O fim da taxa Libor como referência para os mercados; assista

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Referencial deve sair de cena em 31 de dezembro, mas não se sabe ao certo o que vai acontecer daí em diante

Jornal GGN – O uso da taxa Libor como referência nas transações internacionais se tornou praxe desde 1986, mas seu uso tem prazo para acabar: 31 de dezembro de 2021 deve marcar a substituição da taxa por outro referencial, mas os bancos voltaram a pedir nova prorrogação de prazo.

O tema foi abordado no último programa TV GGN Nova Economia, com participação dos jornalistas Luis Nassif e Sergio Leo, e dos economistas Gabriel Galípolo e João Furtado.

Em linhas gerais, Nassif afirma que a manipulação do mercado de Libor ocorrida anos atrás e que envolveu grandes bancos na Europa e nos Estados Unidos desmoralizou a Libor.

“Você já estava na pré-crise de 2008, e parte dos bancos usava a manipulação da Libor para melhorar sua performance, parte usava a manipulação da Libor para ganhar dinheiro“, afirma.

“(A taxa Libor) explodiu, e qual o problema que surge: com a grande especulação de 2008 e pós-2008, você tem os chamados mercados de derivativos – um conjunto de operações que derivam de outras operações, e que é a parte mais explosiva, mais especulativa dos mercados internacionais. E tem trilhões que se baseiam na Libor”.

Mas o que é a Libor?

Segundo Nassif, a taxa Libor é um referencial criado pelo Banco da Inglaterra visando o mercado de taxas flutuantes.

“Os bancos captam dinheiro no mercado à vista e emprestam no longo prazo. Quando se tem descasamento com a inflação, com a volatilidade de ativos, criam-se grandes riscos e tem que se ter uma taxa básica que seja despida de riscos”, diz o economista.

Por isso, a maneira encontrada foi a criação da Libor, que são informações que os bancos dão de operações em várias moedas, onde se é retirada uma média em operações com baixa taxa de risco e que é utilizada como referência.

“O ponto inicial é que existem taxas que a gente chama de taxas para empréstimo interbancário, que é quanto que um banco cobra para emprestar dinheiro para outro banco”, diz o economista Gabriel Galípolo.

“O banco vai fazendo as operações dele ali e, no final, quando precisa ter demanda de crédito ele pode captar recursos dos depósitos à vista que as pessoas fazem, das emissões de títulos como CDBs ou letras financeiras, mas ele pode recorrer ao que a gente chama do interbancário, que é esse empréstimo de um banco para outro para ele ter disponibilidade de caixa”.

Como um banco é uma empresa com bastante liquidez, a taxa acaba por ser referência de outras operações. Porém, a diferença da Libor para outras taxas é que ela é uma taxa prospectiva.

“O que acabava acontecendo é que essa associação inglesa que existe dos bancos consultava os bancos para saber qual era a taxa que eles estavam cobrando, ou que eles esperavam cobrar, em operações de diversos prazos ao emprestar recursos para um outro banco”, diz Galípolo.

“E essa taxa não era calculada simplesmente em uma moeda – geralmente a taxa de juros é um prêmio que você dá relativo à liquidez que está associado a uma moeda. Neste caso, estava em função de cinco moedas – dólar, euro, libra esterlina, franco suíço e yen”, explica.

Atualmente, cerca de US$ 220 trilhões em ativos no mercado estão referenciados na Libor, e não seria exagero afirmar que a Libor é o preço mais importante do mundo por fundamentar negócios e ativos pelo mundo.

Transição com obstáculos

De acordo com Galípolo, não se sabe ao certo se referência que irá substituir a Libor será suave ou não. “Existe uma grande preocupação do ponto dos bancos comerciais – como ela é uma taxa flutuante, sobre a possibilidade de clientes se queixarem ao ter uma taxa mais alta em função disto”, explica.

Além disso, as agências de rating têm soltado sucessivos alertas de que a informação sobre risco no mercado não seja a mais correta enquanto a Libor ainda estiver em atividade.

“Teve o caso Fannie Mae e Freddie Mac, que foram duas grandes instituições de financiamento imobiliário que sofreram muito com a crise de 2008”, lembra Galípolo.

“Elas inclusive processaram os bancos que estavam envolvidos nos escândalos pois diziam ‘olha, eu usava a libor como referência – ao vocês terem manipulado a libor eu estava com uma referência de percepção de risco equivocada, então muitos dos empréstimos que eu fiz foram feitos de maneira inadequada porque vocês me informaram o preço equivocado”.

Quanto à transição de taxas em si, o economista diz que existe muita dúvida sobre como se dará esse processo – que era para ter ocorrido antes, mas que foi adiado por conta da pandemia, e agora tem gente no mercado pedindo para que jogue tal alteração para meados de 2023.

Contudo, não existem indícios de que esse pedido será atendido. “É meio que um bug do milênio, como que a gente acorda no dia seguinte? (…) Desde 86 esta taxa é uma das principais referências para operações financeiras no mundo todo”.

Veja mais sobre esse ‘bug do milênio’ para o setor financeiro internacional na íntegra do TV GGN Nova Economia. Clique abaixo e confira!

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

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