O alarme falso do crescimento chinês

No dia 10 de junho passado escrevi um post tratando como “escandalosa” a análise do Copom alertando para o aquecimento da economia. Dizia que, na ponta, o PIB já estava andando devagar, a 4,5% ao ano; que o aquecimento do primeiro trimestre fora pontual, devido a uma conjugação de fatores que não iria se repetir. E que, mesmo ante todas essas evidências, o BC insistia em iludir a opinião pública com alertas sobre o super-aquecimento.

Confira a matéria do Estadão e, abaixo, a advertência do Blog. 

Do Estado.com

Sinais de desaceleração da economia reduzem expectativa de aperto de juro

Demanda ainda é forte, mas a produção desacelera indicando acomodação da atividade após período de maior crescimento em 15 anos

Leandro Modé, de O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO – Depois de crescer no ritmo mais forte em 15 anos no 1.º trimestre, a economia brasileira dá vários sinais de desaceleração, que já levam o mercado financeiro a projetar uma alta menor da taxa básica de juros (Selic). Quarta-feira, por exemplo, o Banco Central (BC) informou que o Índice de Atividade Econômica, calculado pela própria instituição, ficou estável em maio em relação a abril.

No fim de junho, o BC divulgou seu Relatório de Inflação trimestral. Na avaliação de especialistas, o documento traçou cenário preocupante para a evolução dos preços, graças, principalmente, à atividade econômica aquecida. Ganhou espaço, então, a ideia de que a Selic subiria em todas as reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) até o fim do ano – julho, setembro, outubro e dezembro.

No entanto, tal percepção começa a mudar por causa de vários indicadores divulgados nos últimos dias. A sensação é de que a demanda continua forte, mas em ritmo mais lento que o do primeiro trimestre, e a produção desaquece até mais rapidamente do que se esperava. Em abril, a produção industrial caiu 0,7% em relação a março. Em maio, houve estabilidade, o que surpreendeu os especialistas.

As projeções de mercado indicam que junho também foi fraco (o número oficial ainda não saiu). A economista Thays Zara, da Rosenberg & Associados, estima uma queda de 0,2% em relação a maio. Se isso se confirmar, diz ela, será o primeiro trimestre de baixa desde o estouro da crise global, em setembro de 2008.

Estoques

A contradição entre demanda forte e produção em baixa se explica pela “equalização dos estoques”, segundo explica o economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa. “A indústria teve muitos incentivos para produzir. Com o fim desses incentivos (como o IPI menor para vários setores), há uma acomodação.”

Os juros futuros caíram na quarta, em reação ao índice divulgado pelo BC. Os contratos para outubro negociados na BM&FBovespa fecharam em 10,93% ao ano, de 10,95% terça-feira. O contrato para janeiro de 2011 recuou de 11,26% para 11,21%.

Não se trata de uma queda pontual. O contrato para janeiro de 2012 – apesar de distante, é o segundo mais negociado na bolsa – saiu de 12,06% ao ano no fim de junho para 11,76% na quarta-feira.

Na segunda-feira, o boletim Focus, síntese de uma pesquisa do BC com instituições do mercado, mostrou que a expectativa para a Selic no fim deste ano saiu de 12,13% para 12%. Hoje, a taxa está em 10,25%. A estimativa para o IPCA, o índice oficial de inflação, de 2010 também caiu: de 5,55% para 5,45%, ainda acima da meta de 4,50%.

Na semana que vem, o Copom reúne-se para decidir se altera a Selic. No mercado, há quase um consenso de que será elevada em 0,75 ponto porcentual, para 11%. A mudança de perspectiva tem se dado para a partir de julho.

O economista-chefe do banco WestLB, Roberto Padovani, acredita que a taxa vai parar nos 11%. Antes dessa sequência de indicadores mais fracos, ele apostava em uma alta adicional de 0,75 ponto em setembro. Thays, da Rosenberg, mantém a avaliação de que a taxa chegará a 11,75% ao ano em dezembro e Rosa, da Sul América, projeta 12,25% ao ano. 

Do Blog

O Copom e o crescimento chinês

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Coluna Econômica – 10/06/2010

São escandalosos os álibis utilizados pelo Banco Central para aumentar a taxa Selic, reforçados pelo mercado e endossados pela parcela mais visível do jornalismo econômico.

Atropelam a lógica, desprezam dados fundamentais de análise, tudo em nome de um jogo em que o que menos importa é o interesse nacional.

Tome-se a decisão do COPOM (Comitê de Política Monetária) de aumentar a taxa Selic. Antes, o dia foi tomado pela divulgação dos dados do PIB (Produto Interno Bruto) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estaística). No primeiro trimestre de 2010, houve uma alta de 9,5% em relação ao primeiro trimestre de 2009.

Imediatamente TVs, rádios e sites jornalísticos foram invadidos por beatos Salús prognosticando o fim do mundo. O Brasil não teria condições de suportar o “crescimento chinês”, diziam eles, como se essa alta de 9% fosse se repetir pelo ano todo. Alguns por malícia, outros por pouca familiaridade com os números, sofismavam indo contra as projeções do próprio mercado.

***

 

indicadores do PIB são relevantes quando demonstram superaquecimento da economia. Com crescimento muito rápido, a produção ocupa a capacidade instalada das fábricas. Há uma corrida por estoques que infla o preço das mercadorias, provocando inflação.

O que mede de fato o ritmo da economia não é a alta média do PIB, mas o chamado PIB na ponta – isto é, como o PIB está correndo no dia de hoje.

Explicando melhor.

A alta de 9% se referiu a um período de atividade econômica aquecida (atual) frente a um período de atividade econômica morna (ano passado). Se a economia corre a 80 km/h, por exemplo, de repente a velocidade cai para 40 km/h e, passada a crise, volta para 80 km/h, o desempenho retorna ao mesmo ritmo anterior à crise. Depois disso, poderá manter o mesmo ritmo ou aumentar um pouco. Mas na passagem dos 40 para os 80, a variação foi de 100%.

O que a nata da malandragem faz é pegar os 100% e espalhar que a economia continuará crescendo a 100%. Aí vira o tal “crescimento chinês”, utilizado para aterrorizar a população – quando era para ser comemorado.

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Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa fez algumas simulações. O mercado aposta que o PIB deste ano poderá fechar em 7%. Como o PIB é uma media das variações trimestrais, para chegar aos 7% (partindo de 9% no primeiro trimestre), a alta nos próximos trimestres deveria ser de um ponto percentual por trimestre – ou entre 4% a 4,5% ao ano.

O próprio mercado está estimando, portanto, que depois dessa alta do primeiro trimestre o PIB passe a correr a taxas razoáveis. Então, onde está o tal “crescimento chinês”?

Além disso, ao contrário do que foi veiculado por muitos desses analistas, houve um aumento nos investimentos e na poupança interna: 1,5 do PIB, graças à melhoria da arrecadação pública, da renda das famílias e dos lucros das empresas.

***

Na realidade, o risco real da economia foi apontado pelo candidato da oposição José Serra: o do crescimento, ainda que em ritmo brasileiro, pressionar mais ainda as contas externas. É esse o perigo real. 


Luis Nassif

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