O etanol brasileiro

Coluna Econômica – 5/9/2006
O que o furacão Katrina tem a ver com o etanol brasileiro? Tudo. Graças aos estragos ocorridos em Nova Orleans que o governo de George W. Bush resolveu sair do isolacionismo nas questões ambientais, que levaram os Estados Unidos a não aderir ao Tratado de Kioto (que estabeleceu limites para a emissão de poluentes).

O estrago demonstrou que nenhum país do mundo está a salvo do efeito-estufa.

Com o gigante acordando, foi dada oficialmente a partida para a maior revolução econômica dos últimos cem anos, na opinião de Vilaj Vaitheeswaran, editor de Energia do “The Economist” e autor de um livro consagrado sobre o tema.

Sua palestra foi ministrada no seminário de lançamento do “Summit de Etanol” -encontro mundial sobre o tema, que ocorrerá em junho do ano que vem em São Paulo.

Não se vê possibilidade igual, diz Vilaj, desde que Thomaz Edison, há cem anos, inaugurou a iluminação elétrica, não por coincidência, na sede do J.P.Morgan.

A mudança do padrão mundial de energia trará, pela primeira vez, desde a invenção da iluminação elétrica, uma combinação inédita multi-setorial, com capital de risco encorajando a inovação, e o envolvimento de setores dos mais variados, do agronegócio à indústria petrolífera, das empresas de energia à indústria automobilística, redefinindo a geopolítica mundial das próximas décadas.

Por exemplo, a China está tentando adquirir ativos petrolíferos nos Estados Unidos. Sua estratégia em relação ao Oriente Médio é muito mais objetiva que a americana. Não está presa ao alinhamento automático com Israel, não tem restrições para fornecer tecnologia sensível de mísseis ao Irã, nem problemas com a não democracia da região. Enquanto Bush fala em “eixo do mal”, a China pensa em negócios.

No momento, há dois grandes players internacionais no campo da energia renovável, Brasil e o recém acordado Estados Unidos. A energia de milho, a única disponível atualmente nos EUA, não é competitiva. Mas há pesquisas relevantes na área de hidrogênio e, especialmente, de etanol celulósico.

Vilaj não vê muito campo para acordos binacionais entre os dois países, para desenvolvimento conjunto do mercado de biocombustíveis. Com a inestimável ajuda dos ambientalistas, será muito mais fácil entrar no mercado americano através da indústria automobilística, induzindo-a a adotar, nos Estados Unidos, os carros de motor flexível. Nos próximos dias haverá um plebiscito na Califórnia, visando aprovar leis que obriguem a indústria automobilística a adotarem combustíveis limpos.

É a criação desse mercado para automóveis que abrirá espaço para investimentos na infra-estrutura de distribuição do etanol.

Luis Nassif

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