestri, eu também levei ao banco as alianças dos meus pais. Para falar a verdade, também nunca ouvi falar sobre o resultado da campanha. Eu tinha 16 anos e meu pai assinava o estadão e  o Cruzeiro, que eu devorava. He he..

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