O caminho de volta para a política monetária, por Lee Jong-Wha

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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O uso de uma abordagem mais agressiva é limitado

Jornal GGN – Os bancos centrais das principais economias do mundo exploraram territórios desconhecidos durante os últimos anos. O uso de uma série de ferramentas não convencionais de política monetária gerou benefícios, mas também trouxe significativas incertezas por não estabilizarem a economia global por completo. Agora, chegou a hora de voltar para terrenos mais familiares em termos de política.

Após a crise financeira de 2008, o Federal Reserve (Banco Central dos Estados Unidos) reduziu sua taxa básica de juros para quase zero e manteve a chamada flexibilização quantitativa (QE) por meio da compra de títulos de longo prazo dos setores público e privado. Em seguida, os bancos centrais da União Europeia, Japão e Reino Unido lançaram programas não convencionais semelhantes.

“O resultado foi uma grande quantidade de liquidez barata que ajudou a estabilizar o setor financeiro, restaurar as ações e os preços dos imóveis, e a aumentar a demanda doméstica. Tudo isso ajudou a limitar as consequências da crise financeira e empurre a economia global em direção à recuperação”, disse o economista Lee Jong-Wha, professor de economia e diretor do Instituto de Pesquisa Asiática da Universidade da Coreia, em artigo publicado no site Project Syndicate.

O economista ressalta, por outro lado, que a abordagem mais agressiva possui limites. “O governador (equivalente ao presidente) do Reserve Bank of India, Raghuram Rajan afirmou que, após anos de esforço, os benefícios da política monetária não convencional estão diminuindo, enquanto os custos estão aumentando”. Reconhecendo isso, o Banco Central norte-americano encerrou a flexibilização no final do ano passado e aumentou sua taxa básica de juros em 25 pontos base. O ajuste da taxa provavelmente deve continuar neste ano, embora a velocidade e extensão dos aumentos sejam incertas.

No entanto, o Banco Central Europeu e do Banco do Japão (BOJ) decidiram manter seus programas de flexibilização, e também adotaram uma política de taxa de juro negativa – o que equivale à cobrança de uma taxa de reservas bancárias – para revitalizar a demanda deprimida. Sem surpresa, os efeitos sobre a inflação e produto real têm sido limitados.

Segundo Jong-Wha, a política monetária “é um meio eficaz de controle da inflação e pode impulsionar o emprego e a produção em uma recessão”. Porém, a redução dos juros para patamares abaixo de zero tem afetado os balanços dos bancos, reduzindo sua capacidade de empréstimo – o que acaba por comprometer o investimento empresarial. “Mesmo as taxas de juros positivas em níveis baixos, se mantidas por um período prolongado, pode sair pela culatra, alimentando as bolhas de ativos e permitindo dívida das famílias e das empresas a crescer a níveis insustentáveis”.

Enquanto isso, a compra de ativos tem inflado os balanços dos principais bancos centrais de maneiras sem precedentes e, segundo o articulista, “a rebobinagem ordenada que é necessária agora vai ser muito difícil de gerir”.

Além disso, o impacto das políticas não convencionais foi de longo alcance – elas levaram as economias emergentes, que possuem ligações financeiras com os países avançados, para uma espécie de “montanha-russa” de fluxo de capital, com a inundação de recursos (que gerou superaquecimento, inflação e posteriores bolhas de preços de ativos e rápida valorização da moeda local) e, com o fim do programa nos Estados Unidos, viu-se uma retirada súbita de recursos. “As autoridades monetárias das economias emergentes têm se esforçado para lidar com esses choques, utilizando os instrumentos disponíveis, incluindo as taxas de juros, taxas de câmbio, regulamentação prudencial, e controles de capital”, explica o articulista.

Como as políticas não convencionais das economias avançadas também afetaram suas moedas e estimularam as exportações, o risco de desvalorizações competitivas é agora uma preocupação real. “Se, digamos, o Banco do Japão mudou para intervir a título definitivo nos mercados cambiais a desvalorizar o iene, as chances de que o Banco Popular da China e o Banco da Coréia optariam por moedas mais fracas aumentaria. Tudo isso seria altamente desestabilizador, em especial para as economias como o Brasil, que enfrentam uma combinação brutal de desafios internos e externos emergentes”.

Ao invés de ver esse cenário como motivação para se afastar de políticas não convencionais, existem economistas (entre eles o ex-presidente do Fed, Ben Bernanke) que defendem a manutenção de políticas não usuais pela zona do euro e o Japão, mas isso seria arriscado por comprometer a independência em longo prazo dos bancos centrais.

“A realidade é que o recurso a receitas inesperadas produzidas através da política monetária frouxa poderia ter sérias repercussões em longo prazo, especialmente se eles são usados ​​para atrasar os esforços para resolver os problemas subjacentes”, explica Lee Jong-Wha. “A estratégia de revitalização econômica do primeiro-ministro japonês Shinzo Abe – os chamados Abenomics – é um caso em questão. A estratégia deveria usar uma mistura de expansão monetária e fiscal para ajudar a facilitar as reformas estruturais. No entanto, as reformas têm enfrentado atrasos, e o aumento do emprego e produção tem sido limitado”.

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

1 Comentário

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  1. Ou seja: não há sequer um

    Ou seja: não há sequer um fator de realidade monetária com fundamentos e princípios determinados no tempo, para que a transformação das nações seja consciente, e não colonizadora; ou que, pelo menos, exista uma base para o trabalho e a criação da riqueza.

    Só enganação, e só operações especulativas sem a menor credibilidade.

    Há sim, com vistas à proximidade ao processo de privatizações dos golpistas traidores, o interesse de valorizar a situação de fonte do papel e impressora, em renovar a capacidade da construção global, para a comunidade do mercado. 

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