Na economia, um aluno bem comportado

Coluna Econômica

Desde a eleição de Fernando Collor e suas balas de prata distribuídas a torto e a direito, instituiu-se uma sabedoria política seguida à risca pelos governos seguintes: uma vez eleito, em vez de aproveitar a popularidade inicial para afrontar o estabelecido, tratar de reduzir as resistências.

Foi assim com Fernando Henrique Cardoso em 1994, Lula em 2002 e 2006 e, agora, Dilma Roussef.

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NosuNos últimos anos, a crise econômica abriu espaço para que a Fazenda arrostasse alguns dogmas do Banco Central. Foi feita uma política anticíclica (de investimentos para segurar a recessão) que acabou comprovando a pujança do mercado interno.

Os resultados foram além do crescimento do PIB. Provocou uma mudança de paradigma. O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) completou seu ciclo de aprendizado, o Minha Casa Minha Vida deu impulso adicional na construção civil, o modelo de articulação com estados, municípios e setor privado mostraram sua vitalidade. O país passou a entender de forma mais clara a importância dos investimentos em infraestrutura, inovação, educação, políticas sociais.

Enfim, depois de 30 anos, o país provou de novo o gosto do crescimento. Mas, aparentemente, vai perder o pé da situação de novo.

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Do ponto de vista macroeconômico, a situação é tranquila. É ano de arrumação da casa, depois da crise. Os principais indicadores estão sob controle:

O pior cenário previsto é de um IPCA de 5,5%, abaixo de 2010 mas ainda fora da meta. O melhor, de um IPCA de 5%. Em ambos os casos, sem as pressões de alimentos que acabam afetando os mais pobres.Em relação ao PIB, o pior cenário é de 4,5% em 2011; o melhor, de 5%.Houve críticas em relação ao corte de gastos, por ter sido feito em cima do orçamento deste ano e não do ano passado. Haverá um aumento real de despesas da ordem de 3,7%. O que importa é que, mesmo assim, será suficiente para gerar um superávit primário de 2,9% do PIB, mais que o necessário para manter constante a relação dívida/PIB.Mesmo com a deterioração dos gastos em 2010, a relação dívida/PIB caiu de 42,8% para 40,4%. No final de 2011, no pior cenário, a relação dívida/PIB estará em 38%. E em um ano de ajustes.O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) deverá incrementar substancialmente a formação bruta de capital.

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O ponto central, no entanto, é a constatação de que as chamadas medidas macroprudenciais tomadas no ano passado (aumento do compulsório, redução de prazos de financiamento) começaram a surtir efeito. Há um claro desaquecimento da economia, que ficará mais nítido a partir dos dados de fevereiro.

Mesmo assim, o mercado continua insistindo em alta na taxa Selic. O cenário mais otimista mostra uma taxa Selic de 11,5% este ano. Aparentemente só no próximo ano se pensará em reduzir taxas irracionalmente elevadas.

Ou seja, há uma responsabilidade em relação às contas públicas; e um amplo conformismo em relação ao crescimento. 

Luis Nassif

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