O dono da orla do Rio de Janeiro

Da Folha

Ex-vendedor de churrasco vira ‘dono’ da orla carioca

MARCO ANTÔNIO MARTINS

No início dos anos 60, João Barreto da Costa, 66, e a mulher, Jandyra, vendiam churrasquinho pelas ruas do centro do Rio. Cinquenta anos depois, Costa é dono de um negócio que se espalha por 45 quilômetros de praias cariocas e fatura em torno de R$ 1,8 milhão por mês.

 

João Marcello Barreto, filho do criador da empresa Orla Rio

Ele é o criador da Orla Rio, empresa que tem a concessão para explorar, até 2030, 309 quiosques instalados da praia do Leme, na zona sul, à Prainha, na zona oeste.

Administra ainda 27 postos de salvamento e vai instalar 40 caixas eletrônicos na orla do município.

Mas enfrenta investigação do Ministério Público, que considera os termos da concessão desfavoráveis.

A história de Costa com os quiosques vem de 1962, quando obteve autorização da prefeitura para explorar o comércio na então deserta praia da Barra da Tijuca.

Com os anos, transformou-se em liderança entre os quiosqueiros, mas também atraiu inimizades no meio.

Em 1992 criou a Orla Rio, espécie de associação de quiosqueiros. Centralizou a negociação com fornecedores, antes feita individualmente por comerciante.

Quando o então prefeito Luiz Paulo Conde (1997-2000) quis padronizar os pontos de venda, o empresário viu a oportunidade de um bom negócio. Representando 182 quiosqueiros, venceu em 1999 a licitação para explorar os serviços da orla.

Contra os quiosqueiros que não haviam aceitado se unir à Orla Rio, recorreu à Justiça, argumentando que havia um contrato assinado com o poder público e, portanto, os resistentes estavam irregulares. Venceu: com os anos obteve judicialmente a maioria dos quiosques. Só lhe faltam seis.

INVESTIGAÇÃO

O Ministério Público diz que o contrato com a Orla Rio pode não beneficiar o município. A Orla Rio lucrou R$ 24 milhões em 2011, valor declarado por Costa à Justiça Federal em fevereiro. Repassa mensalmente pouco mais de R$ 100 mil à prefeitura.

Costa não quis dar entrevista, mas seu filho e porta-voz, João Marcello Barreto, diz que a cidade se beneficia do acordo: é muito melhor para a prefeitura negociar com uma pessoa só.

Outro item questionado é o das reformas dos quiosques. O contrato previa prazo até 2002, prorrogado depois duas vezes. Só 32 foram renovados até hoje.

A Secretaria Municipal de Conservação e Serviços Públicos afirma que as obras entre Leme e Copacabana devem terminar até julho de 2013, mas não forneceu cópia do aditivo em que o prazo estaria estipulado. “Concluiremos até a Copa, em 2014”, garante João Marcello Barreto.

A Orla Rio diz que as obras atrasaram porque há pedras no caminho –os novos quiosques têm banheiro no subsolo– e falta licença ambiental.

Nas praias, vendedores temem que a empresa estenda seus domínios até as barracas na areia. “Uma só pessoa não pode controlar tudo”, reclama Walter Machado da Silva, 60, dono de uma barraca nas areias do Leme.

“Se chegar à areia, ele passa a ser o dono da praia”, diz o promotor Rogério Pacheco.

Se depender dos projetos do empresário, a Orla Rio vai mesmo ultrapassar os limites das praias cariocas. A empresa negocia com outras cidades do litoral brasileiro e até da Argentina para levar seu know-how a esses locais.

 

Luis Nassif

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